Capítulo XV - Língua

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Oh, eu estou tão ferrada!

- O que você está fazendo aqui?! - Elias repete, parecendo mais irritado dessa vez.

- Eu, hã... - Balbucio, me preparando para fazer a coisa mais lógica que meu cérebro permite no momento.

Rapidamente, começo a correr na direção oposta. Porém, mal dou os primeiros passos e sinto a mão dele segurando na gola de minha camisa, impedindo a fuga e me lançando para trás.

- Ai! - Reclamo, ajeitando minha roupa e colocando a mão no pescoço. - Isso doeu!

- Sério, Samantha? - Ele me encara com uma expressão fechada.

- Sério! O que você esperava? Colocou força demais enquanto me puxava! - Murmuro, sem nem me dar conta das palavras que saem de minha boca. Eu tenho que mudar o assunto urgentemente!

- Você sabe muito bem que não é disso que estou falando! - Revira os olhos, soltando um longo suspiro. - Como você chegou até aqui?

- Ruy e Rebecca me chamaram para vir, junto com Ian e Emilly. - Respondo, da forma mais neutra que consigo. Bom, não estou mentindo!

- Nossa, que coincidência vocês virem justamente para o local onde estou, junto com Nara... - Fala, ironicamente.

- O zoológico é público! - Replico, com um pouco de amargura na voz. Só o fato de lembrar que passei esse dia inteiro espionando-o com outra garota me enche de irritação. Eu não quero mais ficar com essas dúvidas e pensamentos malditos, estou farta disso!

Nem a flor que descansa na casa de Professora Mabel até hoje é especial, pois ela é exatamente igual àquela que deve estar ocupando a cabeça de Nara nesse exato momento.

- Minha vida não é pública! - Retruca, colocando as mãos em meus ombros. - Se vieram aqui me espionar, saibam que eu estou muito decepcionado. Principalmente porque vocês foram os responsáveis por esse encontro!

Encaro-o, incrédula. Essa...arrogância em sua fala! Sua roupa arrumada, sua prepotência, sua mania irritante de achar que é superior a mim...e suas investidas com Nara. A flor! Tudo isso transforma o sentimento confuso em meu peito em raiva. Muita raiva.

- Nem tudo gira ao seu redor, Elias! - Respondo, afastando as mãos dele de mim com uma certa brutalidade. Nunca tinha estado tão irada com ele até o momento. - Ao invés de simplesmente afirmar coisas aleatoriamente, que tal pensar nas outras pessoas primeiro, ao invés de ser um babaca egoísta?

Assim que acabo de cuspir todos os xingamentos que tenho na ponta da língua, ignoro sua presença e sigo em frente. Eu não sei para onde estou indo. Aliás, não tenho nenhuma ideia de como me localizar em um zoológico enorme que só visitei quando criança.

Qualquer coisa será melhor que ficar com ele.

Qualquer coisa será melhor que pensar sobre o que aconteceu hoje.

- Ei, eu esperava muitas coisas de você! - Ele apressa o passo, me alcançando rapidamente e não parecendo se esforçar para manter meu ritmo. - Mas com certeza não um ataque de raiva desse jeito no meio de um lugar público.

- Não quero que espere mais nada de mim! - Desabafo, encarando-o com angústia no olhar. Percebo que suas próprias feições mudam. Não demonstram mais ironia ou raiva, apenas surpresa, ou talvez curiosidade.

É como se nossos papéis estivessem invetidos.

- Bom, eu também esperava que você soubesse se guiar, já que parecia tão orgulhosa enquanto me deixava para trás. - Retruca, abrindo um sorriso de canto. - Esse caminho é um retorno para o local de onde saímos.

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