5 - O Inferno Começou

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Encarei Behemoth e apressei-me em saudá-lo.
_ Saudações, mestre - respondi, fazendo uma reverência. Abaixei o capuz do meu sobretudo.
_ Minha devota preferida - disse ele, sorrindo para mim - Tenho certeza de que os teus belos olhos vermelhos, como o sangue em tuas mãos, combinam com a sua fantasia. Poderia me mostrá-la, Lilith? - indagou, fazendo-me corar pelo peso de seu olhar sobre mim.
_ Mas é claro, mestre - exclamei e, sorrindo, retirei o meu sobretudo, jogando-o em qualquer canto.
Behemoth me mediu da cabeça aos pés e, quando encarou-me, mordeu o lábio inferior.
_ Você está radiante, Lilith - concluiu, arrumando ligeiramente o seu cabelo platinado. Parecia com o de Lucius, só que curto - Agradeço imensamente pelo seu sacrifício. Os teus presentes sempre me agradam.
_ Isso é música para os meus ouvidos, mestre - sorri após dizer.
_ Bom, como sempre lhe concedo algo, manterei a nossa "tradição". Direi-lhe algo sobre o teu futuro. O que acha? - indagou o demônio, aparentemente bem curioso sobre o que veria.
_ Acho muito bom, mestre - respondi rapidamente - Agradeço desde já.
Ele sorriu (está cheio dos sorrisinhos) e fechou os olhos. O mesmo começou a cantar algo em uma língua desconhecida para mim. Parece-me a língua dos demônios. Apenas eles a conhecem. Não existem livros sobre o assunto e eu nunca senti um enorme interesse nisso, a ponto de correr atrás de respostas.
Após alguns minutos, ele abriu os olhos e eu pude perceber que a sua expressão não era boa. Consequentemente, o que ele viu também não deveria ser bom. Mais pressentimentos ruins surgiram para me assombrar.
Agora, o mesmo estava tenso e transparecia preocupação.
_ Mestre? Está tudo bem? - indaguei.
_ Querida, creio que você terá problemas. Não pude ver muitos detalhes, mas posso dizer-lhe que alguém não gostará de algo que você fará e irá lhe perturbar, tornar a tua vida um inferno - disse a última palavra com sarcasmo.
Fiquei pasma, sem reação.
_ Por Lúcifer! O que será de mim agora? Existe alguma maneira de impedir esse alguém mestre? - perguntei. Eu imploraria se fosse preciso. Sentia que algo muito ruim estava para acontecer.
_ Minha cara, eu posso lhe ajudar - disse calmo, fazendo os meus olhos brilharem. Mas eu sabia que esse auxílio teria um preço.
_ E como eu devo te pagar por isso, mestre? - indaguei, observando os olhos de Behemoth sorrirem junto com a sua boca. Seus dentes eram bonitos e brilhantes.
_ Não se preocupe com isso, Lilith - uma de suas mãos atravessou o redemoinho de poeira, que ainda girava ao seu redor, e acariciou levemente meu rosto.
Fechei os olhos para aproveitar a inesperada carícia. Suas mãos eram grandes, reconfortantes e macias. Estranhamente macias.
Quando olhei novamente, o redemoinho já estava se fechando. Meu mestre encarava-me com uma estranha expressão de... carinho?
_ Adeus, querida - sussurrou com um palpável pesar e sumiu sob a luz da lua.
Tudo aconteceu rápido de mais. Permaneci parada, em pé, raciocinando e ligando os pontos que em minha cabeça.
Cheguei nas seguintes conclusões:
A) Behemoth estava extremamente diferente. Eu havia percebido pequenas mudanças com o passar dos anos. Porém, foi mais radical dessa vez. Ele estava mais bonito, bem mais atrevido (pedindo para que eu mostrasse a minha fantasia e me secando na cara dura), muito sorridente e transparecendo preocupação e compaixão para com a minha pessoa.
B) Este lugar está me dando um mal estar danado desde que cheguei.
E, por fim,
C) Estou ferrada.
_ Bem, não tenho escolha a não ser esperar - disse e comecei a arrumar as coisas.
Vesti o sobretudo e, quando estava saindo, escutei um som de galhos se quebrando.
_ Tem alguém aí? - gritei, colocando a mochila em minhas costas.
Totalmente alerta, corri para fora dali o mais rápido possível. A sensação de estar sendo seguida surgiu e aumentou cada vez mais.
Ao final da trilha, descabelada e aterrorizada, fui aos pulos até a parte de trás da casa de Lucius.
Cheguei na porta do quintal e quase derrubei-a aos murros.
Enquanto ouvia passos apressados de dento da casa, relaxei o corpo e virei-me para ver se conseguia enxergar alguém ou alguma coisa.
_ Caramba! - exclamei, recordando do que Behemoth havia me contado sobre o meu futuro.
Olhei para a marca em meu pulso, já quase cicatrizada, e fechei os olhos.
O inferno começou.


NOTAS

Oie! E aí? O que acharam?
O próximo capítulo promete, hein 🌚
Se tiverem alguma dúvida sobre a história, pode me perguntar nos comentários. Caso essa resposta não seja spoiler, eu responderei com o maior prazer ahsuhauahsh.
É isso. Até terça-feira, kissus 💙

Os Demônios Também Dizem: "Gostosuras ou Travessuras?"Onde histórias criam vida. Descubra agora