O Despertar da Caçadora

13 - Quadro Assombrado

A verdade sempre tem seus caminhos para emergir das profundezas do mar negro da mentira. Nós nunca podemos muda-la, apenas aprofunda-la mais, laçando-a cada vez mais fundo ao mar. Um dia a verdade sempre vem a tona, tudo que fazemos é atrasar o inevitável, nos encurralando cada vez mais. É exatamente assim que me sinto agora, encurralada, vendo a verdade surgir e pôr-se entre mim e Garret. Como eu havia cogitado, a segunda idéia foi a que venceu a luta em meu consciente e, mesmo que tivesse perdido, o momento a fez ganhar por W.O.

As luzes de emergência do vasto salão acendem-se, dando uma tenebrosa e fraca luminosidade avermelhada ao local. Murmúrios são ouvidos de todas as direções. Todos estão inquietos, confusos e sem saber como proceder. Tudo bem, eu posso até aceitar o fato da verdade querer aparecer agora. O que não me desce pela garganta é o fato de haver tantas vidas em jogo em um único momento.

Garret corre até o palco, tomando a dianteira antes que um pandemônio se instale pelo recinto. A anfitriã da noite perdeu a voz, ficando estática acima do palco. Prysla tem só língua e atitude quando o assunto sou eu, na hora do "vamos ver" ela é a primeira a perder o chão.

-Por favor, fiquem todos calmos. - meu primo fala o mais alto que sua garganta suporta, chamando a atenção de todos para si -É apenas uma queda de energia, logo nosso gerador reserva irá entrar em funcionamento. Não precisam entrar em pânico.

Assim que as palavras saem de sua boca, a sala ilumina-se novamente. As luzes voltam a funcionar, mesmo que estejam piscando constantemente. Por puro instinto de Caçadora, volto meu olhar para o quadro e encontro com uma pessoa a menos no retrato.

-Que inferno! - praguejo.

-O que foi que... - Dan começa, mas para ao ver o mesmo que eu -Merda!

-O que faremos agora? O salão está cheio! - Jake sussurra com alarde na voz.

-A única saída e manter todos aqui dentro a salvo, enquanto vocês dois vão ao cemitério. - respondo, passando o olhar por todos -Escondi uma bolsa de armas e suprimentos na salinha atrás do palco.

Os dois assentem. Corremos para o palco e, enquanto Danmian vai pegar a mochila, Jacob e eu achegamo-nos a meu primo. Prysla mudou um pouco sua posição. Agora ela está encarando o quadro com olhos ligeiramente arregalados.

-O-o-o que é isto? - Prysla aponta para o quadro, tremendo -Este quadro não estava assim mais cedo.

-Gerret preciso que você mantenha todos aqui. Ninguém poderá deixar este local. - Jacob fala, ignorando o surto da O'Donell mais velha.

-Por que?

-Só confie em nós, por favor. Queremos evitar acidentes. - falo desta vez, com uma súplica silenciosa no olhar.

-Tudo bem. - Garret retoma sua atenção a frente -Preciso que todos permaneçam onde estão. Não tentem deixar o salão de festas, é perigoso.

-Até parece que eu vou ficar preso aqui! - um homem gorducho, de feições rabugentas, caminha com determinação até as portas do salão de festas.

Arranco uma barra de ferro da parede e sigo o idiota que irá pôr a vida de todos em risco desnecessário. Jacob não faz menção de impedir-me, ele sabe que não resultará em nada devido a ferocidade em meu olhar. Garret também não impede-me, apenas arrega-la levemente os olhos, assustado com minha força bruta.

A esta altura do campeonato, pouco me importa esconder as verdades sobre mim de Garret. Não há como eu mentir diante do que nos espera. Ele vai saber da verdade eu querendo ou não. Infelizmente já falhei em cumprir com a vontade de minha falecida tia. Só posso lamentar tal fato agora.