Capítulo 6

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-Olá Louis! ~eu falei olhando sorridente enquanto ele entrava em minha sala.

-Oi. ~ele estava "falando" bem mais do que no começo. Poucas palavras, mas, ainda sim, ele progrediu.

-Hoje vamos testar um novo método. Já conversei com sua mãe, e se estiver tudo bem para você, nós começamos hoje mesmo!

-Qual método? ~ele perguntou hesitante.

-Hipnose. ~a palavra soou mais amedontradora em voz alta. Eu me formei em hipnose ano passado, foi descoberto que ela também ajuda em alguns casos de depressão, ansiedade, ataques de pânico, como o de Louis.

Como já esperava, ele fez uma cara de repreensão e balançou freneticamente a cabeça negando.

-Tudo bem, eu não vou, e nem posso, te forçar a nada. Mas, a hipnose não tem risco, como muitos acreditam, você estará em um estado de relaxamento, ou seja, poderá te ajudar ainda mais. Confia em mim. Vai dar certo. Sem riscos.

-Tudo bem. ~ele concordou depois de alguns minutos de silêncio.

Ele se sentou na poltrona preta no fundo da minha sala, e eu ao seu lado. Nunca estive tão nervoso com um procedimento, aliás, acho que não era o procedimento em si, e sim, o paciente que estava passando por ele.

-Relaxe Louis. Tente esvaziar sua mente de qualquer pensamento ruim, ou se possível, de qualquer pensamento.

Fiz o relaxamento inicial para saber o quanto ele era concentrado, e consegui ótimos resultados.

-Tente se lembrar de algo de sua infância. Algo que você não consegue esquecer. Um fato, um momento, um dia, qualquer coisa. ~eu falava calmamente cada palavra.

-Ele está aqui! Ele vai me ouvir! ~Louis sussurrava assustado.

-Quem? Quem vai te ouvir?

-Ele! Alguém me ajuda, por favor!
~ele dizia desesperado.

-Onde você está?

-Estou escondido em uma caixa no sótão, eu ouço seus passos. São lentos, e desiguais.

-Por que você está escondido?

-Porque estou assustado. E...ele vai me matar.

Louis começou a gritar e chorar enquanto eu o segurava na cadeira até ele abrir seus olhos e parar.

-O que aconteceu Louis? ~eu perguntei com medo da resposta.

-Ele...ele tirou minhas roupas, me machucou, eu estou com dor, muita dor e frio. Ele...m-me deixou sem comida por dois dias e abusou de mim, abusou muito. ~ele dizia em meio a soluços.

Meu Deus! Aquilo estava acabando com Louis, e comigo.

Sem pensar muito me aproximei dele e o abracei. O abracei até estar sentindo as batidas do seu coração, o abracei até sentir seu perfume entrar novamente por minhas narinas, até minha camisa estar molhada por suas lágrimas, até Louis retribuir o abraço e colar a cabeça em meu peito, até fazê-lo sentir-se protegido.

-Está tudo bem Louis. Eu estou aqui, não precisa ter medo. ~eu sussurrava enquanto acariciava seus cabelos lisos. -Eu não vou deixar que nada de ruim aconteça com você de novo. Okay?

Ficamos longos minutos naquela posição até ouvirmos batidas na porta, informando que a consulta havia acabado.
xx
Uma semana após aquela terrível consulta, eu estava determinado a descobrir quem era aquele ele das memórias de Louis.

-Louis. Lembra da nossa consulta da semana passada, que você me contou uma memória sua...~eu perguntei e ele afirmou.

-Eu quero que você não se desespere, se você não estiver pronto para falar sobre isso, tudo bem...eu~ Lou não deixou eu terminar de falar, me cortando rapidamente.

-Eu quero falar. ~ele respondeu e dessa vez, eu concordei rapidamente.

-Na primeira noite após uma conversa que eu e meus pais tivemos, meu pai entrou no meu quarto, eu estava dormindo, mas ele me acordou com um sorriso que até hoje, me causa medo. Ele começou a cochichar coisas horríveis no meu ouvido, como "ninguém nunca vai te perdoar!" ou "nós não te amamos mais". Acho que ele estava bebado, provavelmente, mas essa não foi a única vez. Ele tirou minhas roupas enquanto eu gritava por ajuda, mas ninguém me ajudou, eu estava sozinho, sozinho com aquele monstro , que me custa chamar de pai. E então, ele abusou de mim, a noite inteira, a noite inteira eu fiquei com medo, no outro dia eu quase não conseguia andar, e fiquei chorando por lembrar da cena da noite anterior. Ele me obrigava a não dizer para ninguém sobre aquilo, ou senão, a noite seguinte seria pior. Eu passei dois anos sofrendo todas as noites com aquilo, pois o minha mãe trabalhava no hospital de enfermagem, no período noturno. Ele me fez ter minha primeira vez com doze anos, eu era uma criança, ele me fez acreditar que não existia amor, que não existiam mais pessoas boas, me fez perder a inocência, fez eu não querer me relacionar com mais ninguém, fez eu ter medo das pessoas, fez eu ficar nesse estado, fez eu perder boa parte da minha vida.

Aquela frase acabou com o meu coração, foi como uma facada, Louis sofreu todos esses anos por causa de uma pessoa, por causa de seu pai.

-Depois que ele morreu, eu senti um alívio na minha alma, sem mais dores, angústias e pesadelos. Mas os pesadelos continuaram, todos os dias, eu continuava o vendo entrando dentro do meu quarto, continuava vendo sua boca salivando ao olhar para o meu corpo, continuava me sentindo...sujo. ~Louis disse em meio a soluços. Ele estava contando seus piores pesadelos, e eu estava ali, completamente imóvel.

-L-Louis. ~minha voz saira trêmula, assim que percebi que estava chorando junto. Eu não poderia chorar, eu teria que ser a pessoa com "auto-controle" aqui, mas era impossível.

-Você confia em mim? Você quer que eu te ajude, e está disposto a qualquer coisa por isso? ~eu perguntei o encarando.

-Sim, Harry. Eu confio em você. ~ele falou agora me encarando com seus olhos que estavam quase transparentes por conta das lágrimas que escorriam por seu rosto.

How To Save a Life (l.s)Onde histórias criam vida. Descubra agora