OITO

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07 de outubro de 2012.

Uma semana. Uma semana se passou e com ela coisas aconteceram. E como aconteceram... Eu não consigo mais largar as pílulas de modo algum, eu meio que estou viciado nelas, por assim dizer. Elas estavam o tempo todo no meu pensamento, eu não parava de pensar em voltar a ficar com Frank - de minhas alucinações, é claro - e passar boa parte do meu tempo com ele. Ficávamos o tempo todo juntos, nos beijando e trocando carícias até meu tempo acabar e eu voltar para a realidade novamente. Eu estava apaixonado por ele, disso eu posso ter certeza. Mas nem tudo eram flores no paraíso...

As pílulas estavam me trazendo consequências. Eu já estava uns sete ou oito quilos mais magro, havia dias em que eu dormia tanto que acordava exausto de tanto dormir. E tinha dias que eu nem dormia. O sono exagerado e a insônia estavam totalmente desequilibrados e isso era muito exaustivo para mim, nunca saber quando que eu iria praticamente desmaiar de um dia para o outro ou passar noites em claro. Minha saúde estava sendo atingida, mas eu não queria e nem conseguia parar de usar aquelas pílulas.

O dia em que eu - pra ser preciso três dias atrás - percebi que meu quadro de saúde estava começando a se agravar foi quando eu passei muito mal durante a escola. Eu havia esquecido as pílulas em casa e estava me sentindo agoniado, sufocado e meu corpo tremia muito. Estava suado e com bastante frio, até que não estava mais sentindo minhas mãos. Eu percebi que não estava nada bem e tentei me levantar para ir ao banheiro e ver o completo caos que eu estava de frente para o espelho, mas eu não contava com minha tamanha fraqueza, caí no chão e desmaiei imediatamente. Eu só acordei a noite, muitas horas depois já em casa e minha mãe estava desesperada com a minha "febre" sem sentido algum e disse que eu não iria voltar para a escola nos próximos dois dias. Eu estava aliviado e preocupadíssimo, ao mesmo tempo. As consequências do uso das pílulas já eram aparentes e eu não conseguia simplesmente largá-las.

Dois dias. Dois péssimos dias, porém eram dois dias sem aulas e mais tempo que eu conseguia ficar com ele. O Frank das minhas alucinações era meu alívio, era o primeiro lugar que vinha na minha cabeça quando eu ouvia a palavra "paraíso". Não é atoa que a mesma estava escrita no rótulo do frasco... Mas também ao lado vinha escrito "inferno" e eu ainda não havia conhecido esse lado das pílulas e nem queria sonhar em conhecer. Eu não estava preparado nem um pouco para isso.

Eu estava saindo de casa, andando pela rua e quando dobro a esquina para chegar ao ponto de ônibus advinhe quem estava lá? Claro, lindo e grosseiro Frank Iero - o real. Ele não me viu chegar até eu me sentar no banco ao seu lado, daí ele me cumprimentou igual gente, o que foi uma surpresa pra mim. E eu o fiz de volta. Mas sobre sua gentileza pensei cedo de mais...

— Tô vendo que vamos compartilhar do mesmo ônibus. – disse ele vagamente.

— Tô vendo que seu poço de simpatia e gentileza continua intactamente cheio. Ah não, espera... – fingi pensar após responder na mesma medida que ele e pus minha mochila no chão. – E isso por acaso é algum fardo para você?

— De modo algum. Apenas pensei alto.

— Ah tá... – desdenhei. — Achei que eu estava ficando louco ou algo assim. Não gosto de ser um fardo para ninguém.

— Ninguém gosta, meu caro. Menos a minha tia... Essa daí não saía da casa dos meus pais e nem, ou pelo menos fingia que não sabia do incômodo deles. – ele riu. — Acho que não preciso compartilhar o endereço da casa nova com ela, meu pai ficaria aliviado...

— Entendi... – ri junto com ele. Parece que a menção da história de sua tia havia aliviado a pequena tenção que havia se formado entre nós naquele ponto de ônibus, mas eu estava começando a aprender que não se deve esperar nada de Frank Iero ou de qualquer desconhecido. Não que eu espere alguma coisa de um.

Após alguns segundos de silêncio em que esperávamos o ônibus, o mesmo vira a esquina e vinha se aproximando de nós, cada vez mais lento até parar. Nos levantamos e nos aproximamos do transporte e, de frente para a porta, eu para e me viro para Frank, fazendo uma reverência.

— As damas primeiro... – ele ficou estático. Estava olhando para a minha expressão de divertimento e zombaria como se aquilo havia o ferido e logo seu rosto estava denotando raiva. Mas raiva do quê? De eu o ter chamado de dama? Da minha brincadeira com um mero conhecido de alguns dias, volto ele? De eu o ter chamado de mulherzinha? Não pode ser *risos*. Percebi o constrangimento em sua face e os nós de seus dedos brancos de tanta força que sua mão fechada fazia, então recobrei minha postura, antes mesmo de ele me surpreender com seus atos.

Duas mãos foram parar na gola do meu casaco e fazendo força contra o meu corpo até que ele se chocasse contra a lataria do ônibus violentamente. Eu realmente não esperava esse tipo de reação vindo dele... Nunca. Nunca duvidem da força de Frank Iero, crianças.

— NUNCA... MAIS... ME CHAME DESSA MERDA DE "DAMA"! – de perto, pude sentir sua respiração pesada que estava batendo contra meu rosto até que ele repentinamente se afasta e entra a passos rápidos no ônibus. Eu ainda estava encostado na lataria processando o que havia acabado de acontecer. Estávamos rindo a pouco tempo e agora isso! Eu realmente não estava conseguindo entender aquele garoto. Ele e o Frank alucinógeno eram tão iguais mas ao mesmo tempo tão diferentes, eles eram completamente opostos um ao outro, como duas personalidades opostas.

Enquanto um era pura calmaria, carinho e amores, o outro era arrogância, caos e desordem. Mas eu não deixaria isso tudo barato, eu lutaria contra quaisquer arrogância, caos e desordem para conseguir revelar o que havia por trás daquele ser misterioso. Eu desvendaria Frank Iero.

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