As Lágrimas

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     - Ok, Amélia Blanc, estou sentada, já pode me contar o que está acontecendo! Aliás não deve ser nada demais, o gato caiu do telhado? - digo rindo, mas percebo que ela está séria.
    - Dália, não sei como te dizer, talvez isso te afete mais do que parece...
    - FALA LOGO! - ordeno.
    - Noah estava voltando para cá...
    - Que notícia maravilhosa! Por um minuto fiquei preocupada vovó.
    - Mas... Ele tentou cortar caminho pela floresta, o cavalo escorregou nas pedras do riacho, fazendo com que ele caisse batendo a cabeça e afundando no rio...
    - Está tentando me dizer que Noah morreu? HAHAAHAHA OK gente eu não cai na pegadinha, já pode sair de onde está escondido Sr. Noah.
    - Dália, eu estou falando a verdade.

     O tom de sua voz foi tão frio, que nunca me esquecerei daquelas palavras, eu não senti tonturas, não senti dor, apenas não senti nada, fiquei olhando para um livro por alguns segundos até que minha ficha caisse.
    - Onde está o corpo dele?
    - Não foi encontrado, eles procuraram por todo o riacho mas...
    - Chega! - disse com autoridade - não quero ouvir seu porém, não quero ouvir sua voz, ele está morto! NOAH ESTÁ MORTO.

     Aquelas palavras fizeram meu coração quebrar, foi como se alguém tivesse o tocado, fazendo com que ele simplesmente se tornasse uma pedra de gelo, fria, pesada, faltando algo, meu estômago começou a se revirar,minha cabeça girou, eu não podia desmaiar, aguentaria firme e forte, não seria fraca, teria que seguir....Mas....Não dava... Corri para meu quarto e bati a porta com tudo, a primeira lágrima saiu e já não conseguia conter mais, aquilo começou a me corroer, lembranças eram jogadas em minha visão, momentos especiais, meu primeiro beijo com ele, nossos encontros, a floresta, nossos aniversários, CHEGA ISSO TEM QUE PARAR!!!! agarrei a primeira coisa que vi pela frente e joguei com toda a minha força e raiva descontando tudo que tinha acontecido.Coloquei a mão na boca em surpresa ao ouvir o barulho do vidro se quebrando, e só aí percebi que havia jogado o porta-retrato com a nossa foto, a primeira foto desde que começamos a namorar, não aquilo não podia estar acontecendo, fui até os cacos de vidro, retirei a foto descobrindo um corte em minha mão feito por um pequeno caco, o que importa? Aquilo representaria a minha dor, olhei a foto por alguns instantes, fui até minha cômoda e encontrei o diário que Noah havia me dado de presente, abri e comecei a escrever.

Querido diário,

                               Hoje, por incrível que pareça me diverti muito enquanto estava na cidade, porém cheguei e recebi uma das piores notícias de minha vida, alguém cujo amava muito se foi, você deve estar se perguntando, será que ela está bem? Não, não estou e posso piorar quando tiver que enfrentar os parentes próximos a ele, quando tiver que enfrentar milhares de pessoas me perguntando se estou bem e eu apenas dizendo " sim estou, obrigada" quando na verdade estou em mil pedaços que foram levados pelo rio rumo ao Oceano, frio, mas que ainda assim abriga milhares de vidas e continua firme, é assim que vou ser, outras pessoas precisam de mim agora, e eu quero ajuda-las, mesmo que eu esteja me matando por dentro.
                                                   Até breve.
                                                        Dália
        
     Deitei silenciosamente em minha cama e chorei, chorei enquanto pude, derramei tudo que estava preso, descontei minha dor, minha raiva, aflição, pensamentos, apenas derramei, aquele momento era meu, eu precisava daquilo, tudo foi tão intenso que cai em um sono profundo.

    - Dália querida, por favor acorde!
    - O que foi ?
    - Me desculpe te incomodar, sei que está sendo difícil, mas você precisa se arrumar, o memorial é daqui a pouco, e você tem que ir, sabe disso.
    - Me espere e já ficarei pronta.

     Fui a meu guarda-roupa, e pensei, preto, qual o motivo dessa cor? Garanto que em seu memorial Noah gostaria de que usássemos cores alegres, mas respeitaria essa cultura, peguei meu vestido rendado até os joelhos, vesti, dei uma arrumada em meu cabelo, e já estava saindo, porém lembrei de uma coisa que não deixaria para trás, a presilha brilhante que ele me deu a tempos atrás e o colar, sim eu iria usar, aquilo me faria estar com ele de alguma maneira.

    Chegamos a casa dos Bensoar e como havia previsto muitas pessoas, algumas até que nunca tinha visto na vida, todas chorando, OK, mas elas pelo menos conheciam Noah para tentarem fingir algum sentimento? Todos hipócritas, aquilo me dava nojo. Avistei sua mãe, e seus irmãos, justamente quem eu realmente queria ver, andei em linha reta e ignorei por completo aqueles que falavam comigo, abri os braços e dei um grande abraço na Sra. Bensoar, de imediatamente ela começou a chorar novamente, o que também me fez chorar
     - Ele te amava muito querida - ela sussurrou em meu ouvido.
     - Não mais que a senhora, e ele estaria dizendo a você para não se preocupar, pois agora ele irá para um lugar melhor.
    - Obrigada, te admiro muito Dália.
    - Eu te admiro mais ainda Sra. Bensoar.

     Olho ao meu redor e vejo o caçula chorando, me abaixo e o abraço.

     - Hey, como pode um principezinho desses chorar? - ele abriu um sorriso.
     - Dália, eu te adoro, promete nunca me abandonar?
     - Prometo Carlos, eu sou sua irmã oficial agora - ele aumenta o sorriso e me abraça mais forte.

      Fui sincera, não iria abandona-los só porque não era mais nada dá família, olhei para minha esquerda e vi Isobel, a irmã do meio, tinha seus 14 anos, quase não falava com ela, mas sabia que era uma pessoa boa, e sem frescuras.

   - Isobel - chamei sua atenção - eu quero...
     Ela me abraçou e simplesmente chorou em meu ombro, aquilo me levou no chão, me fez em pó.

    - Estou com você, e não vou te largar, conte comigo para tudo - dei um beijo em sua testa.

    A cerimônia começou oficialmente com sua mãe falando algumas coisas, logo em seguida seu pai, irmãos, alguns tios e tias, e.....

    - Vocês devem se perguntar, porque a namorada dele? Talvez porque eu sabia tudo ou quase tudo sobre ele, eu ouvia suas angústias, sofrimentos, momentos de alegria e tudo em sua vida tinha uma razão. Sou a prova viva de que ele não iria querer seus pais chorando, ele iria querer ver seus sorrisos estampados ao se lembrar de cada momento que viveram juntos, inclusive das brigas, ou piadas sem graça, a questão é que quando uma pessoa falece, devemos chorar, descarregar tudo o que temos no peito, mas rir porque essa pessoa esteve conosco, vivendo momentos incríveis. Todos morremos, porém quando ficamos e outra pessoa vai, temos que seguir em frente, viver nossa vida, e tentar ajudar outras pessoas, devemos colocar metas a se cumprir, e devemos mais que tudo honrar a memória de quem se foi.

    Terminei meu discurso e me senti mais leve, tentei passar tudo o que estava sentindo e mostrar que devemos seguir em frente mesmo que doa.

    - Dália - me virei e vi Sra. Bensoar - por favor, continue vindo em minha casa, me fazendo companhia, e realmente muito obrigada pelo discurso, acho que todos aqui precisávamos disso.
    - com certeza virei, e fique bem OK, sei que dói, mas podemos passar por isso juntas.
    - obrigada, vá com Deus Dália, e volte sempre.

    Encontrei minha vó e voltamos para casa, entrei peguei meu diário, disse para minha vó não me esperar, fui ao estábulo, peguei Sr. Françoa e parti rumo ao rio, o lugar com as melhores e piores lembranças de Noah, o lugar onde ele ficou eternamente. Cavalguei até a entrada, amarrei como sempre meu cavalo e fui a árvore que sempre me sentava.

  Querido e eterno Noah,
           
Você ficará para sempre em meu coração, irei cuidar de sua família como você cuidaria, ajudarei seus irmãos, e o mais importante, juro seguir minha vida, e faço isso por nós dois.
                                                 Te amo,
                                                    Dália.

    Peguei a carta, dobrei e atirei no rio, observando seus movimentos até que fosse junto ao curso dá água, levando para sempre minhas palavras.

DáliaOnde histórias criam vida. Descubra agora