Capítulo Vinte e Quatro

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Henrique

   Ouvir uma ameaça de uma mulher, que mal sabia o que estava dizendo, era uma das piores coisas que eu já tinha ouvido. Uma, mas não a pior. Já que a pior era ter ouvido que, se eu não encontrasse Leandro dentre uma hora, ele daria um jeito de encontrar Adélia. A encontrar e, pelo seu histórico, quando isso acontece não seria apenas para ter uma conversa civilizada sobre mim.

   Denise aparecer no apartamento de Adélia me fazendo a maldita ameaça de Leandro, me tirou o chão e fez eu enxergar vermelho! Ele não só estava ameaçando a minha mulher, como o meu filho também!

   Tinha saído do prédio determinado em aniquilar a maldita ameaça. Antes de mesmo de ter arrancado com carro, minha mente já direcionava para aonde Leandro estaria. A sua ironia para o nosso confronto não teria passado despercebido por mim. Sabia aonde exatamente ele estaria me esperando.

   E, como eu pensei, não estava errado. Tudo sempre estava interligado com as malditas lembrança que nos assombravam e nos faziam ser quem éramos hoje...

—Sabia que entenderia minha mensagem. —disse Leandro, assim que me percebeu.

   Não que ele tivesse virado para me ver na escuridão do salão de sua boate. Ele si quer se mexera na posição sentada que se encontrava de frente para o bar iluminado. Prostrado no balcão, que continha dúzias de garrafas de bebidas alcoólicas enfileiradas, ele parecia bem imerso em seu próprio mundinho. Tão imerso que mal parecia sentir o cheiro ruim, que logo percebi ser querosene no ar.

   O que diabos ele estava planejando?!

—Eu entendi perfeitamente sua maldita ameaça. —rebati controlado. —Apenas vir deixar claro que, se tocar em Adélia, eu acabo você.

Acaba comigo?

   Não precisava ver a cara dele para saber que sorria. A entoação de suas palavras me denunciava bem isso.

—Não me teste...!

—Um brinde a você, que pode perder alguém que com quem se importa.

   Ele levanta o copo, ainda de costas, em um brinde que só ele entende.

—Chega, Leandro! Você sabe que tudo isso tem que acabar, então quanto mais rápido você disser o porque me chamou aqui, podemos acabar de uma vez com essa merda!

   E eu estava realmente cansado daquilo!

   Eu já tinha superado, mas Leandro evidentemente não tinha. Aquele pesadelo ainda mexia e brincava com a sua cabeça. Eu sabia disso ao olhar para ele. Ele poderia nunca admitir, mas após a morte de Miranda algo se foi nele, como havia ido em mim também. Mas diferente dele, que tinha se regozijado com a morte de Cassiano e feito daquilo como se fosse um real conforto, eu não tinha feito. Eu tinha tomado uma decisão diferente, uma postura diferente. Eu não via naquela época, mas eu via agora. Com total clareza que, nossos caminhos, já estavam fadados​ a ser desviados naquele ponto...

   Mas já Leandro parecia não ver isso....

—Essa merda nunca vai ter fim! —ele rebate ao levantar e derrubar um par de garrafas propositalmente.

   O estrondo das duas se espatifando no chão se ecoa pelo salão vazio, deixando vários vácuos junto com as suas palavras.

—Já teve fim para mim; —sentenciei convicto. —Só você que ainda está no passado. Acabou e eu superei! Você deveria fazer o mesmo...

—Esquecer?! É isso que você está propondo? —ele disse ao finalmente virar para mim. —Que eu me esqueça do inferno que vivi?!

   Olhar para ele e ver o ódio em sua face, não me faz mais me sentir culpado. Somente me faz sentir pena dele. Que tinha deixado os fatos trágicos do passado o conduzirem.

Lutando pelo CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora