42. De quem eu esqueci?

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Eu chorei. Assim que dei as costas àquele estranho, as lágrimas vieram como uma torrente e a dor no meu peito parecia ainda mais insuportável. Não sei por que, não sei como, mas aquela pessoa de alguma forma me causava uma profunda tristeza, desde que o vira a primeira vez, dentro do ônibus, era a mesma sensação, a de que meu coração estava sendo cruelmente destruído, que o vazio dentro de mim me engolia. Mas não importava o quanto doesse, eu me via mais e mais atraída na direção dele. A sensação era aterradora, porque eu não queria me sentir daquela forma, por ninguém.

Ele continuava aparecendo no meu caminho e o paradoxo dos meus sentimentos se intensificava quando ele estava por perto, ao mesmo tempo que eu queria rechaça-lo, queria vê-lo novamente. Minha cabeça doía e a sensação de que eu esquecera algo importante voltava com violência, mas não importava o que eu fizesse, não conseguia me lembrar de quem ou o que eu havia esquecido, esquadrinhara cada pequeno pedaço de papel no meu quarto em busca de qualquer pista que pudesse me fazer recordar mesmo que um fragmento do que provavelmente esqueci, mas não encontrei nada. Parei por um momento, encostei-me na parede descascada do cinema e levei a mão ao peito, apertando a blusa como se pudesse fazer a dor passar, respirar começou a ficar difícil e senti minhas forças me deixando.

— Você está bem? — Uma mulher de idade aproximou-se de mim colocando a mão no meu ombro. — Tá com dor no peito, é isso?

Incapaz de pronunciar qualquer palavra e tendo a certeza de que muito provavelmente não conseguiria chegar em casa sozinha, pois via-me zonza, agitei a cabeça rezando para que a dor passasse, não era uma dor física eu sabia, não havia nada errado com meu coração de carne, era minha alma que estava fragmentada. Agoniada com a inesperada situação, a mulher pediu ajuda ao guarda de um banco que ficava ao lado do cinema, ele saiu e me pegou nos braços me levando para dentro, o ar condicionado me fez tremer levemente. O guarda prontificou-se a pegar um copo com água para mim que sorvi de uma vez gritando mentalmente para que me acalmasse, ele chamou um moto táxi na rua depois de perguntas diversas vezes se eu não queria ir ao hospital.

Cheguei em casa com a cabeça doendo horrivelmente. Àquela altura qualquer resistência que eu tivesse quanto a aceitar a ajuda do doutor Fernando fora anulada. Estava aceitando qualquer coisa que mantivesse minha cabeça no lugar. Fui direto para o quarto, minha mãe estava trabalhando assim como meu pai, fiquei tentada a tomar um remédio para aliviar a dor de cabeça, mas acabei declinando da ideia, dormir era do que eu precisava.

*

Duas semanas depois estávamos novamente na sala de espera do médico, eu havia olhado meus exames em casa, nenhum deles havia apontado qualquer anormalidade até onde consegui entender e depois de perder uma tia para o câncer eu havia me tornado muito boa em interpretar exames médicos, porém naquele caso eu não sabia se isso era uma boa coisa ou não. Ao contrário da primeira consulta, nessa não demorei tanto a ser chamada, levou exatamente quatro músicas e vinte e nove páginas de Princesa Mecânica.

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