Capítulo 1: 1987

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Eu a conheci em 27 de janeiro de 87, eu estava no primeiro ano do ensino médio, e por Deus, estava apavorado! Era uma perspectiva de universo diferente, ali, naquele instituto, somente pessoas inteligentes e interessadas se encontravam, nada de zoeiras exageradas, era tudo ordeiro ( Dadas as devidas proporções ). 

Eu era bem inteligente, e mesmo assim não chegava nem perto dos meus colegas, a maioria dali era armado de um poder aquisitivo maior que o meu, uns estudavam línguas estrangeiras, instrumentos, desenhos e afins a mais de dez anos, e isso lhes dava uma senhora vantagem nos demais, um reflexo de um país que parou dentro de algum contexto onde a meritocracia foi para o caralho.

 Eu vinha de uma escola muito legal, mas não era uma das melhores no que tange o ensino, e havia matérias necessárias para acompanhar a vida acadêmica a partir da li que eu não fazia a menor ideia que existia, mesmo assim eu corri atras. Eu dividia meu tempo lá na escola em estudar, ler, e ficar uns dez ou quinze minutos no pátio vendo as pessoas passarem e escrevendo sobre isso.

 Pode até sor solitário, mas não é!

 Foi assim que eu conheci uma garota incrível, que, que só trouxe cor a minha vida como também me fez querer ser uma pessoa melhor, em fim, eu estava num desses estados de contemplação da natureza humana, com uma amiga minha ( ex-amiga, nem sei se esse termo existe! ) E foi ai que eu vi uma das mais belas das criaturas! Aquele fim de tarde pareceu resplandecer na pele alva dela, a cor dourada lhe tingia gentilmente, como um pincel fino que se encontra com uma tela, e a cada toque, nasce algo belo, essa era ela, e aquele olhar, meu Deus! De tirar o fôlego! Ela tinha um andar tão suave que mais parecia que saltava em algodões, a serenidade em cada gesto era notável! Que mulher meus amigos! Que mulher.

 Minha amiga ouviu durante alguns segundos, meu maravilhamento pela beleza daquela garota, em resposta a mim ela levantou-se com seriedade e saiu, deixando-me sozinho no pátio, perdido naquele ligeiro rebolado. Acontece que minha amiga simplesmente detestava aquela garota, motivo? Não sei, e ver o " melhor amigo dela " falando-a tão bem, foi um bom motivo para se estressar, mas para tomar a atitude que tomou nos dias seguintes, não.

 Para me reconhecer no campus, bastava procurar o jovem que sempre andava com um pequeno caderno de couro na mão, uma caneta na orelha e falando sozinho com os fones de ouvido e o toca fitas pendurado na cintura ( É, minha adolescência não foi mole ). No mais, eu nunca fui o destaque em nada, e já estava tão acostumado a isso, que depois de um tempo isso deixou de me importar sabe, eu entrava na biblioteca e procurava o monitor de alguma matéria que eu não havia entendido e estudava, se sobrasse um tempo eu leria ( Na época era a volta ao mundo em 80 dias ) E durante a aula eu tentava prestar atenção na aula, por que eu sempre fui muito relapso, e quando escrevo, putz, me desligo completamente!

 Foi ai que eu comecei a desenvolver sentimentos platônicos para com essa garota, era Rachel Portman seu nome, uma poesia de mulher! e eu passei a escrever várias poesias para ela ( Sem que ela as lesse, claro! ) pois eu tinha uma leve noção de que jamais iria conseguir uma garota como aquela, quero dizer, olhe para mim, imaginem um cara de pés achatados, vesgo de um olho, com mais problemas de saúde que uma ala de cancerosos e que vivia com a barba por fazer, esse era eu, não havia chance alguma que ela ao menos iria falar comigo, por tanto, para não me machucar, eu me distanciava do caminho dela cada vez mais.

 No entanto, foi no dia vinte sete que eu, metaforicamente " taquei " o foda-se. Fui falar com ela, tremendo​ feito bambu em ventania, mas fui, chamei-a para tomar um café qualquer dia desses, e sabe o barato disso? Ela aceitou! Fiquei super feliz com aquilo, até chegar no dia e ela me dar bolo, aquilo acabou comigo de maneira muito sincera. 

Acontece que, semanas depois, voltamos a nos falar, e ela parecia bem diferente, mas para o bem, é nossa amizade nasceu ali. A minha amiga, que não gostava de Rachel, parou de falar comigo, Bianca Crusler era seu nome, e eu realmente a amava e sua partida dá minha vida quase me destruiu, mas a senhorita Portman estava ao meu lado.
Mesmo que as coisas entrassem nos eixos, sempre havia um problema, pois quando várias mentes excepcionais entram em ação conjunta, descirdancias pesadas sobre ideologias são travadas, e eu decidi por minha mente fora daquilo tudo, e enquanto eles dividiam os grupos e faziam tudo, eu ficava na janela, conversando com o primeiro que aparecesse ali, pois, conseguia ser extremamente comunicativo quando queria e extremamente introspectivo​ quando me convinha ser. Quando estamos protegidos dentro de nossos casulos sociais, numa constante metamorfose de ideologias, estamos seguros, e eu, que sempre fui propenso a me entregar, me feria de forma tão violenta, que eu jurava a mim mesmo que, jamais amaria outra garota, e jurei isso depois que Bianca se foi, então me surgiu uma velha amiga, Glória Baker, e me apaixonei loucamente outra vez, eu tinha um fraco por mulheres cujas formas dariam boas poesias, esse é o mal de dar criatividade a um romântico incurável feito eu! Mas eu mesmo executei a proeza de partir meu próprio coração, e, em vez dela ir embora e continuar sua vida, ela escolheu ficar do meu lado, e tenho amado-a desde então.
Depois de Glória, messes depois, mais ou menos precisamente, foi a primeira vez em que fui tomado por um amor puramente carnal, Hillary Bennett, que mulher!! Dos pés a cabeça, era uma morena maravilhosa! E foi a única também por quem nunca me declarei de fato, ela começou uma época de recessão na minha vida que perduraria. E foi com ela na cabeça que fui guiado para uma garota tão fantástica quanto, e ainda por cima tinha nome de flor! Amarílis.

 Amarílis era aquele tipo de pessoa que, só a presença já poderia arrancar-lhe sorrisos genuinamente verdadeiros, dotada de grande beleza, ela fazia a flor que levava seu nome parecer com um pedaço de terra infértil, ela era demais. No entanto, eu ainda seria o estrago de Bianca, e por isso ( e outros motivos ) eu não me declarei a ela também, o que me levou a que, talvez, fosse a paixão mais louca da qual já fui acometido, Eduarda Gordon, era muito mais alta que eu, e o que ela tinha de alta lhe faltava em juízos e parafusos! Ela tinha uma boca gostosa, isso eu tenho que admitir, na verdade, gostosa é o único suficiente adjetivo para ela, que possuía um corpo maravilhoso e um sendo de auto depreciação que dava dó, faltou coragem de minha parte para transar com ela. Por último, eu finalmente conheci e me encantei quase que instantâneo por Luana Mendez, uma jovem de rosto, corpo, andar, cabelo, sorriso, olhar, voz e todo resto estremamento fofos, era incrível, ela era pra mim o que um urso era para uma criança, tinha vontade de dormir abraçado com ela a noite inteira, acordar todos os dias com aquele sorriso seria a primeira vitória  do dia, e dali para lá seriam apenas coisas boas! Ah, queria tanto tê-la em minha vida, que, por fim, acabei me colocando em posição de nunca ter, sempre me auto depreciei demais, e isso sempre afastava as pessoas.

 Cada uma dessas garotas me exerceu um fascinio sem igual, uma sensação boa, um lampejo do amor que eu queria ter, mas que nunca fui capaz de reconhecer que eu poderia ter tido, hoje, eu poderia estar casado com qualquer uma delas, vivendo numa charmosa cidade romântica, escrevendo meus livros e vivendo em amorosa devoção a minha amada, ou ao menos teria algum tipo de contato com elas, mas faltou eu mesmo para eu ser feliz, e quando eu finalmente me encontrei, perdi minha oportunidade, deixei-as escapar no momento crucial, quando tudo entraria nos eixos, afinal, um amor fraco não sobreviveria as auguras do tempo, mas eu estava disposto a tentar.

 Cada vez que me recordo do passado, e elas surgem na minha mente, fico imaginando com seria minha vida se eu não tivesse tomado a decisão de afasta-las de mim, quase proposital, mas totalmente sem querer, sabia eu que iria sofrer com a partida, e me antecipei em ir, pois não sabia que elas escolheriam ficar. E acredite, aquilo corroeu-me quando tinha quinze anos, e agora, trinta anos depois, segue me corroendo.

 Várias e várias noites nas décadas que se passaram eu sonhava que voltava para escola e que tinha uma chance de concertar tudo, mas ai eu acordava, e já estava com idade, e chorava, pois aquilo parecia deveras real para mim. Meus sonhos são piadas cruéis da vida, eu que sempre a negligenciei, e ela resolveu me dar o troco, em partes.

 Como escritor, fiz sucesso, e não foi pouco, ganhei prêmios, mulheres e muito dinheiro, na França, as meninas faziam fila para me ouvirem falar sobre como eram lindas e seus amores como eram instigantes, e foi assim que as levava para cama. Aproveitei essa minha parte da vida em que gozava de boa saúde ao máximo, foi então que fui diagnosticado com depressão, e depois de relutar com fervor, cedi a ela, me tornei recluso e tudo que eu tinha aram aquelas mulheres que havia conhecido a quinze anos atrás vários livros para ler. Me mudei para Paris, e me isolei num chalé afastado, vivia lá com três empregados apenas, que moravam lá, jantavam comigo, e assistiam TV. Era o mais próximo que eu tinha de uma família, os contratei semanas depois que fiz trinta anos e era um jovem depressivo, e já estão comigo a quinze longos anos, foi então que Rúben, meu mordomo, se aproxima de mim com uma carta dizendo:

 - O senhor recebeu convites para fazer algumas palestras numa convenção de literatura em Veneza.

 Eu estudei a expressão dele e perguntei:

 - O que você acha velho amigo?

 - Já arrumei sua mala senhor.

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