Depois desse episódio eu me afastei de tudo e de todos e comecei a me auto mutilar todas as noites antes de dormir, quando estava sozinha no meu quarto.
Na época eu descobri como tirar a lâmina do apontador com um alicate de unha e o fiz. Assim que a minha avó saia do quarto depois de fazermos o pai nosso juntas eu pegava a lâmina na primeira gaveta do meu criado mudo e passava, com pouca força, pelo meu pulso.
Nunca cheguei a precisar de pontos ou, ao menos, ir para o hospital, mas sempre saia um pouquinho de sangue e eu ficava lambendo o local só para sentir o gosto dele junto com o gosto metálico que a lâmina deixa.
Nunca contei para ninguém sobre isso, o bullying começou a piorar, e na quinta série eu já estava chegando no meu limite. A relação com a minha mãe piorou muito e eu me sentia cada vez mais sozinha.
Eu já não me sentia como as garotas da minha idade, pelo contrário, eu as achava um tanto estúpidas quando reclamavam dos seus problemas com matemática, os sentimentos pelos garotos e, o maior deles, não ter o pink v3, o celular mais amado e comprado da época.
Parei de fazer todas as aulas extra curriculares e as minhas notas começaram cair cada vez mais. Lembro-me do meu aniversário de onze anos, a minha mãe estava viajando e, para tentar compensar, ela deixou a minha avó me comprar um celular.
Acabei aceitando porque achava que o bullying melhoraria se eu tivesse um celular, mas infelizmente eu ganhei um celular semi usado, a frustração era tanta que no dia seguinte eu resolvi que tentar me matar não faria nenhum mal enorme.
Naquela noite eu coloquei um pouquinho mais de força na lâmina e tentei dormir, apesar da dor, acreditando que eu não despertaria no dia seguinte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A garota que você destruiu - Volume único [Concluído]
General FictionPLÁGIO É CRIME - Reservados todos os direitos à Tutty Lancellotti. © Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida por fotocópia, microfilme, processo fotomecânico ou eletrônico sem permissão expressa da autora. Quantas vezes é possível se sentir...