Alfonso estava sentando no sofá da sala de sua casa totalmente entediado e cabisbaixo, a tristeza o cercava, a saudade apertava e o seu único consolo era a visão de seus filhos brincando na chão a sua frente, mas sentia falta do som da risada de Anahí pela casa, apesar de sua mãe Ruth, e sua sogra Marichello viveram lá ajudando com as crianças o vazio era imenso.
Ele estava visivelmente abatido e desleixado, a barba estava a quase duas semanas sem ver uma lâmina de barbear, ele lembrava bem de quando se barbeou pela última vez, foi na manhã de seu casamento, lembrava de tudo daquele dia, não conseguia esquecer o grito dela, nem o riso que o antecedeu, ou o barulho de metal que o sucedeu.
Lorenzo que estava sentando brincando com o irmão distraído, de repente sentiu sono, como todas as tardes, ele se levantou e foi em direção a cozinha, a mãe sempre estava na cozinha fazendo sua mamadeira naquele horário e ele não entendia por que não a encontrava ali nos últimos dias, ao não encontrá-la novamente, o menino fez carinha de choro e com a fralda na mão e a chupeta na boca foi até a sala, o irmão o olhou atentamente em seguida se virou para o pai.
—Papai— chamou a atenção do mesmo— Enzo papai— apontou o irmão.
Alfonso pareceu despertar de um transe estava distante o último lugar onde estava era na sala, se virou para o filho e viu a carinha de choro de Lorenzo, se aproximou do pequeno, o pegando no colo e tentando acalentá-lo vinha sendo assim nos últimos dias ele sabia como estava doendo nos filhos aquilo tudo, como a ausência da mãe os afetava.
—Shiu— beijou a testa do filho o embalando em seu colo— vai passar, vamos lá vou fazer seu leite— mas o menino permanecia inconsolável.
—Mamãe, quer mamãe— falou ao tirar a chupeta, o coração de Alfonso se partiu um pouquinho mais e sem dizer nada ele foi em direção a cozinha pegando o leite na geladeira, e monitorando Dante que os seguiu e se sentou no chão calado com o urso favorito na mão, depois dos primeiros dias a revolta do menino se transformou em um intenso silêncio, só chamava quando precisava de algo parecia entender que fazer birra não ia adiantar.
Alfonso ouviu a porta da sala se abrir sua irmã tinha uma cópia desde o acidente, assim como Ruth e Mari, ouviu passos pelo corredor e angústia em seu peito foi grande, pois ele sabia que não eram os passos de Anahí, ela não ia entrar pela porta sorrindo, ou iria acordá-lo com beijos como todas as manhãs, ele nem sabia se iria tê-la de volta algum dia, Ele viu Clair entrar na cozinha e ele só se deu conta de que chorava ao ver o choque no olhar da irmã que rapidamente pegou Lorenzo de seu colo.
—Alfonso— chamou— você está bem?
—Eu quero que parem de me perguntar que eu estou bem, porque se ela não estiver comigo, nunca vou estar bem, o único motivo pelo qual eu ainda estou vivo é pelos garotos, você não tem noção do quanto dói vê-los aqui, todos os dias a tarde o Lorenzo se levanta e vai até a cozinha porque ele sempre fazia isso e ela sempre estava estava lá para ele, será que alguém tem noção do que é tentar consolar o meu próprio filho sendo que eu sei que o que ele sente não tem consolo, se ela não acordar eu vou enlouquecer, eu juro Clair que eu não sei o que fazer— chorava escondendo o rosto.
—Alfonso calma, você vai até o quarto agora, vai lavar o rosto e respirar um pouco sozinho, eu vou colocar os meninos para tirar um cochilo, e a gente conversa tudo bem.
Alfonso assentiu nervoso e saiu da cozinha um pouco trêmulo, quando adentrou o quarto a dor pareceu aumentar, o cheiro dela se fazia presente em cada canto, eternizado na memória, seria mesmo seu perfume ou estava tão louco de saudades de Anahí que estava imaginando? Balançou a cabeça e foi até o banheiro, se encarou no espelho, antes teria se assustado com aquela imagem e pegado um prestobarba imediatamente, agora ele apenas suspirou abrindo a torneira e molhando as mãos sentindo a água gelada correr por entre as mesmas, lavou o rosto se pergunta o porque da água não levar com ela todo o seu medo e dor, já que muito diziam que a água lava até mesmo a alma.
Se encostou na parede escorregando encostado nela, olhando para o box onde tantas vezes enquanto tomava banho ela adentrava o pegando de surpresa nua, de quando faziam amor sob a água, a banheira então, tinha tantos momentos que era inesquecível, ele se levantou sentindo a dor se misturar a raiva, uma agonia a risada dela o atormentava.
A fúria se misturou a dor e as lágrimas que voltaram a descer saiu do quarto e as imagens dela dominavam a sua mente, sem se conter ele socou a parede numa tentativa frustrada de libertar daquela fúria, as paredes tremeram com o soco e ele logo recolheu a mão reparando que ficou roxa rapidamente, sem dar muita importância secou o rosto e foi para a sala. Clair logo saiu do quarto dos meninos, estava um pouco assustada tinha escutado o estrondo causado pelo soco.
—Você assustou eles— disse tensa.
—Não foi minha intenção desculpe.
—Você anda muito estressado, eu sei que é natural com tudo o que você tem passado, mas você precisa achar um jeito de se controlar, procura alguma academia uma luta qualquer coisa você tem tempo para isso.
—Eu sinto que vou enlouquecer sabia Clair? É só me virar e vejo ela sentada no sofá lendo um livro, ou na cozinha preparando o jantar, ou na poltrona amamentando, me sinto como um maluco cercados por fantasmas, tão mortos e intocáveis como o ar e tão vivos como se pegar com minhas mãos— soltou o ar lentamente— ninguém entende.
—Eu sei que não sinto o que você está sentindo, eu perdi minha irmã mais velha de coração, você perdeu a mulher que você ama e não sabe se vai conseguir tê-la da mesma maneira, mas por favor meu irmão, não se afunda não.
—Eu estou tentando, mas eu sinto a falta dela, todos os dias, em cada hora, cada minuto, cada segundo, em todos os milésimos.
—Você sente como se o mundo não pudesse girar sem ela em sua órbita, como se ela fosse o oxigênio exclusivo do seu ar.
—Algo como isso, mas um pouco mais complexo.
—Tenha fé Alfonso, você acha que Deus faria isso com vocês? Que deixaria esses meninos sozinhos no mundo?
—Eu acreditava que Deus jamais me tiraria Anahí, agora eu nem sei se acredito nele— disse triste, uma lágrima rolou pelo seu olho.
Aquele era só o começo de sua tormenta.
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Honra
Romance"Eu vos declaro marido e mulher" Alfonso Herrera mal podia esperar para ter sua mulher nos braços durantes os próximos dois meses em sua lua de mel... Mas tudo oque podia se lembrar daquela trágica noite foi do som dos pneus rasgando o asfalto e...