28 de setembro de 2012.
– Já acabou? - gritou meu pai do primeiro andar. Ele vinha gritando comigo bastante, ultimamente. Toda essa gritaria vinha provavelmente da sua irritação por não ter conseguido fechar um contrato decente com qualquer um que quisesse pagar o valor que ele queria para a nossa casa. A resposta era quase a mesma de todos os interessados na casa e que desistiram depois de ouvir meu pai dizer o quanto ela valia. "É muito caro", eles diziam. Mas sempre havia uma luz no fim do túnel, e sei que meu pai se agarraria até ao último feixe de luz existente.
– Falta só uma! - respondi. Meu pai me havia mandado descer minhas malas que ficavam em cima do guarda-roupas e deixá-las em um canto qualquer de meu quarto. Dizia ele que estava muito próximo de fechar contrato com uma família que vinha de longe e que estavam desesperados para achar um bom lugar para morar. Bom, espero que tenham achado nossa casa suficientemente boa para se mudarem para cá, pois para mim é um saco.
A prioridade de nós mudarmos era o pouco espaço daqui. Meu pai havia achado a casa da rua da frente muito boa e a um preço bom, então iríamos vender a nossa e nos mudar para lá. A nossa não era tão grande e tão espaçosa quanto aquela, e nisso eu tinha que concordar com meu pai. Nossos quartos eram como cubículos e ele precisava de um à mais para fazer de escritório para minha mãe. E, segundo ele, a casa da rua da frente atendia a todos esses quesitos e ainda tinha mais coisas como um extra.
Ele era corretor de imóveis e minha mãe advogada, ficando a maior parte do dia fora, deixando-me na compania de meu velho e barulhento pai. Sério, não havia um dia em que ele não conseguisse deixar de fazer algum estrondo em casa.
Mas o foco é: no momento havia terminado de descer todas as malas e as posto em um canto. Por fim desci as escadas e me postei ao lado de meu pai, assim que o mesmo havia desligado o telefone. Ele estava animado, com certo brilho nos olhos, até. Posso até imaginar o motivo de tanta euforia e animação...
– Nós conseguimos! Vamos nos mudar em, no máximo, três semanas! Fechei contrato com os Iero. Há! - disse em um tom bem alto, como de costume. Não pude deixar de ser contagiado pela onda de felicidade que possuía meu pai naquele momento. Batemos as mãos e demos um meio abraço. Minha mãe deve ter ouvido toda a nossa festa que estava ocorrendo na sala e também comemorou um pouco antes de nós chamar para a cozinha.
– Está quase tudo pronto. Só faltam algumas coisas, mas sei que posso deixar com vocês dois. Preciso sair agora, já estou muito atrasada. - minha mãe passou por mim, beijando minha testa e murmurando um "até mais tarde, querido" e em seguida indo até meu pai para se despedir. A partir daquele minuto eu deixei a cozinha para ir em direção ao quarto. Não tinha necessidade de ficar ali e presenciar o agarramento dos dois. Ugh.
Tranquei a porta do quarto quando entrei e mandei mensagens para Jude. Tínhamos um curso de francês em comum e dali nossa amizade "desabrochou", por assim dizer. Meu último pacote de cigarros já havia ido pelos ares e no momento eu estava sem dinheiro. Ela poderia levar um para mim, amanhã. Ela era minha única amiga confiável e que não questionava meus vícios ou qualquer coisa estranha em mim. Além de ser bem estranha como alguns amigos que tinha. Ela era meio bipolar as vezes mas não era um grande problema. Minha falta de cigarros era um. Dos grandes. E ela já estava me devendo um favor, de qualquer maneira.
Estava olhando para meu quarto. Realmente, seria muita coisa para empacotar. Tinham coisas ali das quais eu nem mais me recordava que tinha, como por exemplo o meu telescópio. Acho que qualquer criança daqui da vizinhança ficaria feliz em ganhar um de presente. Fiz uma nota mental de que quando terminar de empacotar as coisas, deixar algumas para a doação. Era quase que um absurdo que em um quarto tão pequeno pudesse acolher tantas coisas, inúteis ou não.
Não iria para a escola hoje, então tirei o dia para preparar meu quarto para "o grande adeus". Ou a mim mesmo, no caso. Após aproximadamente meia hora, desisti de tentar arrumar todas as gavetas da cômoda e simplesmente me joguei no chão, ao lado desta. Mas algo me chamou a atenção.
Assim que me sentei, senti que, a parte onde minha mão bateu em uma área no chão entre a parede e a cômoda, e dali percebi que havia algo debaixo do piso de madeira, como um buraco ou algo assim. Me levantei na mesma hora para arrastar a cômoda para o lado, assim me deparando com um pequeno alçapão. Fiquei de joelhos e puxei o tampo do local.
Ali tinha apenas alguns papéis, como anotações, cartas ou até mesmo alguns desenhos. Mas o que mais me chamou atenção foram os dois frascos que haviam ali. Os dois eram de vidro e tinham uma rolha como tampa, contendo pílulas. Pílulas brancas e vermelhas. Um estava cheio e o outro parecia ter somente a metade do conteúdo, assim comparando os dois.
No rótulo deles continham apenas duas palavras. Para mim aparentavam ser frascos de remédios comuns, mas sequer tinham algum tipo de nome esquisito na parte da frente ou do que era composto e para quê servia. E esse que era o mais estranho de tudo. Não conseguia compreender o que era, então resolvi tirar tudo de dentro do buraco.
Neles estava escrito apenas "Paraíso/Inferno".
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PILLS • Frerard •
FanfictionGerard encontra pílulas escondidas que o fazem alucinar em um mundo onde as coisas são mais fáceis, até mesmo se apaixonar. Sua família está de mudança, e Gerard, após tomar uma pílula e se aventurar em um lugar diferente de tudo já visto, se apaixo...