Capítulo III

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Você deixou uma mancha
Em todos os meus dias bons
Mas sou mais forte do que você pensa
Tenho que te deixar ir

Matchbox Twenty - Disease

***

Após passar a maior parte do meu dia com camilla finalmente nos decidimos por um apartamento. Sim, isso mesmo estou indo ter uma colega de quarto aos 27 anos e é tão cômico quanto trágico.

O apartamento é perfeito, literalmente ao lado da confeitaria onde nós tomamos café todos os dias e fica a apenas duas quadras do hospital. Ele é razoavelmente grande e muito confortável, nada como a cobertura onde eu morava com Oriana.

Como se tivesse sido convocada pelo meu pensamento seu nome iluminou a tela do meu celular.

Pensei em rejeitar a ligação exatamente como fiz com todas as demais, mas minha advogada me lembrou pela manhã que tentar resolver as coisas amigavelmente sempre será a melhor saída e embora eu não acredite que ser amigável ajude quero me livrar o mais rápido possível de Oriana.

Antes que pudesse atender a porta do meu consultório foi aberta e ela entrou, logo em seu encalço veio a recepcionista desesperada.

"Está tudo bem, Claire, eu vou receber esta Senhora." Oriana bufou e virou os olhos verdes pra mim, seu cabelo ruivo estava preso em uma trança lateral e seu belo e longuilíneo corpo delineado por um vestido preto. "O que está fazendo aqui?"

"Vim visitar meu marido, não posso?" Ela torceu o nariz para meu consultório e a contragosto se sentou na cadeira de plástico. "Jamais irei entender o motivo de desperdiçar tanto tempo com esses perrapados." Franzi o cenho me perguntando como pude estar com essa mulher por tanto tempo. "Hospital público no Harlem? A maior parte destas pessoas são deliquentes e prostitutas, pelo amor de Deus."

"Fale o que quer e saia, meu tempo é destinado apenas à pessoas que realmente são merecedoras." Ela cruzou os braços e suspirou dramaticamente.

"Eu sinto muito, sei que ajudar a ralé..." Lhe dei um olhar severo. "Estas pessoas é importante pra você. Pode não acreditar, Vince, mas eu te amo."

"Tem razão, eu não acredito em você." Ela balançou a cabeça. "Olhe, Oriana, eu não tenho tempo e muito menos paciência para os seus joguinhos."

"Não são joguinhos, eu sinto sua falta." Sua mão agarrou a minha e rapidamente a puxei. "Volte pra casa, volte pra mim."

Desviei meu olhar do dela, minha mulher sempre foi mestre na arte da manipulação. Quando me fitava com os olhos verdes, a fala mansa, era como estar diante da minha doce amora. A garota que roubou meu coração antes que soubesse que isso era possível, mas sei que é uma farsa. Em algum lugar a doce e inocente garota se tornou essa mentirosa patológica.

"Ouça, eu estou disposto a ceder. A cobertura é sua, escolha o valor que quiser para a droga da pensão, mas assine os papéis." Ela se levantou e começou a rir histericamente.

"É por causa dela, não é? Acha que nunca percebi a forma como olhava pra ela?" Revirei os olhos, jamais seria capaz de entender a merda da obsessão dela pela Helena.

"A Helena não tem absolutamente nada a ver com isso." Oriana balançou a cabeça e riu.

"Não estou falando dela, estou falando da amiguinha." Recuei sem entender onde ela queria chegar. "A cada jantar comemorativo ou encontro casual, você nem mesmo disfarçava."

Quando O Amor AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora