Capítulo 70

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Eu não sabia como me sentir mediante aquilo tudo. Não conseguia sair do meu quarto por nada. Não conseguia me olhar no espelho, eu sentia vergonha de mim a cada passo que dava. Minha família nunca me diria que eu era a culpada, mas eu sabia que era e isso me matava, porque quanto mais as pessoas se aproximassem para me dizer que tudo ficaria bem, mais eu desabava.

A gota d'água de tudo isso foi quando o médico disse que havia sido um milagre, e se o tiro fosse alguns centímetros mais à esquerda acho que o desfecho teria sido muito pior. Eu me sentia tão mal com tudo isso, eu só queria chegar e dizer "desculpa, eu sei que errei e eu estou completamente arrependida de tudo isso", mas nem isso ele deixou, ele simplesmente me excluiu, fez como se não existisse, me proibiu de ver o Keylan ou de me aproximar dele, eu aceitei afinal, ele é o pai e sempre foi e quem sou eu? A mulher que quase matou esse ser tão pequeno, tão frágil e indefeso.

— Filha... - A porta do meu quarto foi aberta e era a minha mãe. — Você precisa levantar, vai ficar assim até quando? Precisa cuidar de você e da tua filha. - Minha mãe diz.

— Mãe, dói tanto... - Ela me abraça e tenta me confortar.
— Eu sei, mas você não pode ficar assim. - Ela diz ainda me abraçando e passando as suas mãos pelo meu rosto para evitar que as lágrimas caíssem mais. — Levanta e vai tomar banho, já está tarde e a comida está quase pronta e além disso nós precisamos conversar contigo.
— Nós? - Pergunto confusa.
— Sim, nós, a tua família. - Ela diz e logo se levanta.

Não demoro muito até fazer o mesmo. Acompanho a minha mãe até a porta, e volto para pegar uma toalha e mais algumas coisas para o banho.

Eu estava horrível, tinha os olhos inchados e meu rosto estava muito abatido. Eu só queria falar com o Keid, saber como ele estava, se tinha comido, dormido ou algo do género. Também queria muito saber do Keylan, mas eu tinha fé que logo, logo ele estaria em casa e veria o quarto dele e da irmã. Sentia um alívio enorme no peito quando imaginava o Keylan passar pela porta do quarto que partilhará com a irmã.

A água gelada caía sobre o meu corpo e deixava minha mente flutuar. Era como um calmante, me ajudava a relaxar, a pensar melhor, a ajeitar as minhas ideias.

Nunca mais tinha ouvido falar do Caleb desde que tudo acontecera, tudo o que sabia era que a polícia estava atrás dele, mas que ele ainda não havia sido encontrado e por isso o Keid designou alguns seguranças para cuidarem da minha segurança. Eu podia estar fora da mansão, mas era como se estivesse lá pois a quantidade de seguranças exagerada parecia ser a mesma. Meus pais pareceram não se incomodar, afinal, eles também estão preocupados com a minha segurança e a da Makayla.

Saí do banho e fui me vestir para poder descer e socializar com a minha família.

Assim que desci me deparei com o Miguel sentado no sofá a conversar com o meu pai. Eu não sabia o que falar, como me pronunciar perante aquilo tudo.

Me aproximei e cumprimentei educadamente como sempre fazia. Eu só conseguia pensar no facto dele ser pai do Keid e do Caleb e como ambos deixaram o pai a Deus dará. Isso me perturbava imenso, mas também o facto dele ter abandonado a família era algo que também me deixava desnorteada. Eu queria questioná-lo sobre tudo, tudo mesmo, mas que direito eu tinha? Que desculpa eu teria? Por ele ser avó da minha pequena, talvez isso funcionasse, mas e se ele não me quisesse responder? Se ele fosse igual ao filho e se recusa-se?

Decidi que iria tentar a minha sorte. Podia até não render informação nenhuma, mas eu precisava ao menos tentar e ver o que ele tinha para me dizer, que explicação ou que desculpa ela poderia me dar mesmo não sendo obrigação dele me dizer alguma coisa sobre sua vida.

MaháliaOnde histórias criam vida. Descubra agora