Lobo vs Coelho

Um Grande dia

O aroma adocicado das flores parecia ser uma constante, se perpetuando nas narinas, perfumando as roupas e casas. Era um dos principais sinais que indicava a chegada da primavera na floresta que margeia a terra dos coelhos. Era uma época linda, de fato, flores de diversas colorações, formatos e aromas enfeitavam a flora, era como se a própria natureza se preparava para alguma festa... Festa esta que deveria estar associado a Páscoa. Contudo, tal manifestação de alegria não era compartilhado com a população, principalmente os coelhos. O jovem lobo de cabelos brancos, praticamente platinados que refletiam o brilho do sol intenso e morno da estação observava a paisagem contrastante do alto de um pinheiro. As mechas longas persistiam em cair em sua fronte, algo que sempre o irritava, mesmo arramando seu cabelo em um firme rabo de cavalo, este sempre deixava escapar mechas rebeldes. Mas no momento, sua concentração se focava no grande muro construído na fronteira da floresta. Cinzento e opressor, o muro era o símbolo da separação entre os Lobos e Coelhos, definitivamente. A páscoa não mais existia do lado de lá do muro, mas os lobos, entretanto, persistiam na tradição...

– Owen! – gritou outro lobo em um galho mais abaixo, o rapaz partilhava dos meus cabelos brancos, contudo foram cortados de modo que ficavam ainda a altura dos seus ombros e ao contrário do seu companheiro mais velho que detinha cabelos lisos e rebeldes, o rapaz apresentavam cacheados e mais comportados – Nós devemos voltar!

– Eu sei Eirian. – resmungou Owen que segurava nas mãos uma rede de captura e um pote cheio de insetos dos mais diferentes formatos e cores. O objetivo de sua subida ali era capturar a borboleta que estava parada por sobre uma das folhas aciculada* do pinheiro – Mas sabe a quanto tempo estou buscando essa borboleta?

– Aham, eu sei. – resmungou o dito Eirian, o lobo mais jovem segurava ao invés dos instrumentos de "caça e captura" de espécimes, como Owen gostava de denominar, um grande caderno de desenho – Esqueceu que sou o seu principal assistente?

– Você é meu único assistente, irmãozinho. – piscou Owen divertido para baixo, enquanto Eirian soltava um suspiro.

– Espero que não tenha esquecido que dia é hoje! – ralhou.

– Shhh! – falou colocando os dedos sobre os lábios e depois apontando para a borboleta de asas de colorações exuberantes, uma mescla de azul, amarelo e vermelho que lhe conferia um destaque evidente sobre as folhagens verde-escuro do pinheiro. Owen começou a se arrastar com a sua rede de captura, aquela seria a primeira vez que capturava um espécime daquele tipo, não poderia perder a oportunidade. Eirian parecia também compreender a situação e decidiu se calar, por hora. O caderno já fora aberto e coelho mais jovem começou a esboçar alguns rascunhos que logo assumiram formas de seu irmão mais velho engatinhando ruma a borboleta.

"Qual nome darei a você?" pensou eufórico com as possibilidades futuras. Adamastor, ao ver suas habilidades e tendências, tinha lhe provido de alguns livros velhos e desgastados da biblioteca da vila dos lobos...Biologia, Botânica, Zoologia, essas e outras palavras difíceis pareciam definir muito bem os gostos de Owen, como também sua profissão. Lobos não davam muito importância a formação acadêmica quando referido a títulos, os membros de sua comunidade eram livres para seguir qualquer que fosse a sua tendência natural, desde que ajudasse de alguma forma a manutenção da vila. Logo, Owen se tornou o primeiro Lobo-biólogo da vila. Sua função? Capturar e estudar a fauna e a flora local. E como isso ajudaria a vila? Graça a seus estudos Owen pode documentar a migração dos peixes na rede fluvial da floresta, indicando as épocas certas para a pesca e os locais mais indicados, aumentando a eficiência dos pescadores bem como a produtividade. Além disso, catalogou cogumelos e plantas venenosas e deixou disponível esse livro para todos da vila, diminuindo eventos de intoxicação que ocorriam, principalmente entre os filhotes curiosos e gulosos. Enfim, tinha conquistada uma certa notoriedade, apesar de sua preferência sempre fora os insetos.