Triângulo - parte 1

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Eis uma coisa que vocês precisam saber sobre mim: eu sou solteira.

Não, eu não estou solteira. Não é um estado provisório, capaz de mudar a qualquer instante. Quando as pessoas me apresentam umas às outras, elas dizem "essa é a Carol, e ela é solteira".

Tá, tá bom, é um exagero. Mas é bem verdade que, quando basicamente todas as suas amigas estão namorando – ou pior, estão noivas, ou casadas, o que é muito frequente quando você já se encontra na faixa dos vinte e tantos anos – meio que todo mundo começa a enxergar um solteiro como um caso severo de lepra. Todo mundo está ansioso pra te arranjar uma cura, ou um casinho que possa vir a se desenvolver em um namoro. Minha mãe já está tão desesperada que diz que eu sou uma solteira compulsiva. Ou compulsória. Qualquer que seja a alternativa que sinalize que ela não terá filhos num futuro próximo.

E na maior parte do tempo, eu não me importo. Eu não dou a mínima para o fato de ser solteira, honestamente. Sob muitos aspectos, acho que a minha vida melhorou bastante tendo só eu mesma com quem me preocupar. Mas já faz oito anos desde que o meu segundo e último relacionamento – um namorico de dois meses com um garoto da minha turma no Ensino Médio – terminou, e desde então, minha vida tem sido uma sequência infindável de não-compromissos. E, de uns tempos pra cá, comecei a sentir que realmente estava ficando chata essa coisa de não ter namorado. Sabe como é, faz falta ter alguém com quem dividir o Netflix e ficar de boa em casa num domingo à noite.

O que ninguém me contou, no entanto, é que achar um mozão se torna consideravelmente mais difícil depois que você passa da casa dos vinte. Na adolescência, você conhece amigos de amigos, vai em festinhas na casa das pessoas, conhece gente em eventos escolares. A vida adulta se resume a pagar contas e conhecer dois tipos de pessoas: a) gente casada, ou noiva, ou namorando com alguém que você já conhece; e b) gente solteira como você, mas que não tem nenhuma vontade de se amarrar estando "ainda tão jovem".

Por isso, pode-se dizer que foi uma surpresa e tanto quando eu conheci o Mateus.

Estava lá eu na festa de noivado da Tamires, uma das minhas melhores amigas, quando esbarrei nele. E quando digo esbarrei, quero dizer literalmente – eu estava procurando sinal no meu celular, que sempre morria completamente quando eu estava no prédio da Tamires, e ele estava lá fora fumando. Estava tão distraída com o braço erguido que não notei o cara enorme na minha frente até ser tarde demais.

- Ei, moça, calma aí! – ele disse, daquele jeito estranho meio sem mexer os lábios para não deixar o cigarro cair. Ele colocou uma mão de cada lado do meu corpo e me afastou um pouco.

Mateus era um cara grande. Alto, com pelo menos 1m90, e largo, mais de gordura do que de músculos, ele tinha aquela cara permanente de cara malvado, mas que desaparecia por completo depois que ele sorria a primeira vez e você percebia que, por debaixo do corpo maciço e das camisetas de banda, ele era na verdade um cara muito gentil e gente boa.

Não sei exatamente como, mas começamos a conversar naquele dia, e eu me diverti muito na companhia dele. Ele me adicionou no Facebook na tarde seguinte, e nosso papo foi escalando pelas redes sociais, até ele me convidar pra sair, uma semana depois. Quando o beijei pela primeira vez, Mateus tinha gosto de nicotina, cerveja e chiclete de menta, uma combinação curiosamente boa, apesar do aspecto repugnante. Mesmo com todo o seu tamanho, Mateus foi delicado e beijava incrivelmente bem.

Para a alegria geral da nação, a primeira saída se tornou segunda, que se tornou terceira, e começamos a nos ver com certa frequência. Tamires tinha certeza de que era destino, e como Mateus era amigo seu de longa data, ela se sentia a maior cupido do mundo por ter unido os nossos caminhos.

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