O mundo eterno pt2

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 Quando cheguei em casa apenas Ib estava lá, sentada no sofá com meu diário em suas mãos. Ela havia lido, eu tenho certeza que leu... eu certamente deveria ficar bravo ou chateado por ela ter lido algo tão pessoal, mas era tudo sobre ela, tudo sobre nós.

—Ib, você leu meu diário sem minha permissão? —Falei trancando a porta de casa. 

— Sim. —Ela disse seca e se aproximou de mim, puxou minha blusa e me beijou. —Eu deveria... estar narrando para vocês mas estou voando muito longe para pensar, eu tinha certeza de que era isso que eu queria. Ela me abraçou forte depois do beijo, e eu não podia estar mais feliz, até me esqueci por um momento da conversa tensa que tive com Mary, ao lado de Ib eu era o Garry, só o Garry, sem essas loucuras todas de Guerterna... acho que eu já fiz minha escolha.

—O que Mary te disse? —Ela pegou minha mão e me guiou até o sofá, onde nos sentamos.

— Ela quer que um de nós fiquemos com ela pela eternidade, ela quer que eu crie um mundo onde pudéssemos ficar juntos, como Guertena ela quer que eu crie quadros e a crie como filha nesse mundo.

— Isso é loucura! Você talvez nem seja o pintor da galeria, além de que só um de nós?! Ela realmente quer tanto assim que alguém acabe sozinho?!

—De certa forma foi o que fizemos com ela, a deixamos sozinha e ainda a matamos. Eu sei que não somos pessoas ruins, estávamos assustados e bem... era nossa vida ou a dela, o termo correto é que fomos egoístas.

—O que vamos fazer? —Ela suspirou se deitando sobre meu peito.

—Quanto a isso eu não sei, mas... —Tentei ficar calmo, mas minhas pernas tremiam. —Ib, seria um momento ruim para te pedir em namoro?

—Eu pensei que não fosse fazer isso nunca. —Ela me abraçou e nos beijamos, hoje sem dúvidas eu estava feliz.

 No restante do dia ficamos jogando juntos, comendo porcaria e bem, falando sobre o que sentíamos e relembrando da galeria... essa parte foi meio ruim, mas uma hora teríamos que conversar sobre aquela época.

—Talvez a gente deva uma pra Mary... o problema é como criaremos esse mundo, nenhum de nós temos dons artísticos e muito menos sabemos como colocá-la nas pinturas.

—Eu... na verdade pinto. Desde aquele dia eu tenho criado vários quadros, é minha pequena galeria, sabe... eu tentei recriar um lugar mais bonito que aquele que vivemos, mas o problema é que eu não incluí Mary, afinal ela quase tentou te matar. Se ela visse aqueles quadros, certamente me odiaria ainda mais.

—Eu posso ver os quadros? —Ela perguntou com uma expressão um pouco mais séria. —A levei para o quarto, era o maior da casa mas eu o deixei vazio justamente para ter mais espaço... a expressão de Ib parecia meio triste ao olhar para os quadros, e eu já desconfiava do porquê.

—Em todos você nos fez afastados, há sempre um espaço entre nós em todas essas pinturas... foi proposital?

—Sim, era como eu achava que seria depois daquele dia... eu não tinha seu número, não sabia onde morava, só sabia seu primeiro nome. Eu só me toquei depois que foi uma despedida, e então a única coisa feliz nesses quadros são as paisagens e o clima agradável, porque nós sempre estávamos juntos, mas estávamos distantes. 

— Agora estamos juntos, então tem que começar a refazer todos. —Ela riu enquanto me abraçava. —Ela estava certa, mas... ao olhar aqueles quadros eu tive uma ideia, uma ideia que talvez leve todos nós para o "Happy end".


Eu me lembroOnde histórias criam vida. Descubra agora