CAPÍTULO 20

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CAPÍTULO 20

Na escuridão do cativeiro, o Coronel Pool ensaiava, mentalmente, a resistência aos novos interrogatórios. Sua vontade parecia volatilizar-se diante de tamanho sofrimento físico e mental.

Neto de seringueiros do Pará. Pool era filho de um geólogo americano que realizava pesquisas na Amazônia quando se encantou com uma cabocla amazônida de corpo moreno e sedutor. Da atração irresistível nasceu Pool.

Ele passara apenas seus seis primeiros meses de vida morando no Brasil. Após a morte da mãe de Pool, vítima de uma forte virose que a fez sangrar até perder a vida, seu pai decidiu levar o bebê para os EUA e criá-lo junto aos avós.

Muitos anos mais tarde, o pai de Pool tomou conhecimento de que alguns nativos da região do Rio Ebola, na África, morreram apresentando os mesmos sintomas de sua esposa.

Pool cresceu ouvindo o pai contar a história da peste do Amazonas e como ela matara sua mãe ainda jovem. Relato constantemente feito com a voz carregada de pesar e amargura. Em grande parte por que o pai jamais se perdoara pelo fato de ter recusado o auxílio de curandeiros nativos no tratamento de sua esposa.

Apesar de ter ouvido histórias sobre algumas comunidades indígenas que praticavam a manipulação de ervas nativas ditas como capazes de curar aquela enfermidade, na época, ele preferiu acreditar no poder dos medicamentos alopáticos, trazidos dos Estados Unidos. Escolha infeliz, em pouco tempo o corpo da mulher como que se derreteu, fazendo sangue brotar de suas entranhas em meio à febre.

Para o Coronel Pool as ações em andamento tinham caráter pessoal intrínseco. Ele sentia estar de volta ao seio de sua mãe, na selva amazônica. Mas não era apenas esta a mola mestra da motivação pessoal.

Pool acreditava ser justificável qualquer sacrifício, até a matança de nativos inocentes, para que o imenso reservatório de curas, representado pela floresta amazônica, passasse a ser controlado e estudado por nações melhor capacitadas. Fossem os EUA, a China ou os países da União Européia. Pois, a depender dos esforços brasileiros muitos ainda morreriam vítimas de males perfeitamente curáveis pelo feérico manancial farmacológico latente no interior da floresta amazônica.

Todo o patrimônio representado pela biodiversidade existente na Amazônia, para Pool, não deveria pertencer à vaidade de um país, mergulhado em dívidas e corrupção, mas sim à humanidade. Sendo estudado e explorado, livremente, por países como o seu. Certamente milhares de vidas seriam salvas por novos medicamentos. Milhares de vezes, a vida de sua mãe.

A porta do cativeiro é aberta, a paz se vai. Pool sabia, sua vontade de resistir não duraria muito tempo mais.


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