Chamas no muro

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– Você disse que tinha uma fissura! – gritou, não, praticamente urrou, uma figura encapuzada que corria com uma incrível velocidade logo a frente. O segundo, também coberto por uma grossa manta, o seguia ofegante.

– Eu não...Ah...Disse...Fissura... – resmungou, queria parar, suas pernas estavam chegando em seu limite, não tinha a estamina do seu companheiro – Só disse que...Poderia ser que a construção estivesse mais instável...Em algum ponto do...Ah...Muro!

– Mesma coisa!

Não iria discutir. Não era o momento para isso.

Flechas choviam pelo ar, quase os alcançando... Bem, alguns chegaram a atingi-los, mas o manto as impediam que penetrassem e que assim causassem algum dano. Podiam aguentar por mais alguns minutos, mas quanto mais guardas fossem alertados de sua presença, mais difícil seria escapar.

– Aqui? – o seu companheiro, o corredor, parou subitamente, se voltando, o capuz permitiu vislumbrar a face morena e olhos amarelados e pupilas dilatadas que refletiam a tênue luz do ambiente, afinal, já era o início do entardecer – Tem que ser aqui! Farejo mais guardas na nossa frente! Esse tem que ser o lugar certo!

– Não temos explosivos o suficiente... Se a estrutura não estiver já precária terá sido inútil. – falou enquanto procurava recuperar o folego e ao mesmo tempo buscando o pacote contendo pólvora que escondia por debaixo do manto.

– Eu não pedi uma explicação técnica, mano! Só exploda essa joça! Se não der certo, servirá de distração e pulamos o muro!

– Olha, coelhos podem pular alto, isso é certo, mas temos um limite de...

– Cala a boca! Eu vou te carregar e pulamos juntos!

– Que eu saiba leopardos também tem um limite de pulo. – comentou deixando escapar um meio sorriso. Mesmo em situação crítica como aquela a presença do companheiro o fazia relaxar o suficiente para que pudesse provocar e tornar o momento menos tenso.

– Não duvides das habilidades de um felino, coelho. – falou o outro exibindo um sorriso que deixava amostras seus caninos.

Iria soltar uma resposta devida, mas os gritos dos guardas coelhos o fizeram atentar para o risco que corriam, se fossem capturados seriam lançados nos calabouços da cidade e haveria uma grande possibilidade de serem torturados, não podia permitir que algo assim ocorre...Não que temesse a tortura, não... Não era isso! Tinha que escapar para poder salvar o seu irmão!

– Se a bomba não der certo, espero mesmo que não seja propaganda enganosa esse negócio de habilidades felinas. – resmungou aplicando a bomba caseira entre os tijolos do muro, retirou uma pedra Sílex do bolso e mais um tecido carbonizado que colocou sobre a pedra. Com a outra mão livre puxou seu punhal e começou a raspar rapidamente sob o tecido o que logo provocou o surgimento de faísca e logo uma pequena chama.

– Mathrew...Sem querer te apressar, mas já te apressando...Será que não poderia ser mais rápido?

Os guardas traziam tochas, empunhavam bestas e lanças, vinha de todas as direções. Estavam encurralados.

O pavio curto foi acendido e o coelho apenas teve tempo para se jogar sob o companheiro quando o fogo consumiu e rapidamente alcançou a bomba o que acarretou em uma grande explosão.

~*~*~

– Hummm... – Owen estava acocorado na base de uma arvore observando um louva-a-deus que ali estava subindo o tronco – Ele é tão lindo! Tipo, parece um mini-guerreiro! Já viu ele lutando com outro? Ele faz tipo Pow! Bam! Bem que as fêmeas devoram os machos durante o acasalamento, já vi uma vez e foi... Meio traumatizando e meio impressionante! Tipo um UAUUU!– faz gesto mirabolantes e olhava para a sua impaciente plateia fazendo questão de dramatizar e muito o seu relato.

Lobo vs CoelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora