Eu terminei a ligação e fui chorar, me culpava muito por ter esperado todos esses anos e ter feito minha mãe sofrer.
Eu deveria ter deixado a situação do meu pai de lado e tê-la apoiado, ter dado a chance dela cuidar da Sophia e do Kaleb. Minha cabeça "chega dói", de tanto que me culpo por essa decisão.
Meu choro foi tanto, que o Kenneth pediu para que eu fosse para o Brasil passar os últimos meses de vida dela, com ela.
Deixei tudo preparado na empresa com a gerente, me preparei e fui rumo aonde tudo começou.
A mamãe estava bem feliz que eu estava chegando com as crianças. Ela curtiu bastante meus filhos junto aos meus irmãos e eu.
Eu levantava cedo como era de costume e ajudava na roça, sim, na roça, porque mesmo doente ela não parou nenhum minuto.
Ja se tinha passado dois meses quando eu notei que a situação piorou e mesmo pagando o melhor que a medicina podia proporcionar, somente Deus poderia operar o milagre.
Ela começou a não querer levantar da cama, a não comer e minhas visitas ao hospital aumentava cada vez mais.
Depois de 15 dias nessas idas e voltas ao hospital, eles decidiram internar a minha mãe e após alguns dias ela ja estava na UTI.
Como me doía ver a mulher mais forte que eu conheci assim... sem forças, e o pior, eu não podia fazer nada. Meu coração me pedia para levar as crianças ao hospital para que ela pudera vê-los mais um pouquinho e assim eu fiz. Meus irmãos trouxeram Sophia e Kaleb para a visita, mesmo sem forças pra falar, ela sorria e apertava a mãozinha deles. A Sophia a beijou e disse, obrigada vovó, eu passei momentos maravilhosos com você e logo após, ela começou a chorar.
Tadinha, a minha pequena sabia que algo estava para acontecer.
Pedro levou as crianças para casa, porque eu iria dormir lá, não ia sair do lado dela nenhum minuto, não iria perder mais nenhum tempo. Quando foi cinco da manhã ela despertou e disse para chamar os meninos. Eu liguei pra casa e todos chegaram, em questão de 15 minutos todos já estavam em alerta.
Então ela disse: "Dasdor, você é a única menina e a mais forte da família, para que eu vá em paz, eu preciso que você me prometa que nunca vai largar seus irmãos novamente." Eu disse que claro que cuidaria deles, mas nada iria acontecer com ela, que tudo isso ia passar e eu ia fazer até uma festa quando ela voltasse para casa.
Mas infelizmente não foi assim, meia hora depois da nossa conversa, o hospital escutou o meu grito de desespero. O grito de uma filha sem a mãe, um grito de uma órfã, um grito de dor.
Nem sei como descrever a dor que senti e sinto desde que ela se foi, mas digo que, não desejo isso para meu pior inimigo.
A vizinhança toda veio, me abraçava e aos meus irmãos. Traziam algo de comer. Fizeram um culto antes de enterrá-la e, a todo tempo eu pedia a Deus em silêncio que fizera um milagre e a trouxesse à vida. Mas nada aconteceu, talvez porque Deus não quis assim.
Depois do enterro todo mundo foi para a casa e ficamos somente meus irmãos e eu, com as crianças.
Comi a comida que os vizinhos trouxeram, dei para as crianças e meus irmãos, e fomos dormir.
Kenneth chegou no outro dia, como sempre ele me apoiando em meus piores momentos.Com isso tudo eu aprendi que, nem tudo na vida tem preço. Se pudesse trocaria toda a minha fortuna para ter a minha mãe de volta.
Agora só me resta a piedade de Deus para me consolar no tempo certo.
Ajeitei toda a casa como ela sempre gostou e conversei com os meus irmãos sobre a hipótese deles morarem em Noruega. E por mais que eu desse mil e uma razões para eles morarem na Europa, eles decidiram ficar lá.
Eu sei bem o porquê, o cheiro da mamãe e a lembrança da mamãe era algo impossível para eles deixarem para trás.
Hoje em dia, todas as férias que temos no ano eu vou pra lá, colher café, colher cebolinha verde e coentro.
E toda vez que eu estou na roça eu olho para a plantação e lembro que ali foi onde vivi os melhores dias da minha vida . Agora só me restam lembranças, lembranças de uma infância sofrida, de dores, mas ao mesmo tempo experimentei o amor mais puro que existe, o de mãe pra filho.Filhos, honrai Pai e Mãe para que seus dias sejam prolongados na terra.
Fim!
😥
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Novela da Vida Real: Garota de Programa
RomanceNunca tentei explicar os motivos que me levaram a ser como sou hoje, pois a vida nem sempre foi justa comigo. Trabalhava na roça, junto aos meus pais por toda a minha infância.Tenho algumas boas lembranças com eles. Minha mãe sempre muito carinhosa...