O guia das histórias cruzadas

Já me descobri

  Ser mulher é muito mais do que se vê, e somente uma outra mulher pode entender o que estas palavras tem a dizer.

Bianca já foi uma criança muito esperta, interativa e também diferente. Nunca quis brincar de boneca! Seu vicio era jogar bola descalço na areia quente. Se adulto vê maldade nisso, eu não vejo nada, ser criança não tem nada a ver com sexualidade, e essa história de azul para menino e rosa para menina é coisa forçada!
Não tem nenhuma relação com a vida dessa menina, porque sua vida não é feita de opção.

Pré-adolescência é complicado de se viver, geralmente aparecem espinhas no rosto e amores para ter. Mas Bianca não se apaixonou pelo rapaz mais bonito da sua turma, além do mais, nunca sequer o olhou. Bianca amava Patricia, sua amiga, e não tem mal nenhum, eu sei.
Mas aos 14 anos dizer que a amava era completamente fora de questão, guardar o amor para si, possivelmente a solução.
Solução se Patricia não sentisse o mesmo.
O beijo aconteceu, que loucura, não? Duas meninas descobrindo algo diferente do que se vê por aí, mas não iriam seguir.

Patricia casou-se aos 20, nada mais daquilo sentia, e se sentia nunca soube, pois de rapazes encheu a vida.
Bianca formou-se em química, estudou tanto e tanto fez para lutar contra o desejo que sentia por algumas mulheres que rodeavam a sua vida.

Que confusão! Namorado não queria, sexo casual tinha, mas nada mais.
Nem mais era preciso, sua vontade era uma somente, amar como amou enquanto era adolescente, mas esquecera Patricia, não se tratava mais dela, somente daquilo que entendia ser sua verdadeira identidade.

Um dia eu a vi, passou por mim na rua, apressada, sorrindo. Disse num tom destemido a quem quisesse ouvir: Já me descobri!
E foi assim que assumiu, amava a Ana, amou a Sônia e para o amor da Fernanda sorriu.

Que mal tem em ser quem tu é? Nenhum, né! Essa é uma daquelas histórias que me faz refletir sobre o que queremos ser da vida. E até respondi: quero ser nada mais do que eu, ser dono de tudo que sou, de tudo que é meu!