Retrato

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Esse é só mais um domingo de tédio, daqueles que eu sempre me pergunto qual o objetivo da minha vida.
Nem sei mais se quero me chamar Francisco ou Maria, a verdade é que sou um rapaz carente até demais.
Só o que sei é que vivo essa agonia noite e dia e já não posso mais.

Hoje sou só retrato. Retrato daqueles livros empilhados que não me agrada ler. Retrato daquelas palavras que guardei no meu peito e não fui capaz de te dizer, e até mesmo retrato dos cigarros amassados que não fumei para tragar e possivelmente te trazer pra cá.

Os domingos são tediosos aqui no apartamento 21 da rua Saporttun. Que nome lindo! Até me fez pensar a origem, e a origem me remeteu a outra terra. É somente assim que o tédio me libera, quando viajo dentro desse quarto vazio sem a Amanda.

A menina levou tudo que eu tinha, até mesmo as paredes coloridas. Olhe só o que ficou, os retratos, somente os retratos para me lembrar que nada sou. Ou tudo sou, ainda não decidi. Mas te olho firmemente nos olhos, narrador.

Não ocupe muito espaço, por favor, que mais tarde pretendo sair deste quarto e dessa dor. Talvez largue o apartamento 21, talvez esqueça que Amanda me esqueceu e lembre que mais uma vez é o recomeço de um amor de uma semana que morreu.

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