14 - Cinzas

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Danmian

Chegamos ao cemitério com rapidez. Ao descer do carro e olhar a quantidade de lápides é que me dou conta de que não sabemos qual é a tumba certa. Violet citou apenas nomes, esqueceu de mensionar onde é o local exato. O burro fui eu por não ter ficado atento a esse detalhe.

-Vamos procurar por cada uma, até encontrar a certa. - Jake quebra o silêncio, dando-se conta do mesmo que eu, suspirando alto.

-Sim. Tisc!

Dou o primeiro passo cemitério a dentro, quando sou surpreendido por uma tontura repentina. Minha visão se perde na escuridão e então apago de vez, caindo igual uma fruta podre no chão.

[...]

Acordo em uma casa estranha, sentado à frente de um televisor que exibe um jogo de baseball antigo. Uma garrafa de cerveja repousa em minha mão direita, enquanto a outra está enfiada em um balde de pipoca, trazendo vez ou outra um punhado para minha boca. Meu corpo trabalha contra minhas vontades, nem sequer reconheço minhas próprias mãos. Só posso estar delirando.

O som de passos estralando sobre o assoalho de madeira velha chama minha atenção, fazendo minha cabeça virar na direção de onde vem o som. Parado ao pé da escada está um garoto, o mesmo garoto que está em batalha com Violet neste exato momento. Ele esconde uma mão atrás de suas costas e sorri de modo infantil. Sua pele não está palida ou transparente, na verdade ele está mais para vivo do que para a sombra de um morto.

-Papai eu aprendi uma brincadeira nova. - o garotinho diz em um tom normalmente infantil -O senhor quer saber como é?

-Agora eu estou assistindo a partida final da liga de baseball, meu filho. - as palavras saem de minha boca sem que eu as queira dizer, em um tom desconhecido por mim -Quando acabar, eu prometo que brinco com você.

-Mas eu quero brincar agora! - a criança bate com o pé no chão, fazendo bico.

Vendo este garoto diante de mim agora, eu jamais diria que ele viraria um fantasma psicótico. Se eu não tivesse visto-o matar uma pessoa diante de meus proprios olhos, jamais creria que esta doce criança diante de mim viria a ser capaz de umpunhar uma arma contra qualquer ser vivo.

-Não sejas birrento Max! Nada na vida é como queremos. Você deve entender que o mundo não pode dobrar a nossa vontade só porque queremos. Aprenda agora para não vir a sofrer num futuro próximo. - as palavras soam rígidas, mas há amor oculto nelas, um amor de um pai para com seu filho querido.

-Já que a vida não pode, talvez a morte possa. - o garoto sussurra baixo, mais ainda consigo ouvir com clareza as suas palavras, provocando uma reação de espanto em mim.

-O que você disse, Maxuel? - questiono com reprovação.

O garoto não responde, ao invés disso ele se põe a caminhar em minha direção. Seu ar doce se perde completamente e sinto o clima ficar pesado, quase sufocante. A mão do garoto ainda está nas costas, o que provoca em mim um estado de alerta e nervosismo além do comum. Com seu rosto a centímetros do meu, posso ver um sorriso cortar seus lábios, um sorriso que não carrega nada de humano. Começo a suar frio, uma reação premeditada de meu corpo acerca do que está por vir.

-Não precisa brincar comigo papai, só veja como eu brinco. - ele sussurra.

-Mas você é mesmo...Argh! - engasgo com meu próprio sangue.

Sinto uma dor latejar em meu estomago e a bile subir por minha garganta. Olho para baixo e encontro uma faca cravada em minha barriga, com a lâmina virada para cima. A mão que segura o cabo da mesma pertence ao garotinho, o mesmo outrora doce e inocente, agora um assassino frio e delinquente.

O Despertar da CaçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora