Capítulo 9

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Luiz sentia como se tivesse uma cachoeira de suor caindo diretamente na sua mão. À todo momento, ele a passava na calça tentando mantê-la seca.

- Eles estão atrasados né? - Mariana disse.

- Sim - ele viajou seu olhar na boca dela - É... Hurum... Quer pedir alguma coisa?

- Oi? Como assim?

- Do cardápio...

- Ah! Não quero - Mariana sorriu nervosa - Otávio eu queria me desculpar pelo o que minha mãe disse mais cedo.

- Não tem problema. Mães são sempre assim.

Foi quase instantâneo. Luiz pensou na sua mãe e sentiu um nó na garganta.

Tinha perdido a mulher que segurou tudo por muitos anos. Que tinha cuidado dele com todo carinho depois que o pai tinha fugido com a amante. Ela estava grávida quando ele fez isso. Coisa que sua mãe havia contado no leito de morte.

Lembrou de todas as vezes que a mãe chegava em casa com a mão cheia de calos depois de limpar todas as casas que conseguia.

Teve uma vez que a mão dela estava coberta de calos e mesmo assim ela foi trabalhar. Voltou com as mãos completamente feridas.

Apesar disso, Luiz se sentiu feliz ao lembrar da promessa que fez quando era criança e ver que tinha cumprido.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do celular da sua mais nova modelo.

- É uma mensagem... Da Cristine. Ela disse que não vai poder vir. Ela esqueceu que hoje é o aniversário de casamento deles. O Carlos também não virá. Eles vão comemorar. - Mariana disse.

- Oh, sério? - Luiz tentou fingir surpresa - Mas que pena.

- Pois é - ela fez bico.

Luiz se lembrava dessa mania que ela tinha. Aquilo fez ele se segurar para não beija-la ali mesmo e levar um tapa no rosto.

- Bem.. Quer pedir um vinho? - ele perguntou.

- Desculpa, eu não bebo.

- Só uma taça não vai fazer mal.

- Tudo bem.

-//-

- Se eu soubesse que vinho era tão bom, tinha virado alcoólatra na adolescência. - ela disse rindo.

Mariana estava com o riso fácil, o que deixou Luiz preocupado.

Ela não era acostumada a beber e estava na quarta taça. Ele estava se sentindo culpado por ter a induzido a beber.

- Acho melhor irmos embora. - ele disse.

- Mas Por que? - ela fez bico - você só tomou uma taça e a garrafa ainda está pela metade.

- Isso que me preocupa.

- Relaxa Otávio! Aproveite a vista desses unicórnios lindos.

- Você bebeu ou se drogou? Vamos antes que pague mico.

- Mas eu quero ficar aqui com os unicórnios. - ela fez bico novamente.

- Prometo que te levo para ver pôneis. Vamos?

- Vamos!

- Onde você mora?

- No buraco do coelho perto do pote de ouro no fim do arco íris.

- Menina, você é fraca de bebida. Mas eu sei do que precisa - colocou ela no carro.

- Preciso de um guarda roupa!

- Pra que?

- Você não teve infância? - ela olhou para ele indignada. - Não sabe o que é Nárnia?

- Não.

- Nunca viu o filme?

- E-Eu não tinha TV até dois anos atrás.

- Ah, me desculpe!

- Não tem problema - ele parou em frente ao estabelecimento - chegamos mocinha.

- Que isso? E que letreiro brilhante é aquele? Onde estamos?

- Vem logo - ele disse tirando ela do carro e entrou no local - Oi Paty - saudou a mulher do balcão - o de sempre.

- A moça está bem?

- Vai ficar. Daqui a pouco. - piscou pra funcionária e ela riu. - Vem Mariana.

- Quem é aquela mulher? Não gostei dela. Sua namorada?

- Não - ele gargalhou - mais fácil ela se interessar por você. Se é que me entende.

- Oh! entendi!

- Sente-se - ele disse apontando para a cadeira e ela obedeceu.

- Aqui está. Boa noite Lu...

- Boa noite Paty - ele cortou a moça que logo saiu - Toma tudo Mari.

- Que isso? - ela disse fazendo careta olhando pro copo.

- É cappuccino forte. E isso - ele disse abrindo a caixa - é o melhor sanduíche da cidade.

- Opa! - ela exclamou já mordendo seu lanche fazendo Luiz rir.

- Sabia que isso ia te fazer ficar melhor. Talvez depois disso você consiga me dizer seu endereço.

Mariana devorou o sanduíche em poucos minutos.

- Uau, continua uma formiguinha - Luiz sussurrou.

- Disse algo?

- Não. Vamos?

- Sim.

Dessa vez, Mariana disse o endereço certo e Luiz a levou até a porta da casa.

Dona Estella parecia estar atenta a chegada da filha, pois assim que ele pisaram na varanda, ela abriu a porta.

- Filha, você demo... Ah, você está acompanhada - ela analisou o rapaz - Te conheço?

Luiz ficou com medo, Estella foi sempre atenta aos mínimos detalhes.

- Não. Mas talvez tenha me visto em alguma revista. - ele disse nervoso.

- É, talvez - ela o analisou por mais uns segundos - bom, continuem o que estavam fazendo. Podem fingir que eu nunca estive aqui. - Estella disse entrando.

- Desculpa pela minha mãe de novo - Mariana disse sem jeito.

Luiz quis dizer que não tinha problema pois já estava acostumado com o jeito indiscreto da mãe dela, mas não podia.

- Não se preocupa. Vou indo - ele disse indo dar um beijo na bochecha dela.

A garota não percebeu esse movimento do rapaz e virou para se despedir, ocasionando em um beijo no canto da boca.

- T-chau - ela disse e entrou praticamente correndo.

Luiz ficou por quase um minuto olhando para a porta e depois foi embora.

Romântico Anônimo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora