Capítulo 66 (Parte 2)

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— Quer ver meu livro? - Sorri e ele levantou-se da cadeira e veio até mim ficando sentado do meu lado. — Eu gosto de livros, eles me fazem viajar sem que eu precise sair do lugar.
— Que incrível. - Começo a folhear o livro e não encontro nenhuma imagem, nenhuma ilustração que fosse. — Ainda me admiro muito em saber que uma criança da sua idade gosta de ler, acho lindo.

— Eu não sou criança. - Ele revida e tira o livro das minhas mãos.
— Desculpa, senhor Keylan não lhe quis ofender. - Digo com um leve sorriso no rosto. — E o que você gosta de fazer?
— Ler, e só... - Ele responde sério.
— Brincar com os amigos? - Questiono-lhe.
— Eu não tenho amigos, não posso...
— Como assim não pode? E os teus colegas de escola? - Mostro interesse.
— Eu não frequento nenhuma escola, eu tenho aulas particulares em casa. Meu pai não deixa eu ir para a escola... - Ele diz e dá de ombros.

Antes que conseguisse perguntar mais alguma coisa, ele levantou-se e saiu do escritório. Fiz o mesmo e fui atrás dele. Sentei-me numa das cadeiras ao vê-lo pegar numa bola, tirar a roupa e entrar na piscina.

Ele era bem inteligente para a idade que tinha, mas parecia tão solitário. Me distraí apreciando o Keylan brincar na água, ele era tão bonito, tão inteligente, pena que não tinha uma infância a sério como todas as crianças, como os meus irmãos. Vi ele fazer sinais para que eu fosse ter com ele, não pensei nem duas vezes e entrei na água mesmo com o vestido no corpo.

Passei a manhã a com o Keylan, comemos várias besteiras e rimos muito. Ele era muito sério, mas com o tempo começou a soltar-se. O Keylan é uma criança solitária, raramente sai de casa, não frequenta a escola e com isso ele não tem interação com crianças da idade dele ou com outras crianças, se calhar nem sabe como elas agem direito já que só esteve com os meus irmãos durante um final de semana.

— Desculpe interromper senhora Luppo, mas o senhor Luppo ligou e avisou que não vai poder comparecer para o almoço e ordenou que o menino Keylan fosse preparar-se para a aula já que em cinco minutos o professor estará aqui. - A mulher mais velha diz e logo assinto.

Teria de me contentar em almoçar sozinha já que o Cyro parecia ainda estar a dormir, o Keylan iria para a aula e o senhor meu marido havia se metido não sei onde.

Acabei de trocar de roupa e estava a descer para almoçar quando me deparei com a governanta a subir as escadas.

— Senhora Luppo, tem visitas. - Ela avisou e logo fiquei curiosa para saber quem eram já que não havia combinado nada com ninguém.

Caminhei até a sala e logo vi o Luigi que levantou para me abraçar, seguido da Georgia e o Caleb.

— Convidar os outros custa né? - O Luigi perguntou.
— Claro que não, ainda estava a me organizar. - Disse.
— Porquê que o teu cabelo está molhado? Só acordou agora? - Ele pergunta.
— Não, estava na piscina com o Keylan. - Explico.
— E ele não te afogou? - Ouvi o Cyro perguntar e outros acharam piada.
— Não fale assim dele, ele é só um menino. - Digo.
— Quando ele tentar te matar não diga que não avisei. - O Cyro volta a dizer. — Estou de saída, há uma possibilidade muito pequena de voltar ainda hoje. - Ele diz e logo desaparece.

Convido o pessoal para almoçar comigo e logo a conversa vai fluindo durante o almoço. Eu sabia que estaria em maus lençóis caso o Keid encontra-se o Caleb aqui, mas ele é meu amigo e o Keid precisa aprender a conviver com isso.
— Bem que você podia fazer o papel de boa irmã e me convidar para viver aqui também. Peça ao teu marido para me oferecer um carro também e tudo que ele quiser para agradar o cunhado. - O Luigi diz e cerro os olhos para ele.
— Luigi, o máximo que irei pedir será um emprego para você, seu folgado. - Digo isso sabendo que ele continua desocupado.
— Folgado eu? - Ele se faz de inocente.
— Sim, devia trabalhar para sustentar o teu filho. - Digo e a Georgia abana a cabeça em concordância.
— Nem com milagre esse daí funciona. - A Georgia diz.

— Eu vou dar uma olhada no Keylan e já volto. - Aviso.

Vou até a sala em que o Keylan estava com o professor e espreito para ver se tudo ia bem, eu queria tanto que ele me aceitasse que não conseguia dar espaço para ele respirar. Decido não interromper e começo a caminhar de volta ouvindo gritos, sim gritos do meu marido que estava histérico com a presença do Caleb.
— O quê que ele faz na minha casa? - A voz firme e grossa do Keid se dirigia a mim.
— Ele é meu amigo para com isso... - Tento falar.
— Teu amigo? - Ele pergunta irônico.
— Sim... por favor para, nós temos visitas... - Digo entre os dentes.
— Ok, não quero teu amigo na minha casa. - Ele diz arrogante como sempre.
— Nossa casa! - Corrijo-lhe.
— Ok, que seja! Não quero ele aqui, mostra-lhe por onde sair por favor. - Ele continua arrogante.
— El... - Quando ia falar senti a mão do Caleb sobre a minha.
— Não precisa disso Mahália, eu vou. Nos falamos depois, eu ligo para ti. - O Caleb diz sem se mostrar intimidado. — Aliás, já ia me esquecendo como é que foi o trabalho? - O Keid quase o atingiu com um soco e o Luigi segurou-lhe enquanto o Caleb deu uma gargalhada e caminhou até a porta e eu fui atrás dele para me despedir.

Quando voltei para a sala de jantar o Keid já havia subido, só estavam o Luigi e a Georgia que se olhavam ainda tensos a tentar decifrar o que se passou.
— Acho melhor nós irmos. - A Georgia diz.
— Não, não precisa. Fiquem, eu vou pedir que preparem um quarto de hóspedes para vocês passarem a noite, por favor... - Peço.
— Claro que nós ficamos. - O Luigi disse se espreguiçando.
— Dois quartos por favor. - A Georgia diz.

— Okay, eu só preciso subir e resolver algo lá em cima. - Digo.

A Georgia e o Luigi tinham um relacionamento difícil, um dia estavam bem e no outro não podiam dormir juntos. Eles eram bem confusos, não confundiam apenas a minha mente e a de quem via, confundiam até eles mesmos, coitado meu sobrinho, que ainda nem nasceu, mas já está no meio do fogo.

Tentei me manter calma enquanto subia, mas estava completamente alterada. Ele foi um estúpido, era desnecessário aquilo, ele ia ouvir e ia ouvir bem.

O Keid estava completamente estático no meio do quarto assim que cheguei. Parecia que havia levado um choque, tinha uma expressão dura no rosto.
— O que foi que você fez? - Ele referia-se ao quarto.
— Gostou? Dei o meu toque. - Sentei-me na cama meio receosa com o que poderia vir dele, mas me fiz de inocente.

— Seu toque? Quando é que eu dei permissão para isso? - Ele usava todo seu autocontrole para não gritar comigo.
— Sabe... eu não estava a fazer nada e senti que precisava fazer alguma coisa então decidi soltar a minha criatividade, já que não posso trabalhar né...

Ele respirava fundo e procurava com cuidado manter seu autocontrole para não explodir a minha cabeça e eu estava a me divertir com aquilo..

MaháliaOnde histórias criam vida. Descubra agora