PILLS • Frerard •

DEZ

08 de outubro de 2012, quinze minutos depois, ainda na arquibancada.

Ele queria levar uma surra? Que leve, não sou babá de ninguém. Mas meu outro lado também me dizia que eu tinha sim que me preocupar com ele. Não exatamente me dizia, mas me fazia sentir. Eu sentia que tinha que me aproximar dele e não deixar que coisas assim acontecessem novamente. Mas por outro lado, ele tem feito com 100% de sucesso o seu papel de babaca. Parecia que ele não tinha consideração nenhuma por mim e assim eu ficava dividido: entre me preocupar ou não com ele.

Eu não estava nem um pouco afim de entrar para a próxima aula, e não iria. Eu já estava com saudades do "meu" Frank, o qual realmente se importava comigo, o que me via como a lua de suas noites e não como uma mera e pequena estrela perante as mais vastas constelações. Eu estava começando a sentir que o outro Frank me amava e eu queria sentir isso também, mas eu não sentia todo esse amor como ele, eu ainda estava confuso de mais. Eu gostava bastante dele, chegava até a se considerar uma paixonite, mas eu sabia que não sentia a mesma euforia que ele sentia quando nossos olhares se encontravam, quando nos beijávamos ou até mesmo quando simplesmente nos tocávamos. Era estranho ficar com alguém que só existia na sua mente, o que soava muito insano. Porém eu precisava vê-lo naquele instante.

Levantei do acento da arquibancada e me movi em direção à saída dali, cuidando para não ir pelo mesmo caminho que antes usei com Frank. Não precisava me encontrar com ele agora, ele sabe se virar, segundo o mesmo. No lado de fora, andando pelos gramados, me guiava para o prédio onde ficava a biblioteca, este sim é um lugar onde ninguém me encontraria, não é como se Gerard Way fosse amante dos livros, ao ver dos outros. Ao entrar, o já idoso bibliotecário sequer notou minha presença por estar ocupado o bastante com seu celular. Um livro ou uma revista em suas mãos seria algo mais esperado do que um artefato tecnológico, que naturalmente é odiado ou ignorado pela maioria dos idosos ou adultos velhos o bastante para estar no início da terceira idade. Enchi um como de água no bebedouro que ficava no início do corredor leste e segui meu caminho pelo lado contrário.

Após subir os degraus para o segundo andar, segui pelo largo corredor principal até às últimas fileiras de estantes de livros, uma das sessões mais isoladas da biblioteca ao lado oeste desta, longe das janelas. Minha poltrona já aguardava por mim, do mesmo jeito que antes deixara e me afundei na mesma, já tateando o frasco pelo meu bolso. Não demoraria muito para eu pegar no sono, desmaiar, viajar, seja lá o que for. Eu mais do que precisava daquilo naquela hora e não tinha ninguém ali para me atrapalhar.

×××

— Você demorou. Achei que já tivesse desistido de mim. – sua voz saiu abafada por ter metade do seu rosto contra meu ombro, mas ainda sim conseguia encher-me de satisfação ao finalmente ouvi-la. Seu abraço estava mais apertado de tanta saudade, suas mãos faziam carinho em minhas costas enquanto nossos corpos ainda permaneciam unidos no abraço. — Sentiu minha falta?

— Foi só um dia, acredite, eu também achei que foi um longo e solitário dia sem você. Mas estou aqui agora e é claro que senti. – digo entre seu pescoço, meus olhos sendo vendados pelos seus cabelos que insistiam em ficar mais e mais entre nós a cada movimento meu.

Nos soltamos e fomos andando na direção da floresta, mas antes de sairmos pela porta dos fundos da casa, meu reflexo na porta me chamou atenção. Eu estava diferente, bem diferente. Parecia mais gordo que o habitual, não gordo como se tivesse uma enorme barriga e bochechas ultra rechonchudas, mas como se fosse eu mesmo a quase um mês e meio atrás. Como se fosse o eu normal, e me senti quase que esquelético comparado a esse reflexo, porém quando eu me tocava e olhava para o meu próprio braço ou para meu corpo inteiro, eu não sentia que estava com a aparência esquelética de agora. Eu ainda era o eu de um mês e meio atrás, como no reflexo. Isso era muito estranho mesmo.