Segundas Chances - 4 [FINAL]

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Eu nunca vi alguém tão preocupado com outra pessoa antes.

Antônio corta alguns carros, mas tem o cuidado de não exagerar na velocidade para não me assustar.

Ele me pergunta se eu quero que ele me deixe em algum lugar, mas sou incapaz de pensar em deixá-lo lidar com isso sozinho.

Cuidar de duas crianças saudáveis já não é a mais fácil das tarefas. Quando uma delas está doente, a coisa fica ainda mais complicada.

O homem frágil assume o lugar do Antônio decidido e corajoso de mais cedo e vejo a vulnerabilidade estampada em seu olhar.

Quando chegamos na casa de sua mãe, ele mal termina de estacionar o carro e já está correndo em direção à porta.

A senhorinha está sentada na sala, com Bruno deitado em seu colo e Isabella brincando de boneca aos seus pés.

- Mãe, o que aconteceu? – Antônio pergunta ao se ajoelhar do lado do filho.

- Ele estava brincando com o cachorro e aí gritou de dor.

Antônio pega o filho nos braços e o aperta tão forte que o menino volta a gemer.

- Mãe, ele está ardendo em febre!

- Tem um hospital aqui pertinho, vamos!

Só então Isabella parece perceber o que está acontecendo.

- Meu irmão vai morrer igual a mamãe?

O medo parece preencher cada linha de expressão de Antônio, que volta a apertar o filho contra o próprio peito.

Tanto ele quanto a mãe ficam em silêncio, sem saber o que responder à menina. E então percebo a dimensão da perda para essa família.

Meio sem saber se devo me intrometer, me ajoelho na frente de Isabella, para ficar do mesmo tamanho que ela, e a abraço.

- Claro que ele não vai morrer, querida. É só uma coisinha à toa. Por que você não fica fazendo companhia para sua vovó enquanto eu e seu pai levamos o Bruno pro médico dar uma olhadinha nele?

- O médico também só ia dar uma olhadinha na mamãe. – Ela me responde com uma tranquilidade na voz que parece mais uma mulher adulta falando, e não uma menina de 4 anos que perdeu a mãe recentemente. – E ela nunca mais voltou pra casa.

Um sentimento estranho se apossa de mim, como se eu precisasse fazer tudo ao meu alcance para tirar um pouco do peso dos ombros de todos dessa família. Eles parecem ser pessoas tão boas, e é muito injusto que estejam passando por toda essa situação. Eu quero colocar todos embaixo da asa e cuidar deles.

- Você confia em mim? – Pergunto.

Isabella faz que sim com a cabeça e eu a abraço novamente.

- Vai ficar tudo bem, eu prometo.

- Vamos?

Porque percebo a aflição na voz de Antônio, me apresso em me despedir de Isabella e da senhora Mariana, que descobrir ser o nome de sua mãe.

O caminho todo vou no banco traseiro com Bruno, que se encolhe em meu colo a cada quebra-molas que passamos.

Parece que uma eternidade se passa antes de chegarmos ao hospital.

Antônio ligou para alguém nesse meio tempo e já tem uma médica nos esperando. Ela emana uma tranquilidade tão grande quando nos recebe com um sorriso que eu quase esqueço do porquê estamos aqui.

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