CAPÍTULO 42

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CAPÍTULO 42

Respiração restabelecida depois do extenso período em apnéia, aos poucos o corpo foi voltando à calma. Firmando os pés em uma pedra, e com metade do corpo fora d'água, Ramos percebeu que havia algo de diferente no refúgio salvador. Ali não chovia, o ar estava parado e um cheiro parecido com o do mofo empestava o ambiente.

Por mais alguns minutos Ramos permaneceu imóvel, precisava se recuperar do esforço.

Estava em meio a mais completa escuridão. Além de sua respiração e do tilintar da água de sua farda a retornar para o rio, era possível ouvir um som semelhante ao produzido pelo eco de gotas em cavernas. Só então Ramos notou o eco vindo em resposta a cada som produzido.

Segurando o fuzil com a mão direita, ele iniciou o deslocamento para explorar o ambiente à sua volta com outros sentidos além da audição e do olfato. Ele acreditava estar em uma espécie de câmara ou caverna. Um velho sonho recorrente lhe voltou à cabeça. Por muitas noites ele acordara aflito depois de ver-se vagando perdido por cavernas intermináveis.

Na primeira passada, a pedra lisa não ofereceu o apoio esperado. Ramos escorregou por entre as rochas caindo nas águas do mesmo poço de onde saíra momentos atrás. Na queda o fuzil bateu na testa abrindo um pequeno corte.

Molhado, novamente, Ramos não percebeu o sangue oriundo do ferimento a lavar-lhe o rosto. Refeito o trabalho de escalada até o ponto anterior, teve início nova tentativa de progressão. Desta vez engatinhando. Outro escorregão levou homem, armamento e orgulho direto para o poço.

Depois de murmurar alguns palavrões, foi reiniciada a escalada. Uma vez fora d'água, Ramos avaliou a possibilidade de usar a lanterna para apoiar o deslocamento. Sem luz a tarefa simples de caminhar alguns metros poderia seguir improdutiva por horas.

Tomada a decisão de quebrar a disciplina operacional de luzes, diante da necessidade de melhor reconhecimento do terreno, Ramos lamentou o fato de a lanterna maior haver ficado junto da mochila que precisou ser abandonada.

Remediaria a situação com a pequena lanterna existente em seu suspensório. Feita em alumínio, do tamanho do dedo indicador de um homem adulto, pintada na cor preta e equipada com diminuta lâmpada alógena, essa lanterna, apesar de liliputiana, quando acionada revelou em verdadeira grandeza os detalhes do ambiente, até então ocultos pelas sombras.

Uma imensa câmara, tendo por teto uma abóbada rochosa, foi a primeira impressão colhida. Ramos ficou admirado com a perfeição do espaço acima de sua cabeça. Não era formado por várias rochas. Parecia ter sido escavado em um único bloco de rocha.

À direita e, intrigantemente, acima do nível de sua posição atual, havia uma praia. A areia branca parecia agradecer o focar da pequena lanterna. Junto a areia, mansas águas repousavam. Mais a diante, além da praia, algo semelhante a uma caverna chamou atenção, mas não foi possível definir o que era aquela mancha escura. O foco da lanterna não alcançava muito além da praia.

Seria necessário caminhar por sobre o amontoado de pedras lisas e arredondadas para chegar a tal praia. Ela parecia ser o ponto de partida para a exploração do local.

"Quanta beleza!" Pensou ele enquanto iniciava o reconhecimento. Com o fuzil em condições de pronto emprego e a lanterna na mão esquerda, ele mal conseguia conter a euforia causada pela consciência da oportunidade de viver um momento como aquele. Assim, o aperto, vivido momentos atrás, foi totalmente esquecido. Exceção aos cuidados para não escorregar.

Ao se aproximar da praia foi possível avistar duas entradas de cavernas. Dois imensos arcos serviam de portais para os caminhos recém descobertos. As galerias formadas pela natureza impressionavam pela altura e perfeição de curvas. O teto do compartimento onde Ramos estava deveria ter uns quatro metros de altura no ápice da concavidade. Os compartimentos das cavernas eram mais baixos. Aparentavam ter uns dois metros e meio de altura.

Em toda a areia da prainha não havia nenhum rastro, ou indício outro, que comprovasse a presença de animais ou de homem na região. Também não havia vegetação alguma. Apenas silêncio, pedras, areia e água tomavam o ambiente.

Intrigado, Ramos parou, coçou a cabeça e se abaixou. Levando com a mão um pouco do líquido até sua boca. As conchas espalhadas pela areia e o exotismo local fizeram-no esperar o inesperado. Água salgada talvez! Mas o sabor revelado foi o de água mineral. Ele não achava explicação para o cenário diante dos seus olhos.

Fixando o foco da lanterna por sobre o espelho d'água, tentou iluminar o local de onde viera. A praia estava em um nível ligeiramente mais elevado do que o do buraco, por entre as pedras, pelo qual chegara ali. Ramos desejou, por um minuto, saber a resposta para aquela travessura da natureza. De certo, aquela experiência suscitaria brincadeiras maldosas se descrita, nos por menores, aos amigos. Tinha tudo para ser mais uma estória de pescador.

Alimentada a curiosidade, Ramos resolveu escolher uma das duas entradas para executar o reconhecimento seguinte. Precisava encontrar a saída, seus subordinados o aguardavam rio abaixo.


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