Capítulo XXIX - Inferno

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- C-conversar? - Repito, incrédula.

Cada minúscula célula de meu corpo grita incansavelmente o quanto é uma boa ideia chutá-lo nas partes baixas e correr para a liberdade da sala de aula, o que em minha mente realmente soa como um pensamento genial. Talvez, se eu for rápida o suficiente, consiga cortar caminho até a quadra, onde Elias, Ruy e o time inteiro de basquete estão treinando, e esperar que Lucas se torne a ''nova'' cesta do local.

Por isso, ergo o máximo que consigo meu joelho direito, inspiro fundo para ganhar fôlego e o encaro com um brilho de ódio no olhar. Seus olham piscam de volta, em divertimento. Ele deixa claro que sabe o que pretendo fazer, e que não liga nem um pouco para minha possível tentativa de fuga.

Assim, antes que possa executar o movimento, com meu joelho envolto no ar, ele se afasta, limpando a mão que estava sobre minha boca na camisa. Uma súbita vontade de enfiá-la em alguns locais não muito apropriados me vêm a mente, mas desvio meus pensamentos para a lógica. Por que ele me soltou tão facilmente?

- Você é como um livro infantil. - Fala, por fim, erguendo um sorriso de canto. - Tão fácil de ler que torna-se até algo bobo. Entenda, Samantha, que isso não é um conto de fadas. Eu não sou um vilão do mal que vai te sequestrar e seus amigos não são super heróis que salvarão seu dia. Apenas sou um adulto que está te propondo uma escolha, e você, uma adolescente que pode conseguir as informações extras que tanto procura, ou voltar para a aula e fingir que esta conversa nunca aconteceu.

- V-você... - Me amaldiçoo internamente por gaguejar. - ... está mentindo! Eu não preciso de informações, já te conheço muito bem!

- Me faça qualquer pergunta. - Ele suspira, revirando os olhos. - Como prova de que irei responder sinceramente.

- O que você fez com El--

- Eu quebrei uma garrafa que continha bebida alcoólica nas costas de Elias, quando ele era apenas uma criança. - Faz uma expressão arrependida, curvando seus lábios. - Uma pena. É um pecado se desperdiçar álcool nesses dias.

- Isso é-- Você é tão--

- Eu menti? - Praticamente gargalha da minha incapacidade de pronunciar frases completas.

- Não...

- E eu não pretendo começar agora. - Ele ajeita a gola da blusa branca que está vestindo, encarando o final do corredor com uma expressão séria. - Você não tem muito tempo se ainda quiser aquelas informações, e eu sei que quer. Vem comigo ou não?

- Ir pra fora do Conquista?

- Eu não sei se você está repetindo essas perguntas estúpidas apenas para me irritar, mas está funcionando. - Ele desvia o olhar para mim, com a testa franzida. - Acha mesmo que Ana e Júlia permitiram que eu entrasse aqui? Decida logo, garota.

Engulo em seco. Ao mesmo tempo em que tudo que desejo é correr, sei que na situação que estamos não há escapatória. Eu preciso de todas as informações que possa reunir sobre Lucas para bolar um plano. 

Suspiro, escolhendo a alternativa de conversar com ele. Mas, mesmo aceitando essa ideia, não sou idiota. Ir para fora do território da escola, sem ajuda e acompanhada de um desconhecido maníaco, seria algo ridículo. Não que meu plano seja muito melhor, mas me sinto mais segura se alguém souber do meu paradeiro.

- Tudo bem. - Afirmo, e ele sorri para mim, mas faço questão de retirar o celular de meu bolso e segurar em sua frente. - Mas eu vou avisar para diversas pessoas aonde estou indo, caso tente fazer alguma coisa engraçadinha. Não se engane, eu te abomino, e sempre te abominarei.

- É a primeira fala que diz hoje que me lembra sua mãe. - Seu sorriso apenas se alarga, enquanto ergue as mãos em sinal de rendição.

Estremeço por conta do comentário, e penso por dois segundos antes de clicar no contato de Rebecca. Elias vai simplesmente enlouquecer se eu disser o que estou planejando fazer, assim como Professora Mabel, Ian e as Meio-Diretoras. Só espero que ela entenda o tipo de sacrifício que estou disposta a fazer.

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