Capítulo três: Enquanto o tempo passava...

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Damia

— Para onde acha que eles vão nos levar? — Perguntou Theo, sentado entre a parede e a cama do meu quarto e encarando o nada.

Ele esteve me ajudando a guardar as minhas coisas na mala. Sua aparência era normal, mas para quem o conhece a mais tempo, como eu, irá perceber que ele nunca mais penteou o cabelo (por mais que pareça natural estar bagunçado), seu olhar é sempre como de paisagem e sem expressão, mas agora ele olha para todos os lados e ao mesmo tempo para o vazio esperando alguem sair de lá, possuir o seu amigo colocando uma voz sinistra nele e depois matá-lo. E por mais que ele não saia muito de casa ele aparenta ser mais pálido. Essa é a primeira vez que ele vem até a minha casa sem que eu o chame... Na maioria das vezes era eu quem ía na dele (Eu quero dizer a casa), mas nas outras os pais dele sempre o fizeram ir quando eu o convidava. Talvez a culpa seja do caderno dourado que ele deixou guardado na mochila que está em cima da cama, em seu quarto e agora ele não esteja sendo o Theo de costume: o indiferente, o que nunca é surpreendido e gosta de jogos eletrônicos.

— Será que eles querem nos distanciar da cidade para tentar esquecer da morte de Carlos? — Disse aquilo como se não soubesse da verdade (O que não é totalmente mentira!) e, é claro, a resposta que eu recebi foi negativa.

— Ninguém oferece uma viajem logo após a morte de alguém. É meio incorreto tentar "dançar" enquanto muitos estão de luto! — Ele fez aspas com os dedos ao dizer dançar.

Theo e eu perdemos o funeral de Carlos, estávamos no hospital quando tudo aconteceu. Mas soubemos que quem ajudou foi o próprio diretor e alguns alunos. Apesar de poucos gostarem do jeito barra-pesada dele ninguém quis ser mal-educado.

E parece que muita coisa aconteceu conosco, até o sonho que eu tive no hospital... O sonho que ainda mantenho escondido.

Me vi no topo de uma montanha florida olhando para o horizonte. Estava pisando em grama e logo à frente havia uma imensa floresta colorida, algumas das árvores eram verdes, ou amarelas ou até mesmo branco. E logo no final, bem longe havia uma ruína estranha, semelhante a um castelo ou mansão romana. Suas torres eram amareladas e toda desgastada. Uma delas começou a cair e fez um estrondo gigante que não escutamos em sonhos comuns.

— Está enfraquecendo. — Disse uma voz doce e calma ao meu lado. Mas eu não virei para saber quem era, não queria tirar os meus olhos daquela paisagem. E não consegui responder, parecia que eu estava engasgada. — Ao menos, eu estou tentando enfraquecê-lo. Mas não consigo mais que isso. — Ela parou por um segundo. — Nenhum deus consegue receber as minhas mensagens. Mas descobri alguém que me escuta, infelizmente ele esquece de tudo o que acontece. Independente disso, me alegro que eu tenha encontrado mais alguém para compartilhar este local.

Tentei virar o rosto, mas uma mão quente e confortável segurou meu rosto contra a minha vontade para a direção do castelo.

— Não! Eu quero que você preste bem atenção. Não perca nenhum detalhe sobre este lugar!

Eu não sei o que ela quis dizer com isso. Não tinha como saber que lugar era esse. Era a primeira vez que estava vendo isto. Tudo o que havia era...

Não! Espera um pouco! Disse à mim mesma pelos pensamentos ao perceber que ela forçava o meu rosto um pouquinho mais para baixo. Há algo mais!

Bem no centro daquela Floresta Arco-íris havia uma árvore seca, sem nenhuma folha, tão escura quanto qualquer outra árvore que conhecia.
Eu senti um arrepio sinistro pelas minhas costas. Percebi que a mulher atrás de mim sorriu confirmando que era isso que eu precisava ver.

Série: Domadores - Livro Um: CorcéisOnde histórias criam vida. Descubra agora