Carnaval e seus fins - 3

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Domingo de carnaval – de manhã.

– E hoje? Vamos?

Alina me cutucou. Todos os meus músculos falaram que não. E pediram pelo amor de Deus.

Alina estava com aquela disposição radiante porque durante todo o tempo em que eu estive naquele bloco, ela estava no meu apartamento, fazendo bom uso da sua chave reserva e da minha conta na Netflix.

Quando eu contei para ela tudo que aconteceu com o lance do empreendimento da purpurina ela mal pode acreditar que trocou toda aquela reviravolta do destino por um beijo na boca sem graça e uma série mais sem graça ainda na TV.

Cedo da manhã fui acordada com barulho de moedas batendo umas nas outras.

– Manuca, se você manter esse ritmo, vai dar pra pagar o aluguel! – ela falou toda animada, com todo o meu ganho do dia anterior pelo chão.

Ele cobria boa parte do piso de tábua corrida.

– Não encha meu coração de esperanças – eu protestei ao virar da barriga pra baixo na cama.

– Para de ser preguiçosa, mulher! Imagina manter seu apartamentinho por mais um mês!

– Seria um sonho – eu disse dando uma enroladinha a mais no meu edredom. – Por isso quero continuar dormindo.

– Você acha mesmo que eu vou te deixar ter essa opção? – Alina perguntou parada ao meu lado, despejando cada peça da sua fantasia de unicórnio diretamente na minha cabeça.

– Claro que não – respondi ao me conformar com a realidade carnavalesca que se aproximava.

– #Vamoprarua! – ela gritou, me apressando.

Eu quase podia sentir o poder da sua hashtag feita com as mãos.

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A demanda tinha aumentado de forma assustadora. Minha opinião era que as pessoas começavam a ficar preguiçosas no segundo dia de carnaval por conta da ressaca.

Para mim era ótimo, nesse dia eu tinha ido preparada.

Alina até fez um cartaz escrito "Arte Purpurinada" e todo mundo que se aproximava para perguntar ela se dava como exemplo.

– Tá vendo esse trabalho de puro brilho e glamour? Foi essa menina aqui do meu lado que fez. E ela só cobra rês reais por isso.

– Menos que uma cerveja! – o menino vestido de Capitão América pontuou antes de puxar uma nota do bolso.

Acho que ele queria impressionar Alina. Não funcionou muito. Mas em defesa do super-herói, aquele já era nosso terceiro bloco no dia, pouca coisa nos impressionaria naquele ponto.

Mas o que realmente importava era que meu porta-dólar já não tinha mais espaço. Estava repleto de dinheiro, o que para mim significava um sinal de ir para casa. Infelizmente, para Alina significava que eu podia começar a encher o porta-dólar dela.

Foi só no fim do dia, durante o quinto bloco, que o porta-dólar dela eventualmente encheu. Meus dedos estavam esfolados de tanto que se esfregaram na cara dos outros, mas o peso das moedas na bolsinha presa na minha cintura era reconfortante.

– Missão cumprida – Alina disse numa série de pulinhos carnavalescos. – Por hoje.

E finalmente ela concordou em irmos para minha casa, eu me permiti respirar aliviada, sentindo algo parecido com tranquilidade a cada passo que eu dava.

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