Fim das fugas

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O som de música logo os chamou a atenção quando saíram da caverna. Lobos e coelhos tocavam instrumentos, tantos outros dançavam alegremente. Lâmpadas de papel das mais diversas cores e formatos estavam penduradas entre as árvores por vários fios coloridos. Era o festival da páscoa que se iniciava logo depois dos escolhidos receberem a sua previsão. O povo da floresta festejava mais um ano em que as estrelas manifestavam o seu poder lhes conferindo visões de suas almas gêmeas futuras. Além disso, era a comemoração da primavera, associado a alegria e renovação de esperanças. Erwin sorriu com aquela nova visão, muito mais brilhante e viva em contraste com a penumbra das cavernas.

– Sabe que estou sentindo? – Sussurrou Aubert no ouvido do seu coelho que sentiu um leve calafrio ao sentir o hálito quente do lobo em suas orelhas sensíveis.

– O que? – Também respondeu no mesmo tom. Agora todas as provocações de tio Edgan vieram a sua mente... Agora eram um casal! Poderiam fazer coisas próprias de casal...Coisas essas que seriam além de beijos e segurar na mão um do outro, sendo que isso eles já faziam antes!

" Não! Estou me tornando um pervertido! " Brigou consigo mesmo.

– Vontade de dançar! – Nisso o ruivo puxou o surpreso coelho que ficou ainda mais vermelho por imaginar coisas indevidas enquanto seu lobo apenas queria compartilhar uma inocente dança.

Daly os observou se afastar, com nervosismo. Suas mãos brincavam sem parar com a aba de sua camisa. Olhava para os lados buscando algum rosto conhecido, ou melhor, um rosto em particular. Talvez devesse tentar espairecer, respirar um ar fresco da noite...Quem sabe na reconforto da floresta, bem longe da festa? Parecia ser algo razoável a se fazer, não que estivesse fugindo e...

– Daly?

Tarde demais. O coelhinho quase tropeçou nos próprios pés para se virar e encarar o lobo que fazia seu coração bater descompassado.

– Opa! – Arturo prontamente avançou para segurar o desastrado coelho – Você está bem?

"Como posso estar bem com você me abraçando desse jeito?! Vou ter um ataque cardíaco! " Pensou alarmado tentando se desvencilhar dos braços fortes que o envolviam.

– E-eu...Eu... O que está fazendo aqui?! – Não quis parecer rude, mas seu cérebro estava superaquecido e não funcionava de forma adequada.

Arturo não parecia ofendido pelo tom acusatório do menor e apenas deu um amplo sorriso amigável.

– Te procurando, lógico.

"Ai minhas cenouras..." Pensou sentindo seu coração dar um salto em seu peito.

– C-como você me encontrou? Digo... – Abaixou os olhos, nunca conseguia sustentar o olhar por muito tempo diante daquele lobo, e não era devido unicamente a diferença de altura entre eles ( Arturo tinha 1,85 m e Daly tinha apenas 1,60 m) que poderia deixar seu pescoço dolorido de tanto olhar para cima, mas sim devido os olhos bondosos e o sorriso cordial que eram uma constante no rosto de Arturo...E que rosto! Apresentava uma fronte larga e forte, um maxilar amplo e firme, seu nariz apresentava uma curva em sua parte de cima, lhe dando um aspecto exótico que não foi herdado do Stern, talvez essa genética fosse parte da família coelho de Alam. Para concluir tinha os olhos...Aquele azul intenso, tal como as cores do céu de verão, legado de seu progenitor xamã, pareciam emanar uma energia que gerava palpitações e tremedeiras nos joelhos de Daly quando se perdia naquele olhar. Definitivamente, não podia encara-lo!

– Te farejei. – Disse somente.

–E-eu... Estou fedendo? – Inqueriu atemorizado. Coelhos não tinham uma grande habilidade olfativa como os lobos, logo não sabia quando seu odor podia estar afrontando os sensíveis narizes lupinos – Mas eu tomei banho!

Lobo vs CoelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora