Carnaval e seus fins - 1

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Sábado de carnaval - Cedo da manhã.

Quem me via daquele jeito, de tererê de concha no cabelo para legitimar minha fantasia de sereia não acreditaria que não era muito de pular carnaval. Mas era verdade. Eu estava naquele bloco por um azar do destino, cantando "Tieta" só porque de alguma forma a letra da música grudou na minha cabeça.

Numa daquelas fraquejadas em que você se deixa ser levada pela persuasão dos amigos para minutos mais tarde cair em si e se perguntar como foi se colocar nessa situação.

Antes de tudo, deixa eu explicar, eu gostava dos meus gatos,  de ver filme e tinha quase um relacionamento sério com minhas séries. Além disso, eu tinha ar condicionado ligado o tempo todo no meu quarto.

Eu economizava o ano inteiro para sobreviver com conforto o verão no Rio de Janeiro.

Eu não precisava sair de casa.

Estava refrescada, de pijama, quando Alina usou a chave reserva que tinha do meu quitinete pelos móvitos errados.

– Manuca! O que você ainda está fazendo assim? Vamos lá, #VemPraRua – ela disse entrando apartamento adentro fazendo o símbolo de hashtag com as mãos.

– Você realmente acha que o uso da hashtag vai funcionar como um apelo? – perguntei, simplesmente porque estava curiosa.

– Não sei, acho que vale tentar de tudo. Se eu conseguir fazer você curtir pelo menos esse sábado de carnaval, juro que dedico todo o meu sucesso ao poder da fogueirinha – ela repetiu o gesto da hashtag bem perto da minha cara, como se a fogueirinha pudesse de fato me queimar e consequentemente me fazer sair da cama.

Tudo que eu fiz foi virar para o lado.

Ela, por sua vez, bufou e se sentou na cama, ao meu lado, de braços cruzados, numa pose pouco receptiva de quem espera a desculpa esfarrapada da vez.

Mas o que eu podia dizer? No fundo, Alina sabia, eu não precisava explicar.

Eu tinha meu entretenimento, aquilo me bastava. Não precisava de mais nada. Mas ela insistia em chamar minha satisfação de acomodação, o que francamente eu achava um pouco grosseiro. Mas isso era só porque ela era muito cabeça dura.

Eu meio que era também.

Eu adorava de coração os filmes de comédia romântica. Mas de jeito nenhum queria parecer uma daquelas meninas desmioladas correndo atrás de homem pela cidade. Primeiramente, porque estava o maior calor. E segundo porque eu tinha um mercado de trabalho para me firmar.

Pior, um mercado de trabalho em crise para me firmar.

Não eram tempos bons para cenógrafas iniciantes. Estava difícil achar uns bicos. Era por isso que eu andava vendo tantos filmes. Também era por essa mesma razão que Alina insistia tanto para que eu saísse de casa.

Espairecer, ela dizia.

Eu a acusava de ter tirado essa palavra do vocabulário de Malhação, só para descontrair.

A verdade era que ela estava preocupada e eu queria que ela não estivesse. Eu ia dar um jeito. Eventualmente. Tinha que dar. Afinal, tinha que pagar meu aluguel no dia 15 do mês que vem.

– Você quer que eu jogue purpurina na sua cara sem seu consentimento ou vai preferir ter a liberdade de escolher qualquer fantasia que quiser? – Alina perguntou no seu melhor tom de ameaça.

Sua hiperatividade a ajudava nesse quesito, o jeito que ela se inclinava na minha direção a cada palavra me fazia temer que ela realmente estivesse com um punhado de purpurina escondido na mão, atrás das costas.

Foi assim que muito a contragosto eu levantei da cama, fui até o canto do cômodo, onde eu guardava meu material cenográfico e comecei a catar o que eu podia, tentando de todas as maneiras montar uma fantasia que não fosse totalmente repulsiva.

– Essa é minha Manuella! – Alina gritou dando um pulo na minha cama.

Só o que eu pensei foi que se ela quebrasse a cama, ela ia ter que pagar. Ao mesmo tempo escorregava para dentro de uma saia verde feita de escamas.

Levei a purpurina para ir colocando no caminho.

Quanto mais cedo eu saísse, mais cedo eu poderia voltar. Essa era minha linha de raciocínio.

– Pois é – eu concordei com minha amiga. – Porque a minha Manuella particular, a que tem livre arbítrio, estaria jogada na cama vendo O Diário de Bridget Jones.

Mas repito: nada disso dava para ser percebido porque quem me via daquele jeito de tererê de conchas no cabelo para legitimar minha fantasia de sereia.

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Quem aqui tá pronto para um conto carnavalesco? Cheguei com atraso, porém pronta pra fazer um furdunço. Esse é só o inicinho da história e amanhã pretendo postar a continuação desse mesmo dia. 

Espero que gostem! Me digam se gostaram! 

Estrelinhas também são bem-vindas. 

Pra quem não me conhece, eu sou aimeeoliveira e sou a maior mendigadora de estrelinhas que esse Wattpad já viu. Também autora de "Invisível", "O Mundo dá Voltas" e "Pela Janela Indiscreta", mas eu falo mais sobre isso no fim desse conto aqui.

Por enquanto apenas muito ansiosa pra saber quem vai embarcar na aventura carnavalesca de Manuella. 

Bom carnaval pra todo mundo e a gente se vê amanhã! 

Beijos purpurinados e estrelados**

Nossas MulheresOnde histórias criam vida. Descubra agora