Triângulo - parte 5

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Passei os próximos dias conversando com os dois e me perguntando como diabos eu tinha ido parar naquela situação.

Era no mínimo hilário que eu tivesse passado de solteira convicta, raramente tendo casos esporádicos e nunca tendo ninguém interessado em mim por muito tempo, a uma conquistadora digna de novela mexicana, enganando dois caras ao mesmo tempo.

Ok, enganando talvez fosse uma palavra muito forte. Mas a verdade era que um não sabia sobre o outro, então eu me sentia uma grande traidora.

Ainda assim, lá estava eu, levando aquilo adiante.

Acabei combinando de ir encontrar Mateus na quinta-feira, num restaurante perto do meu estágio. Ele trabalhava de casa, então tinha horários mais flexíveis para vir me encontrar. Já estava lá quando eu cheguei, fumando em frente à entrada. Me aproximei a passos nervosos, com aquele tipo de torção no estômago que a gente tem quando teme ser pega na mentira. Será que ele ia olhar pra mim e dizer "eu sei que você andou pegando outros caras"? Será que, de algum modo, ele sabia?

Jesus, Carolina, você precisa relaxar!

Me aproximei e Mateus apagou o cigarro na hora. Me recebeu com um beijo e um abraço apertado, que me acalmaram ao mesmo tempo em que me deixaram ainda mais ansiosa. Então entramos, seguindo pro bufê.

- E aí, como você tá? – ele perguntou, calmamente. Nenhum tom de acusação, nenhuma indicação de que a palavra TRAIDORA estava tatuada na minha testa.

- To legal. Meio cansada. – disse, me concentrando em encher o prato de salada.

- Sua chefe anda te maltratando? – olhei para ele de soslaio e vi que estava sorrindo de um jeito solidário. Tentei sorrir também.

- É. Sabe como é.

- Sei. Você devia se impor mais, Carol, já te falei isso. Se não começar agora, quando for efetivada ela vai subir em cima de você.

- Eu sei, mas não tenho essa coragem toda.

Ele não respondeu de imediato, e nos limitamos a só encher nossos pratos de comida. Não foi até estarmos sentados e começando a comer que ele voltou a falar.

- O que ela fez dessa vez? – perguntou, então, e comecei a contar sobre a mais nova peripécia da minha adorada chefe abusiva.

Enquanto falava, percebi que essa era uma das coisas que eu mais gostava em relação a estar com o Mateus. Não era só o fato de que ele era boa companhia, mas que ele era um ótimo ouvinte, e dava bons conselhos também. Ele sabia de todas as minhas histórias – ou, pelo menos, todas as dos últimos meses – e lembrava de todas elas. Mateus era mais versado em Carol do que muitos que eu conhecia há mais tempo, tipo...

Tipo o Pedro.

Me senti péssima por estar comparando os dois, mas não conseguia evitar. Eu sabia, conscientemente, que os dois eram caras muito diferentes, em absolutamente todos os sentidos da palavra, mas agora, tendo os dois interessados em mim, eu não conseguia não apontar estar diferenças.

Mateus era mais rude onde Pedro era gentil – não que ele fosse grosseiro, mas havia apenas uma delicadeza sobre Pedro que ele não tinha. Mas, apesar de Pedro me conhecer há mais tempo, Mateus me conhecia melhor; ele acompanhava as minhas histórias e entendia meu senso de humor. E eu sabia que podia contar com Mateus. Mesmo quando estava distante, ainda era uma presença mais constante do que Pedro, que desaparecia quando bem entendia. Eu não sabia se podia colocar minhas esperanças em uma pessoa que sumia assim.

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⏰ Última atualização: Jun 26, 2017 ⏰

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