Capítulo XXIII - Enfermaria

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- Eu estava lá, do lado dele, enquanto ele choramingava sobre o quanto seu coração foi despedaçado, e até dei conselhos. Merda, eu larguei tudo para ajudar esse... - Nara respira fundo, passando a mão delicadamente por seu punho vermelho. Talvez tenha socado Emilly com força demais. - ...esse babaca. E, quando Sofia publica algo, quem é a primeira de quem ele desconfia? Eu! Sempre sou eu!

- Eu sinto muito, Nara. - Suspiro, encarando-a com pena. Seus cabelos loiros estão amarrados desajeitadamente em um rabo de cavalo, e sua expressão é confusa, oscilando entre raiva e frustração. Mas, mesmo fragilizada, ela se mostra forte.

- Você não tem que sentir, Sam. Não culpo você. - Ela ri ironicamente. - Na verdade, realmente é culpa minha. Eu fui uma idiota ao acreditar em Ian ou em Emilly. Eles se merecem.

- Eu tenho certeza que Ian não fez por mal... - Murmuro, não sabendo se essas são as palavras certas a se dizer. Eu não quero defendê-los, mas tampouco acusá-los. Tudo apenas parece um gigante mal estendido. - E deve ter um motivo para Emilly fazer isso.

- Ah, Sam, eu sei que você quer que todos se acertem, mas não tente defendê-los. Eles erraram, e muito. - Cerra ainda mais seu punho. - Aposto que não acreditaram que eu mudei nem um por um segundo, e estavam apenas esperando uma chance para me recriminar.

- Desculpa interromper a conversa, garotas. - A enfermeira da escola, Naiara, dona de um cabelo preto curto na altura dos ombros e traços asiáticos se pronuncia. - Mas acho que essa mão precisa de gelo, pomada e uma atadura.

Nara encara a própria mão e concorda, estendo-a para que Naiara possa olhar mais de perto.

Me afasto um pouco, dando espaço para Nara ser tratada. Já se passaram duas horas desde a briga no corredor e, desde então, eu e ela estamos na enfermaria. Apesar de me sentir mal em perder aulas, principalmente quando nos aproximamos de uma nova semana de provas, não pensei em deixar seu lado por um único segundo. Algo me diz que ela precisa de mim, e muito.

- Ai! - Nara grita, enquanto a enfermeira Naiara se desculpa.

Percebendo que isto demorará, resolvo dar a volta na enfermaria. O local é simplesmente gigante, mas nem um pouco confortável. Três camas estão dispostas no local, com lençóis brancos perfeitamente arrumados. Há armários com remédios por todos os cantos, e um manequim de esqueleto humano bem no centro da sala. As duas janelas enormes, ao invés de mostrarem a luz do sol e a paisagem colegial, sempre estão trancadas por cortinas cor de creme. Não é um dos meus lugares favoritos no Conquista, já que sempre me faz arrepiar, tanto pelo ar condicionado gélido quanto pela aparência fria.

- Ai! - Ouço outro grito, mas não é proveniente de Nara. Com as sobrancelhas erguidas, sigo o som até parar próximo à terceira cama da enfermaria. Como todas possuem uma cortina branca ao redor, não consigo ver quem é, mas a voz já me dá uma ideia.

Respiro fundo. Sei que não devo entrar, mas a curiosidade é maior, e arrasto a cortina para o lado oposto, criando uma brecha que me permite ver Emilly, com um lado do rosto normal, exceto pelas lágrimas que descem, e o outro inchado e excessivamente vermelho. Do lado dela, um enfermeiro chamado Eduardo estende um pano com gelo para passar sobre o ferimento.

Entrar aqui foi uma péssima ideia. Não estou preparada para a ver, ou ao menos falar com ela. De certa forma, também me sinto traída, já que esta garota transformou uma conversa de quando Ian não estava nada bem em um inferno em nossas vidas, novamente, bem quando nosso grupo estava retomando a antiga amizade.

Porém, quando me viro para sair, ouço sua voz.

- Sam! - A voz sai rouca, como um soluço, o que deve ser consequência de seu choro excessivo.

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