Capitulo 10 - Atividade para nota

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ãe? Por que não bate na porta antes de entrar?

Wanderson tentava disfarçar seu constrangimento e sua vergonha lançando outra pergunta à Marcela que permanecia na porta atônita.

– Não muda de assunto moleque! Eu entro e saio de onde eu quiser dentro da minha casa.

– Mãe, calma. Não e nada disso que a senhora tá pensando, a gente só tava...

– Deixa de ser cara de pau Wanderson! Eu vi você em cima desse garoto beijando ele! Agora você virou gay?

Encabulado, Gustavo acompanhava de cabeça baixa o momento de aflição de seu amado tentando se explicar para a mãe. Em seu rosto, mesmo ele não sendo de cor branca, podia-se notar o enrubescimento de vergonha.

– É....desculpa. É melhor eu ir embora.

Tudo que mais queria era fugir daquela situação.

– Espera, eu vou com você. – Anunciou Wanderson indo atrás dele.

– Não, não precisa. Eu pego ônibus de novo pra voltar Wander brigado.

Não se preocupou em nunca ter pisado na casa, saiu porta afora lembrando o caminho que tinha passado para entrar. Não só pela vergonha de ter sido flagrado aos beijos com o filho da dona da casa, mas também por não saber o que conversaria com Wanderson depois do acontecido. Não queria ficar mais ali.

– Responde Wanderson! – Marcela gritava nervosa – Então foi por isso que você terminou com a Cris?

Wanderson sentou na cama cabisbaixo:

– Eu não sou gay.

– Ah, não? Então o que foi isso que eu acabei de ver?

– Que gritaria é essa aqui? – Henrique, o pai de Wanderson apareceu no quarto de repente.

Wanderson olhou para seu pai que já vestia um samba canção e estava sem camisa pronto para dormir. Normalmente ele vestia camisa e calca social para comandar o restaurante, no entanto seus cabelos loiros pareciam sempre arrumados com aquele corte curto e arrepiado.

Ele abriu a boca para iniciar frase, ia dizer ao seu pai o que houve porque sua mãe podia falar a qualquer momento. Foi interrompido por marcela:

– Nada. Parece que seu filho não quer dormir para acordar cedo pra escola. Vamos deitar.

O garoto fitou-a sem entender. Por que ela mudara de assunto do nada? Tinha vergonha de comentar com o marido o que viu, ou medo da sua reação? Não sabia, mas sentiu um grande alívio quando viu os dois saírem e fecharem a porta.

Marcela entrou no seu quarto e sentou em frente a penteadeira de cor verde água. Enquanto se olhava no espelho tirando os brincos, voltou-se para seu marido que estava logo atrás se acomodando na cama:

– Você sabia que o Wanderson terminou com a namorada?

– Sim, o que que tem?

– Não acha estranho? Uma garota linda daquela, que todo adolescente desejaria como namorada?

– Adolescentes começam e terminam namoros Amor, isso é normal.

Ela queria tocar no assunto. Porém tinha receio da reação de Henrique.

Balbuciando nas palavras, arriscou:

– E se nosso filho for gay?

– O que? – Henrique a encarou – De onde você tirou isso?

– Nada, e só uma dúvida. – Disfarçou voltando a se olhar no espelho

– Ora Cela, não é porque o menino terminou com uma namoradinha que ele seja gay. Eu hein, tira essa ideia da cabeça.

Ela engoliu em seco e continuou se preparando para dormir enquanto seu marido virava para o outro lado, ajeitando sua cabeça no travesseiro sem dar a mínima importância ao comentário da esposa.

O dia amanheceu. Nas ruas estudantes apressados para a escola, senhores de idade acostumados a caminhar cedo e trabalhadores correndo para não se atrasarem; enfeitavam as ruas da cidade.

Wanderson foi para a escola de carona com seu pai como de costume. Mas dessa vez atrasado por ter dormido demais. Chegou no colégio quando todos já estavam na sala e a lousa com a metade já preenchida de matéria.

Olhou para Gustavo que sentava no outro canto da sala. E como sempre sentava na frente de Ivaneide e agora parecia evitar olhá-lo nos olhos.

"Ele deve estar com vergonha" – pensou Wanderson.

O professor de Ciências exigiu que copiassem a matéria em trinta minutos e no final desse tempo anunciou.

– Todos para a biblioteca. La formaremos duplas para um trabalho que quero ainda hoje pronto.

– Posso ir no banheiro antes professor?

– Sim Ivaneide. Rapidinho temos só mais uma aula.

Os alunos se levantaram, alguns reclamando do trabalho surpresa, porém obedecendo a ordem.

Já na biblioteca, Gustavo sentou em umas das mesas redondas com espaço para até quatro pessoas que naquele momento tinha apenas duas cadeiras enquanto esperava Ivaneide chegar do banheiro.

Foi surpreendido pela figura loira de Wanderson que se pôs em sua frente.

– Me evitando?

– Que? Não! Claro que não! – Gaguejou sem levantar o e olhar para ele.

– Então por que não me olha nos olhos? – Wanderson sentou na cadeira vaga que não ficava a frente, mas ao lado de Gustavo.

– É que...eu... – respirou fundo – Desculpa. tô com medo do que você vai dizer depois de ontem. Essa noite nem dormi direito pensando nisso. Eu... eu...

– Calma. – Wanderson tocou na sua mão por baixo da mesa – Não precisa ficar assim. Não gostou?

– É claro que eu gostei. Eu sou homo...– evitou falar a palavra com tantos alunos por perto – Você sabe. Mas a questão é que não sei o que você é. Tenho medo que você não tenha gostado.

– O que importa mais? O que eu sou, ou o fato de eu ter curtido?

Gustavo mal podia acreditar no que ouvia. Ele teve namorada. Não tinha esperanças com ele desde que o vira com Cristiane. O que aconteceu poderia ser coisa de momento apenas. Mas não, o menino que despertara seu interesse desde o primeiro dia de aula estava ali, afirmando para ele que tinha gostado.

– Então você curtiu? – Perguntou com um enorme sorriso no rosto.

O professor com os óculos de graus tão fortes que faziam seus olhos ficarem gigantes atrás das lentes se aproximou alertando:

– Vamos lá vocês dois. – Colocou um livro na mesa e duas folhas de sulfite impressa – Lendo a página cento e trinta e cinco e respondam as questões da folha por favor. Não temos muito tempo, sem conversa.

Wanderson recolheu sua mão rapidamente e sorriu para Gustavo ao perceber que o professor entendeu por engano que eles formaram uma dupla.

Ivaneide entrou na sala e quando viu os dois pombinhos juntos não evitou formar dupla com outra aluna que estava sozinha.

Todos se aquietaram prestando atenção na leitura da matéria. E pela primeira vez Gustavo tinha seu amado junto a si em uma atividade na sala de aula. Tão lindo quanto dormindo, era vê-lo franzindo a testa tentando entender algo que lia na página do livro.

Se perguntava como seria dali para a frente. Toda a timidez e a vergonha ficou para trás. Mas será que Wanderson aceitaria namorar com ele, ou apenas gostou do que aconteceu sem maiores expectativas?

Bom, só o tempo diria. Tentou com muito esforço se desligar da presença do garoto de franja à sua frente e se concentrar nas perguntas da atividade para nota.

Vingança DesvairadaOnde histórias criam vida. Descubra agora