Capítulo XXXVI - Jogos

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Quando o sinal bate, não demoro a colocar minha mochila nas costas e caminhar com pressa para a saída. Ian me olha com curiosidade, e Nara parece querer falar comigo, então apresso o passo. Se quero chegar na casa de Lucas, tenho que retirar todas as distrações do meu caminho, principalmente aquelas que me podem fazer mudar de ideia.

Atravesso os corredores andando o mais rápido que eu consigo e tentando não parecer muito suspeita. Sou uma das primeiras ao chegar nos portões principais, e respiro aliviada ao apoiar minha mochila em meu joelho estendido. Agora, só preciso do diário.

Reviro a mochila uma vez, abrindo espaço entre os livros e cadernos, mas não o vejo. Então, abro os outros compartimentos, mas não obtenho sucesso. A aflição começa a aumentar. Eu sei que o trouxe, já que o vi pouco depois que recebi a mensagem de Lucas, mas ele não está aqui. Começo a esvaziar a mochila e, mesmo com todos os materiais espalhados pelo chão, ainda não o encontro.

Quando recoloco tudo, o pátio já está inteiramente cheio de estudantes. Rebecca está acenando para mim, e eu me seguro para não gritar. Eu perdi o diário. Ou pior, será que Lucas o pegou?

- Sam! - Ela sorri.

- Rebecca! - Eu ia responder, mas outra pessoa o faz por mim. Me viro, confusa, para encarar uma mulher alta, de pele escura e cabelo enrolado em um turbante azul no alto da cabeça.

- M-mãe? - Ela responde, seu sorriso desaparecendo tão rápido quanto surgiu.

- Eu avisei que viria te pegar. - A mãe de Rebecca lembra a garota quanto à aparência. O corpo dela também é bonito e curvilíneo, os olhos grandes e castanhos, os lábios negros. Mas a personalidade, entretanto, parece ser bem divergente. - Estou esperando há dez minutos nos portões.

- Eu sei, eu só... - Ela parece bastante desconfortável. - ...só queria me despedir dos meus amigos. Tchau, Sam.

- Sam? - A mãe dela me encarou, arregalando os olhos. Xingo Lucas de todos os nomes sujos que me vêm à cabeça. Droga, ele falou de mim para ela? - Então você é Samantha Datena, hã?

- S-sim, senhora. - Sussurro.

- Você deveria seguir o exemplo dela, Rebecca. - Arregalo os olhos. - Isso que é uma boa garota! O Senhor Lucas garantiu que ela teria juízo de te avisar a não invadir apartamentos alheios, pelo menos. Uma pena que o resto de seus amigos não tenha a mesma índole.

- Becca! - Ouço o grito de Ruy, e o pulo que ele dá para abraçar a garota, antes de parar no meio e encarar a mãe dela. - Ah, oi, tia Angélica!

- Oi, Ruy. - Ela fala, e a maneira como olha para a proximidade dele e Rebecca não é nada boa. - Também ouvi falar de você, ultimamente. Nunca imaginei que um garoto bom como você também ficaria tão rebelde! Além de ajudar em uma invasão domiciliar, usa todas as garotas que encontra! - Lucas está jogando sujo, percebo. Sobre quais outras coisas ele contou/mentiu para a mãe de Rebecca? - Eu acho que vou ter uma conversa com sua mãe, ou de qualquer uma das meninas que você fica, rapaz! Tenha juízo.

- Tia Angélica, eu... - Ele parece assustado.

- Mãe, por favor. - Rebecca interrompe, comprimindo os lábios. - Eu sei o que estou fazendo, e tenho certeza que Ruy também sabe o que faz e com quem faz.

- Só, por favor, não seja uma das bobas a cair no jogo dele, Rebecca. - Senhora Angélica parece bastante irritada com a afirmação da filha. - Eu jamais permitiria que algo do tipo acontecesse.

- Eu não vou. - Rebecca murmura, cabisbaixa. - Você não precisa vir me buscar, mãe.

Ninguém diz nada por pelo menos um minuto, mas dá para ver no rosto dos dois o quanto estão magoados. Lucas conseguiu estragar o relacionamento deles, já que tudo que ocorrerá daqui em diante terá que ser em segredo.

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