O que é ser incoerente?
Com 16 anos não se pode exigir muito de um rapaz, ainda mais se isso implicasse fugir e deixar seus pais.Roberta com seus 18 anos se apaixonou por Tomas. Ah! O amor jovem é a coisa mais pura, pena que o tempo desfaz. Mas sem generalizar, era suposto acontecer.
Prestes a deixar a escola, o bairro e sua casa, Roberta estava decidida demais, e queria levar consigo o seu amor. Mas duas crianças não seriam capazes de sustentar qualquer dor, sufoco ou coisa assim, seria tão provável chegar ao fim.
Insistiu e ouviu um não, era a pior coisa a se ouvir, que desespero! Roberta iria fugir, tinha uma passagem para o Rio, iria para casa de uma amiga, alguém que nunca viu. Mas Tomas gostava da escola, da sua casa e se dava bem com seu irmão. Era filho predileto, obediente e são. Porque fugir? Não fazia sentido. Mas ela foi, não o deu ouvidos, apenas disse que o menino precisava crescer para que ela voltasse.Poucas palavras, mas seria muito errado dizer que ele somente as ouviu, antes fosse! As digeriu, e alimentou pelos anos. Aquele amor não se acabava, o rapaz a esperava, queria mostrar-lhe que cresceria. Se formou, progrediu, para o exercício entrou. Marinha do Brasil!
Os pais de Roberta sempre o olhavam com orgulho, queriam ver sua filha ao lado daquele lindo futuro, a essa altura já sabiam que ela estava com alguém, havia se formado também, professora de letras, estava tão linda e tão bem.Ouvi dizer que foi impulsiva, e se pudesse voltar atrás nem teria ido, teria ficado e com seus pais vivido tudo que escolheu fazer sozinha.
Era mesmo uma boa escolha, pois a vida é sorrateira, você irá entender. Um telefonema agride os ouvidos de Roberta ao saber que muito mal seu pai está.
- Vem agora, filha! Ele não mais pode esperar.
E sem mesmo pensar no que encontraria, foi-se, a sua escolha os separou, mas ainda era sua família.A chegada era esquisita.
Quanto tempo se passou! A professora já não mais lembrava do lugar, sua vida no Rio era muito melhor, havia muito mais coisa para contar.
Naquela cidade onde nada acontecia, Tomas ao saber do seu retorno certamente a procuraria.
Foi o que fez, marcou um pequeno encontro, disse-lhe:- Sou homem como quis, volte para mim ou me deixe ir contigo. Estou pronto!
Surpresa, Roberta apenas sorriu, não o iria levar, não iria ficar.
- Ah! Meu pequeno amor de adolescência. Quando disse aquelas palavras estava somente a pensar em ti, mas vejo o quanto te fez bem me esperar. Afinal cresceu, como eu quis. Fizeste tão bem em ficar! Voltei, mas não por ti, e o que a tua mente fez foi a melhor coisa que poderia ser.
- Eu não entendo, Roberta. Disseste que para voltar eu precisava crescer.
- E crescido está, a tua mente te motivou com o objetivo de me rever, segue a sua vida agora. Sua missão foi cumprida.
É importante contar que não era uma coisa fácil para Tomas, aquele pobre rapaz na altura não encontraria sentido nas palavras que ouvira, mas resolveu aceitar. Abraçaram-se, contaram sobre suas vidas, e o pequeno encontro se prolongou. Aquele amor de adolescência por muito pouco não durou, mas a verdade é que de tudo temos lição.
O pai de Roberta melhorava, então era hora de partir, avisou seu ex amor que agora grande amigo era, um último abraço, um até logo.
Despediram-se a sorrir. Que curioso!
A mente humana é mesmo capaz de coisas e mais coisas, e mais! Capaz de nos enganar para nos fazer crescer.
Todos os feitos de um homem se devem a um sofrer.
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O guia das histórias cruzadas
PoesíaCertos dias marcados, pessoas e incertas histórias. O guia das histórias cruzadas conta sobre o que já vi de dores e amores. Vidas que se encontraram e paixões que se perderam, mas principalmente, das lições que ganhamos.