7 - Ó Céus

28 3 3
                                    

OBS: ESSE CAPÍTULO CONTÉM VIOLÊNCIA!

----------------------------------------------

Depois de despedir-me de Lucius, prometendo ir vê-lo no dia seguinte, eu voltei para casa.
Já eram três da manhã quando eu cheguei. Minha mãe estava dormindo na sala. Dei um beijo em sua testa e subi animada para o meu quarto.
Cheguei no andar de cima e, ao abrir a porta de meu quarto, deixei a mochila cair das minhas costas.
No chão do cômodo havia uma frase, escrita com o que parecia ser sangue:
"TOME CUIDADO, CRIANÇA. VOCÊ NÃO SABE O QUE LHE AGUARDA".
A minha vontade era de gritar, mas não o fiz. Acordar minha mãe não era uma opção.
Rapidamente, peguei um pano e algum produto de limpeza no banheiro. Antes de fazer qualquer coisa, tirei uma foto daquilo com o meu celular. Assim, poderia mostrar para Lucius.
Depois de arrumar aquela bagunça de sangue e uma gosma preta, fiz aquele pano sumir (do meu jeitinho), me troquei e deitei em minha cama. Eu sabia que teria dificuldade para dormir. Então, fiquei divagando sobre tudo o que vinha acontecendo.
_ Quem poderia ter feito isso? O que eu fiz para merecer isso? - perguntei para mim mesma - Não quero que Lu sofra por minha causa. Muito menos a minha mãe.
Ajeitei os travesseiros e me virei para a parede. Franzi o cenho.
_ Ai, droga! Eu tenho aula amanhã! - me lembrei e bati com a mão na testa.
Esforcei-me e, finalmente, consegui dormir...

Abri meus olhos e a escuridão tomou conta da minha visão. Eu não estava na minha cama. Não estava no meu quarto. Permanecia deitada sobre algo duro e gelado. Provavelmente, uma maca improvisada. Percebi que estava apenas de roupas íntimas. Tentei falar e me mexer, mas não consegui: algemas nos braços e pernas e fita isolante na boca.
O ambiente fedia a mofo. O ar era extremamente pesado e úmido, como se aquele lugar não tivesse sido aberto por um bom tempo.
Ouvi o barulho de uma porta se abrindo. Um feiche de luz amarelada entrou, mas não me alcançou.
No que eu conclui ser a porta do cômodo, havia a silhueta de uma pessoa. Um homem, talvez; alto, sem vestígios de cabelo e roupas comuns.
Aquela sombra adentrou o quarto e acendeu a luz do mesmo. A forte claridade ofuscou o meu olhar, impedindo-me de observar quando aquele - agora revelado realmente ser um homem - desconhecido aproximou-se de mim.
_ Oh! Meu pequeno passarinho acordou! - comemorou o homem - Dormiu bem?
Não respondi. Primeiro, porque estava amordaçada. Segundo, porque não queria. Senti todo tipo de emoções ruins e uma enorme energia negativa vindas daquele ser humano, parado perto de meus pés, no começo da maca.
Eu me mexi e resmunguei palavras desconexas, fazendo o estranho se aproximar de mais.
_ Shh! Acalma-se. Estou apenas começando - exclamou animado, enquanto retirava a fita de minha boca.
Quase agradeci quando pude umedecer meus lábios secos. Eu não estava entendendo nada e queria sair logo dali. Obviamente, as intenções daquele homem não eram nada boas.
_ Quem é você? Como vim parar aqui? Porque tirou-me da minha casa? - disparei, rosnando todas aquelas perguntas.
Aquele ser deplorável gargalhou, acariciando o meu rosto com a sua mão nojenta.
_ Em nenhum momento eu disse que havia te tirado de sua casa - franzi o cenho - Enfim, sem pressa. Na hora certa, responderei todas as suas perguntas - disse, com um sorriso malicioso no rosto - Mas, agora, nós vamos nos divertir. Bom, pelo menos eu irei.
Ele se inclinou na minha direção e, por impulso, cuspi em seu rosto.
Péssima ideia.
Seu olhar passou de sereno para assustador. Ele não era nem um pouco bonito, com aqueles olhos escuros e aquele cabelo raspado. Transmitia ser uma pessoa desleixada.
Porém, não era isso que importava.
Antes que eu pudesse protestar, o mesmo apertou as suas mãos ao redor do meu pescoço. Ao tentar me mexer para poder respirar, ele aumentou a pressão de suas mãos.
_ Não gosto de vadiazinhas mal-educadas. Gosto de obediência e submissão. Então, vá se acostumando - finalizou e me largou.
A minha vista estava começando a ficar turva. Enquanto recuperava o fôlego, fechei fortemente os meus olhos. "Irei desmaiar", constatei mentalmente, com alívio e desespero ao mesmo tempo. Não sei do que ele seria capaz de fazer comigo inconsciente. Contudo, só de imaginar não olhar para aquela cara doentia e nojenta eu já ficava ligeiramente melhor.
Até sentir uma dor lascinante nas pernas. Era uma ardência quase insuportável. Gemi de dor e arregalei os olhos, sentindo aquele homem passar as costas de suas mãos pútridas naquela área, que começava a ficar dormente.
_ Deixarei meu passarinho todo marcado, para que aquele falso feiticeiro fiquei tão mal quanto você vai ficar - disse mais para si mesmo do que para mim.
Me desesperei. O que Lucius tem a ver com isso? E por que esse verme chamou-o de "falso feiticeiro"? Eu preciso sair daqui. Não aguento mais!
Aquele homem encarou-me e, como se pudesse ler meus pensamentos, disse:
_ Apenas te deixarei sair daqui quando o seu corpo estiver lotado pelas minhas digitais e você me presentear com, pelo menos, um grito de dor.
Olhei-o e fiz a minha melhor expressão de desgosto.
Como resposta, no minuto seguinte, ele estava me batendo com o seu cinto. Eu mordia meus lábios com toda a força que eu tinha, sentindo o típico gosto metálico em minha boca. Me recusava a dar o que ele queria.
Com uma brutalidade imensa, aquele estranho tirou minhas algemas e deitou-me de costas. Tentei me soltar, falhamente, recebendo em troca tapas, mordidas, beliscões e cintadas.
Algemada novamente, comecei a sentir sangue escorrendo escorrendo pelas minhas costas, na mesma proporção das lágrimas que corriam pelo meu rosto.
Subitamente, ele parou de me bater. Inspirei profundamente. Muito estranho, muito estranho.
Senti a respiração quente daquele nojento perto de minha orelha.
_ Não me faça ultrapassar um limite que, para hoje, não é necessário - sussurrou, voltando para trás de mim.
Arrepiei ao perceber o destino de uma de suas mãos: a minha calcinha.
"Não, não, não", eu pensei.
Sem escolhas, juntei as minhas últimas energias e gritei. Na verdade, eu berrei. Poderia acordar os mortos e os demônios se eu quisesse.
Aquela mão gelada saiu da área do meu traseiro e foi subindo, fazendo os machucados arderem e as lágrimas voltarem a escorrer pela minha face. Em alguns lugares, ele apertava ou fazia pressão.
_ Até a próxima, meu passarinho - murmurou perto da minha orelha.
Ouvi passos se distanciando de mim e a luz se apagou. O ranger da porta tomou conta da minha audição, enquanto eu fechava os meus olhos, agoniada e assustada.







Acordei em meu quarto. Feiches de luz invadiam e inundavam o cômodo, trazendo uma sensação de calma e tranquilidade.
"Foi tudo um pesadelo?", pensei.
Logo em seguida, meu corpo respondeu, me deixando mais confusa ainda: eu ainda estava de roupas íntimas, repleta de sangue seco, dores e hematomas.
Corri para o banheiro, me enfiei debaixo do chuveiro e liguei-o.
Com água, lágrimas e sangue misturados, cobri o rosto com as mãos e virei-o para cima.
_ Ó céus - disse, enquanto todo e qualquer pensamento esvaia-se de minha mente.



NOTAS
• E aí? O que acharam?
• Eu sei que vocês devem estar cheios de ?, mas logo as coisas serão explicadas. Qualquer dúvida, coloque nos comentários.
• Semana de provas = atrasos. Costumo atualizar de manhã, porém, hoje houveram pequenos impecilhos. Mas eu estou aqui e é isso que importa :p
• Eu fiz um pequeno trocadilho com o nome desse capítulo. Ela venera Lúcifer, mas clamou pelo céu. Reflitam abushauhauahsu
• Até terça, kissus 🌚🍷

Os Demônios Também Dizem: "Gostosuras ou Travessuras?"Onde histórias criam vida. Descubra agora