CAPÍTULO 23

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CAPÍTULO 23

No cair da noite, todos os homens da tropa liderada por Ramos estavam embarcados. Quatro helicópteros iniciaram os procedimentos para decolagem. Dentro das aeronaves, soldados espremiam-se, dividindo o exíguo espaço com mochilas e armamento.

O calor, quase sufocante, aumentava o desconforto da tropa embarcada. Úmido e acre, o cheiro das fardas suadas se misturava ao do querosene, que alimentava os pulmões dos titãs de metal em seu movimento ascendente.

Bastaram apenas alguns minutos de vôo com as portas abertas para o frescor da noite abraçar aqueles corpos suados. Trazendo prazer à tropa.

Na aeronave líder, Ramos, sentado ao lado do mecânico de vôo, ajustava os fones à sua cabeça. Aquele equipamento permitia realizar, se necessário, conversação com a tripulação das aeronaves.

Nos primeiros minutos de vôo, o tenente percebia as formas variadas encontradas por seus homens para passar o tempo embarcado. Enquanto isto, um dos militares observava, justamente, a expressão aparentemente fria desenhada no rosto de seu comandante. "Gostaria de saber o que se passa na cabeça dele antes de cada ação." Pensou o soldado Honorato olhando para o oficial, a quem tanto admirava.

Após o último reabastecimento, as aeronaves retornaram à formação inicial de vôo. Dentro de uma delas, Sarmento deslizava o fio de uma de suas facas sobre a pedra de molar, na qual vez por outra cuspia. Sob o olhar de alguns dos soldados, o vai e vem do metal sob a pedra molhada parecia mudo. O ruído da aeronave abafava qualquer outro som. Até mesmo o som do ronco inconveniente vindo do cabo Mário.

Há algum tempo, o vôo passara ao modo furtivo, causando enjôo em alguns dos patrulheiros. A navegação em baixa altitude e seguindo o serpentear de rios fazia do helicóptero um meio de transporte quase tão desagradável quanto uma embarcação navegando em mar revolto.

Para os pilotos, desafiar a tez aveludada da noite em vôos sobre a região amazônica continha boa dose de risco. Mas o vôo daquela noite era particularmente delicado.

Nos capacetes, os pilotos dispunham de sistemas de amplificação de luz residual que exibiam os contornos da vegetação e do terreno. Vez por outra, canhões de luz infravermelha, acoplados à proa das aeronaves, precisavam ser acionados. Como em um dia esverdeado surgiam, diante dos olhos dos pilotos, mais detalhes do perfil do terreno a ser percorrido.


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