Parte 1

371 9 0
                                    


.
Nunca tentei explicar os motivos que me levaram a ser como sou hoje, pois a vida nem sempre foi justa comigo.
Trabalhava na roça, junto aos meus pais por toda a minha infância.Tenho algumas boas lembranças com eles.
Minha mãe sempre muito carinhosa e atenciosa comigo, meu pai sempre me carregava no colo. Em certos momentos eu fui feliz com eles.  (Como eu queria voltar no tempo para sentir o cheiro da minha mãe novamente:( ).
Eu fui crescendo, me transformando em uma mocinha linda, com curvas acentuadas, boca carnuda e umas coxas roliças. Notei que meu pai sempre me dava uns tapinhas na bunda, mas nunca imaginei o pior.
Um dia, terminamos a colheita de café e fomos para a casa (eu já tinha 17 anos, prestes aos 18) .
Chegando em casa a mamãe não estava bem e foi se acostar mais cedo, deixando a responsabilidade do jantar e cuidar dos meus irmãos, para mim.
Fiz a janta, dei banho nos meus dois irmãos... Pedro tinha 5, Joaquim 6 . Os coloquei  na cama para limpar a cozinha.
Meu pai começou a beber e a me tocar, :( não consigo narrar o que eu passei, guardei somente para mim. A única coisa que consigo falar sobre aquela noite, foi que meu pai tirou a minha própria inocência.
Tentei falar com a minha mãe, desconheço as razões dela, mas ela como não queria acreditar nisso, então eu tomei uma decisão.
- Vou embora para o Rio De Janeiro trabalhar de doméstica na casa de alguém, mas aqui não fico mais !
Antes de sair na calada da noite, dei um beijo longo em meus irmãos e na minha mãe enquanto dormiam, eu sabia que não voltaria a ver-los nunca mais.
Saí com uma bolsa pequena nas mãos, o suficiente para sobreviver por alguns dias e fui para a BR pegar carona.
Não sei se Deus estava do meu lado naquele dia, mas foi só levantar o dedo que parou um caminhão que estava indo exatamente para o Estado do Rio de Janeiro. O caminhoneiro foi bem legal comigo e diferente do meu próprio pai, não me faltou o respeito.
Passamos o dia todo e a noite toda a caminho do Rio de Janeiro, e finalmente chegamos. Era tudo grande no centro da Cidade... uns prédios enormes e muita gente caminhando para lá e para cá. Meu plano de chegar no Rio deu certo, mas não tinha feito planos de como sobreviver.
Tive que dormir na rua por uns três dias, e até pedir dinheiro, eu pedi para comer. Ninguém parava para me ajudar como na roça, ninguém se importava com ninguém e isso me deixou desesperada sem saber o que fazer. Já estava pensando em até me matar, mas voltar para casa dos meus pais, isso não iria acontecer !
De repente uma moça linda, perfumada passou e eu a chamei  e disse: - Moça me ajuda, precisa de doméstica na sua casa?
Ela com pressa e querendo terminar a conversa me disse que não, que também não era do Rio e sim do Piauí, estava no Rio a passagem.
Me deu uma crise de choro tão grande, que a moça decidiu me escutar devido ao meu desespero.
Fui honesta,contei meus motivos para estar ali e então ela decidiu me ajudar.
Ela disse eu sou Yasmin, como é seu nome? Eu disse, sou Maria, Maria das Dores.
Ela começou a rir e disse Maria, levanta e vamos para minha casa.
Ela fez algumas ligações e se comprometeu a pagar por mim. Nossa estava muito grata àquela moça, afinal ela foi a única que teve misericórdia de mim.
Chegando nesse apartamento, notei que tinha várias beliches e várias moças dormindo no mesmo apartamento. Eu fiquei no mesmo quarto que a Yasmin, e dividi com ela o guarda roupa.
Curiosa, eu perguntei quem era aquelas meninas, ela disse:
- Somos garotas de programa.
Meu Deus, onde eu vim parar...?!?

Novela da Vida Real: Garota de ProgramaOnde histórias criam vida. Descubra agora