Chapt2

62 6 0
                                    

SEGUNDA-FEIRA

Ignorância

Quem disse que o amor era a melhor coisa do mundo estava errado. 

O amor é provavelmente uma das piores coisas do mundo. Já viram o que é escolher uma pessoa no meio de sete mil milhões de pessoas e pensam: é a ti que quero dar a minha alma e talvez, mas só talvez, me foder mais tarde com essa escolha. 

Não sei como as pessoas são tão ignorantes. Mas o meu maior segredo é que eu adoro ser ignorante.

Não tens de ter alguém perfeito do teu lado.Apenas alguém que torne o nosso mundo perfeito.

O amor é como um campo cheio de flores, e você tem que escolher a flor perfeita, certo? Aquela flor linda e cheirosa... uma flor que é a melhor naquele enorme canteiro de flores. 

Amar é assim: escolher, entre muitas opções, a nossa certeza, mesmo não tendo a certeza de nada.

Como diz a famosa poetisa Florbela Espanca: "Eu quero amar, amar perdidamente!".

Não conheço outra forma de amar senão amando pedidamente. 

Ou se ama com tudo e se perde, ou se ama com nada e se encontra. 

Amar é perder-se a si mesmo e encontrar-se com a outra pessoa. Viste a responsabilidade que colocamos na outra pessoa, ou seja, viste a responsabilidade que a outra pessoa coloca em nós?

TERÇA-FEIRA

A perda. A porra da perda.

Quem gosta de perder alguém? Ninguém, suponho eu.

Eu também perdi alguém há dois anos. Ou melhor, eu perdi a presença dela. Uma das minhas melhores amigas mudou-se do país e eu fui mesmo ao fundo do poço.

Há maneiras diferentes de perder alguém, uma delas é porque se quer e a outra é porque se tem. 

Ou por vezes não se quer e por vezes não se tem, mas mesmo assim acaba-se por perder. Nem consigo imaginar o que é perder alguém perpetuadamente.

E depois há toda essa treta de "o tempo passa". O diabo é que passa. Nunca acontece. Pára de pensar nisso tantas vezes e não dói tanto, mas dói sempre. É como se parte de nós simplesmente já não existisse. 

Expliquem-me como é suposto viver de forma incompleta.

QUARTA-FEIRA

Seja você mesmo. Seja suficiente.

Quantas vezes já olharam para vocês mesmos e pensaram que não eram suficientes? Quantas vezes tentaram compreender que eram o "tudo" para alguém? 

Não é preciso mentir, eu sei que já pensou várias vezes.

Pelo menos comigo já o foi várias vezes. Acontece várias vezes por mês, várias vezes por semana e várias vezes por dia.

Sinto-me tão insuficiente para com o outro. Sinto que me colocam num nível elevado, em que não posso suportar; mas ainda assim pensam que sou suficiente. "Tu és suficiente para mim", que piada. 

Eu não sou suficiente para mim, quanto mais para ti.

"Suficiência" é uma das doenças mais comuns no mundo. Nunca se sente o melhor que a outra pessoa merece. É como um critério de personalidade: insuficiente; e o pior é que ela está presente em todos os seres humanos.

À medida que isto evolui para o medo, estamos perdidos. Sentimo-nos insuficientes, sentimo-nos substituíveis, por isso sentimo-nos frágeis. Em suma, o amor torna-nos frágeis. Será que queremos sentir-nos assim?

Claro que queremos.

O ser humano procura a fraqueza, procura o medo. Procura algo que o faça tremer e cair só para se sentir vivo. E o amor faz isso. Enfraquece-nos.

QUINTA-FEIRA

Não dependam de ninguém, só de vocês.

Aprendi a largar tudo, também, porque se não te faz bem, larga-o. Aprendi a não depender de ninguém e a viver para mim própria.

Tive uma relação, na qual o amava tanto - ainda mais do que me amava a mim mesma, sabe? - E quando ele terminou comigo, depois de um ano e meio de felicidade, eu senti-me destruída.

Pode parecer ridículo para alguém da minha idade dizer que fui destruída por causa de uma relação, porque nesta idade não conhecemos o amor... "Ah, eles são muito jovens" é o que se ouve.

Mais tarde, nesse dia, quando cheguei a casa e me deitei na cama a pensar, dei comigo a pensar: "Quem era eu, se não a namorada dele?

Vocês estão a aperceber-se da minha dor quando percebi que me ia custar viver sem ser namorada dele? Eu estava tão dependente dele. Mas depois aprendi que sou eu quem é tudo para mim e que só devia depender de mim mesma. 

Demorou algum tempo, mas aprendi a não depender de ninguém e a viver para mim mesma. E adivinhem só: estou a gostar.

SEXTA-FEIRA

Solteiro ou comprometido?

Um facto que ninguém pode negar é que, quando se está com alguém, só se repara em solteiros felizes, mas quando se é solteiro, só se repara em casais felizes. 

Afinal de contas, quando é que só vamos reparar no que temos?

Há pessoas que apoiam o lado solteiro, devido à liberdade que este lado possui, mas há muitas pessoas que apoiam o lado comprometido, devido à liberdade que este lado transmite. Então, em que ponto estamos? Que lado é melhor?

Nenhum.

Liberdade é um termo que, na minha opinião, é mal definido. Liberdade, para mim, é podermos ser quem somos, sem medo de sermos julgados.

O que eu quero dizer é: uma mulher solteira é livre, porque pode ser ela mesma, sem julgamentos correctos? E quanto à mulher comprometida? Estar numa relação consiste na aceitação mútua das partes do casal e em que elas podem ser elas próprias. 

Quando se trata de aceitação, não há julgamento; portanto, as pessoas são livres.

A única distinção óbvia entre estes dois termos é que enquanto a mulher solteira está comprometida consigo mesma, a mulher comprometida está comprometida com outra pessoa.

SÁBADO

Mais um mês. 

Mais capítulos da minha vida. 

Mais aventuras. 

Mais alegria. 

Mais tristeza. 

Mais partes de uma história. 

Um pouco mais de tudo.

Algum de vocês já se sentiu sozinho? No seu pior? No seu fundo do poço? Se sim, não se preocupem, eu também.

Quando se bate no fundo do poço, pareces um homem pobre. 

Estamos mal vestidos e descalços. 

O que mais me repugna, quando caio, é sentir aquele chão pegajoso que parece engolir os meus pezinhos e sentir, com as minhas próprias mãos, aquelas paredes oleosas que não me deixam subir mas, a certa altura, parece que sim.

Sabes o que aparece, como que por magia? Um trampolim. 

Por pior que seja a situação, você sempre "pula" sobre ela. Confie em mim.

Eu conto-te um segredo: o meu trampolim chama-se Beatrz. 

Sim, tem um nome. E se Deus quiser, nunca o vou mudar.


Simbologia do trampolim:

Um grupo de familiares, amigos e colegas que se reúnem e o ajudam a resolver a situação ou, pelo menos, a aliviá-la.

A lion girl's diaryWhere stories live. Discover now