E
ra de petrificar a espinha imaginar que teriam que sair dali quase pelados e andar pela cidade até em casa. Não, Gustavo não podia deixar isso acontecer. O que diria a sua mãe? O que pensariam os vizinhos ao vê-lo chegando em casa apenas de cueca?
– Eu vou atrás dele!
– O que? – Wanderson perguntava aos gritos, obviamente nervoso também.
Não havia tempo para explicações o ladrão estava se distanciando:
– Fica aqui Wander! Eu vou atrás dele, não se preocupe eu sou rápido.
Ao extremo do receio da vergonha que passaria se fosse embora daquela forma, Gustavo não demorou mais que dois minutos para subir a inclinação do morro, deixando a tão bonita paisagem que estava para trás.
– Mas que louco roubaria roupas? – Wanderson perguntava a si mesmo.
Correndo tão rápido quanto conseguia Gustavo se desvencilhava das farpas de galhos e plantas de diversos tipos que encontrava pela frente. Estava descalço, o que dificultava mais ainda pois a cada pisada em pedregulhos sentia uma dor fina na sola dos pés. Depois de correr por mais de seiscentos metros sem encontrar ninguém parou apoiando as mãos nos joelhos tentando recuperar o fôlego.
Olhou para cima tentando discernir que horas deveria ser, porém naquele local a mata estava tão fechada que mal podia ver o céu. Ouviu folhas sendo amassadas, provavelmente de passos que caminhavam atrás dele.
Começou a se virar para ver quem era. Antes que pudesse se voltar para trás completamente, foi saudado por uma paulada na cabeça que o fez perder o equilíbrio. Caiu no chão com a visão embaçada e uma tontura insuportável.
Ele forçava seus sentidos a não se apagarem de vez. O medo de receber outro golpe o obrigava a tentar ficar acordado. Nesse momento, conseguiu distinguir em sua visão turva alguém de blusa preta com capuz andar deixando-o para trás. Estava com as pálpebras tão pesadas que não conseguiu esboçar reação ao perceber uma mexa de cabelo ruivo fugir para fora do capuz. Então, fechou os olhos. Se entregando ao desmaio.
***
Marta já havia chegado em casa há três horas e nenhum sinal de Gustavo. Quando saia com a amiga ele avisava. No entanto agora parecera ter esquecido de informar sua mãe. Resolveu esperar mais um pouco para ligar na casa de Ivaneide.
Preparava a janta mais preocupada com Gustavo do que com os temperos. Foi quando o telefone fixo tocou. Limpou as mãos no avental antes de atender:
– Alô.
– Olá Marta. Como vai?
A voz de seu ex-marido era inconfundível.
– Ah é Você. O que quer?
– Me assusta a sua felicidade em ouvir minha voz. – Zombou o homem do outro lado da linha.
– Não tenho tempo pra sua gracinhas André. Tô ocupada, fala logo!
– Quero saber quando meu filho vai vir me visitar.
– Nosso filho! E não sei, não faço questão nenhuma que ele se enfie na sua casa.
– A sua vontade não me interessa Marta. Não se esqueça do nosso combinado.
Como esquecer que decidiram na justiça que Gustavo visitaria o pai ao menos nos fins de semana e também nas férias do meio do ano.
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Vingança Desvairada
Gizem / GerilimO que você faria se quando criança presenciasse um crime? Como ficaria seu estado emocional depois disso?E se depois, na adolescência esse passado ainda te assombrasse atrapalhando seu cotidiano e um grande amor que se inicia? Gustavo tinha ap...