Capítulo um: Normal...

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Theo

Sentindo-me com muito sono, mesmo acabando de acordar, mesmo com o despertador gritando ao meu lado, sabia que hoje seria um dia bastante estranho.
Levantei da cama, não totalmente, pois a preguiça de saber que teria de ir para a aula logo cedo grudava o meu traseiro em meu conforto. Sempre me perguntei se essa era a sensação de estar bêbado, mas eu nunca quis descobrir. Tentei recordar do sonho que acabei de ter... Talvez tivesse um castelo, ou seria uma igreja? Não consigo lembrar.
Queria voltar a dormir mas os gritos de minha mãe, Ana dos Santos Aguiar, se estendia da sala até a porta de meu quarto:

— Theodoro! Já é quase meio dia! Levante-se agora! — Sua voz zumbia de tal forma em meus ouvidos que me fez despertar no mesmo momento.

Resolvi olhar no despertador... Cinco e meia da manhã do dia dez de Março, sexta-feira... restando uma hora e meia para outra vida no ensino médio.

Dessa vez, tive que levantar. Tomei um banho, escovei os dentes e vesti a farda do Colégio, que não passa de uma camisa branca escrito no lado esquerdo "Escola Professor Júlio Pharias", uma calça azul, tênis e meias pretas.
Ao sair, logo fui recebido pela minha mãe.

— Garoto, estou a duas horas chamando você! — Logo ela disse. — Está atrasado!

— Mãe, percebeu que há hipérboles demais nas suas frases! — Respondi indo direto para a mesa em que apenas continha uma garrafa de café quase vazia, alguns pães e um pote de margarina com uma pequena faca logo acima dela.

— Não estou pedindo palavras estranhas! — Continuou ela franzindo a testa.

— Ele está dizendo que você está exagerando, amor! — Disse meu pai, Thomas Aguiar, também acabando de acordar. — E ele tem razão, ainda resta uma hora para começar a aula.

Ela suspirou, jogando seus cabelos loiros para o lado direito do rosto.

— Eu apenas quero me assegurar que nosso filho não perca aula!

— Tenho certeza que meu guerreiro está indo bem! — Concordou enquanto ria da cara que minha mãe fez, sabendo que ela não gosta que me chamem assim.

Sempre gostei desse apelido, meu pai brincava comigo dizendo que ele era um Semi-deus (Filho de um deus com um humano) enquanto eu era um guerreiro que acompanhava em suas aventuras. Minha mãe nunca gostou disso, deve ser porque alguma coisa sempre acabava quebrando no final. E a última vez que fizemos algo assim foi em meus dez anos quando acertei sem querer a vassoura, fingindo ser uma espada, no rosto dele causando uma cicatriz. A Dona Ana ficou uma fera.

— E Guerreiro, tenho uma surpresa... — Ele fez uma pausa. — Consegui um emprego, logo serei o novo médico de Santarém!

Apenas a minha mãe aplaudiu e o presenteou com um beijo.

Tudo o que fiz foi morder um pão e tomar um gole de café:

— Que legal, posso ser o seu primeiro paciente? — Comecei a brincar.

— Me diga, onde é o seu problema? — Acompanhou ele olhando para mim fingindo estar preocupado.

— A minha nádega esquerda não para de doer!

— Isso é um problema muito grave! Talvez eu deva aplicar uma injeção.

— E qual é o remédio? — Eu já estava terminando o café, o que achei estranho pois eu não parava de sorrir.

— Bundostarol!

Nós caímos na gargalhada e sem querer cuspi o que restou do café. Minha mãe olhava para nós com cara de desaprovação.

Série: Domadores - Livro Um: CorcéisOnde histórias criam vida. Descubra agora