Capítulo 12- muito menos "nada demais".

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All Star estava difícil de colocar. Talvez pelo cadarço estar amarrado, fazendo com que o sapato se tornasse mais apertado.

– Que droga! – Gustavo retrucou consigo mesmo.

Assim que conseguiu colocar os sapatos teimosos correu para a porta apressado.

– Onde o senhor vai tão bem arrumado?

Marta abriu a porta, antes que Gustavo tocasse a maçaneta. Ela passou por ele entrando em casa deixando-o por um momento sem resposta estatelado no batente.

– Mãe. Já chegou? – Disfarçou o susto.

Ela colocou a bolsa no sofá e sentou-se exausta.

– Você não respondeu a pergunta mocinho. Onde vai tão arrumado e tão perfumado desse jeito? Senti seu perfume da calçada.

– An, vou no centro com A Iva.

– Não deveria ficar na rua depois do que aconteceu.

– Ah mãe, não vou chegar tarde. Eu prometo!

Ela respirou fundo sem responder enquanto ligava a televisão. Não gostava quando o filho saia, ainda mais à noite. Gustavo desviou o olhar e pode notar que na sua blusa de seda havia uma enorme mancha de lama.

– Aconteceu alguma coisa? A senhora caiu?

– O que? – Percebeu que ele falava da mancha – Ah, não! Isso foi... foi apenas um retardado que passou a cem quilômetros por hora dando banho de lama nas pessoas que estavam na calçada.

– Nossa, que banho hein!

– Devia ver como ficou as outras pessoas. – Sorriu para disfarçar.

– É.... bom, vou lá ta. Não demoro eu prometo!

– Acho bom Gugu! Antes das onze em casa. Senão castigo por um mês!

– Pode deixar mãe. Fui.

Gustavo expirou o ar entre os dentes fazendo seus lábios tremerem, expulsando toda a apreensão e o nervosismo por mentir para sua mãe. Odiava fazer isso, porém algumas vezes achava preciso já que segundo ele eram mentiras bobas.

– Oi.

Wanderson assim que o viu descer do ônibus foi até ele abraçando-o. Usava uma calça jeans preta e uma blusa folgada da mesma cor com a estampa do SlipkNot.

Gustavo sentiu-se surpreso com o abraço tão caloroso no meio da rua. Imaginou que talvez fosse por estarem longe de casa. Longe dos olhos curiosos de pessoas conhecidas. Mas sua surpresa foi maior ainda quando Wanderson lhe tascou um beijo em plena calçada lotada.

– Você ta doido! Olha onde a gente tá. – Cochichou envergonhado.

Não entendeu por que seu amado apenas sorria do seu espanto como se fosse algo super normal na sociedade.

– Relaxa Gugu. A gente tá em Itararé. Aqui isso é normal.

Gustavo, boquiaberto não acreditava no que ele disse. Até que ele apontou com a cabeça um menino de cabelos castanhos sentado no colo de outro no banco do calçadão.

Quando viu dois garotos assim, tão próximos e tão despreocupados ele percebeu que naquele lugar as pessoas que iam e vinham por todos os lados não ligavam para a homossexualidade. E realmente casais de lésbicas, gays e heterossexuais foram quem ele pode perceber em cada canto ao seu redor.

Vingança DesvairadaOnde histórias criam vida. Descubra agora