Capitulo 2

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  Não tinha aulas com Noah na escola, ele era um ano mais velho, fazendo com que eu passasse horas da minha vida presa em uma sala com pessoas cruéis, adolescentes podem ser piores do que você imagina.

Sentei em minha cadeira de sempre, o sinal ainda não havia batido, arrumava as coisas na minha mesa, tudo milimetricamente alinhado, dentro de mim já havia confusão suficiente para me fazer desejar ser certa em algum lugar.

O sinal bate me fazendo olhar para frente e ver aquela explosão de alunos entrando pela porta, rindo e se divertindo, como se não tivessem culpa em nada nessa vida. A professora entra e começa a dar sua aula normal, enquanto eu rabisco meu caderno. As aulas passam rápido pela primeira vez em muito tempo, quando me preparo para sair algumas meninas me param.

- Querida Ana, queria mos falar com você. – a loira falou com um sorriso maldoso nos lábios, seu nome era Lúcia, estudava na sala de Noah.

-Ayla, meu nome é Ayla, e eu tenho que ir. – tento escapar dali, mas me empurram de encontro a uma carteira, meu quadril bate nela e sinto uma dor queimar no local.

-Você não entendeu, nós vamos falar com você. – suas amigas ficaram na porta e ela veio em minha direção, me rodeando. – Você devia se vestir melhor, olha essas roupas, moletom, calça e tênis, você é uma menina ou um menino docinho? – ela e suas amigas riram enquanto em prendia as lagrimas dentro de mim. – E esse cabelo? - ela pegou uma mecha e puxou, aquilo doeu. – Castanho não está na moda querida, os meninos só olham para as loiras, não que um algum dia olharia pra você.

-Me deixa ir embora, por favor. – minha voz chegou a falhar, mas eu me concentrei ao maximo para não chorar, eu não faria isso ali.

- O que foi? Vai chorar? – ela segurou meu braço com força e sorriu sinicamente, me soltando quando escutou uma voz se aproximar.

-Ayla , você ta aí? – Noah entrou na sala. – Tava te procurando, vamos?

-Vamos sim. – andei até ele rapidamente.

-Tchau Ayla, e não se esquece do que conversamos. –Lúcia falou acenando.

Quando saímos do prédio da escola Noah virou para mim sério.

-O que aconteceu antes de eu chegar?

-Nada demais Noah, ela só quis falar comigo. – falei voltando a andar e Noah me seguiu.

-Você realmente quer que eu acredite que nada aconteceu Ayla?

- Quero, porque foi exatamente isso que aconteceu, nada. – doía mentir para Noah, mas eu não podia trazer mais problemas para a vida dele, eu tinha que começar a me virar.

-Sei. – sua voz não demonstrava certeza, mas ele logo mudou de assunto. – Tenho que fazer um trabalho na casa da minha colega hoje, não vou poder ficar com você de tarde – ele parecia chateado, mas eu estava aliviada por uma parte, não ia precisar inventar desculpas para ficar sozinha. – mas faço questão de deixar minha princesinha em casa.

- Voltei a ser a princesinha? Eu não era o coelho da Alice? – sorri pra ele.

-Você consegue ser uma mistura dos dois. – ele riu e eu acompanhei.

- E essa colega, qual o nome dela?

-Se eu não me engano é Allie.

-Não faço ideia de quem é. – comentei.

- Ela é nova , morava no Brasil, veio pra cá recentemente.

-Ta explicado.

Andamos mais um pouco até chegarmos na minha casa, Noah faz um drama de todo tamanho para depois ir embora, prometendo me ligar de noite . Entro em casa e está tudo quieto, Tomás estava trabalhando, e logo depois tinha faculdade.

O silencio da casa me fazia bem e mal ao mesmo tempo, esse silencio me fazia relembrar as coisas que aconteceram a menos de uma horas atrás , mas também me fazia lembrar sobre coisas de anos atrás, que ainda me davam arrepios.

Subo as escadas devagar, entro em meu quarto colocando a mochila perto da escrivaninha, a primeira coisa que faço é encher a banheira de meu quarto, com água quente, deixo ela enchendo enquanto tiro minha roupa, e paro na frente do espelho me observando e vejo que uma mancha rocha esverdeada se encontrava em meu quadril, ela se destacava em meio a minha pele pálida, toquei de leve sentindo latejar.

Olhei para meus cabelos passando as mão no mesmo e as palavras rodeavam minha cabeça: "Castanho não está na moda querida, os meninos só olham para as loiras" , balancei a cabeça afastando os meus pensamentos, afinal se eu mudasse meu cabelo, faria alguma diferença? Eu continuaria sendo a mesma menina estranha e que se veste diferente.

Desliguei a torneira da banheira e entrei nela, a água quente esquentava meu corpo e relaxava ao mesmo tempo, eu sempre preferi banhos de banheira aos de chuveiro, porque a sensação de estar embaixo da água é como se você afogasse seus pensamentos e sentimentos de uma vez , nem que fosse por alguns minutos.

Deito totalmente na banheira, até que nenhuma parte do meu corpo estivesse para fora, fiquei desse jeito até o ar escapar pelos meus pulmões e meu nariz queimar por dentro. Sento na banheira puxando o ar com força, e quando eu me acalmo termino meu banho rapidamente .

Deito em minha cama e me tampo até o pescoço, não sei quanto tempo fico olhando para o teto , só sei que comecei a sentir meus olhos pesarem, e me entreguei a um sono profundo, e nada tranquilo.

Acordo com meu irmão gritando meu nome, abro os olhos e percebo que ele me abraça assustado.

-Eu não sabia que os pesadelos tinham voltado. – ele falou me apertando ainda mais.

-Nem eu...- suspirei, finalmente liberando as lagrimas. – foi a primeira fez depois de dois anos, e parece que ele está pior que antes, eu não deveria esquecer?

-Não chora meu amor, vai passar, tente voltar a dormir.

-E se eu ter os pesadelos de novo?

-Não vai, eu vou estar aqui do seu lado, pode dormir tranquila.

Tomás me deitou e deitou ao meu lado, me abraçando como se criasse uma proteção em cima de mim, e meus olhos não demoraram a se fechar novamente.

Talvez eu devesse mudar meu cabelo e minhas roupas, talvez assim as meninas me aceitariam mais fácil, talvez assim elas parassem de rir de mim.

- 1079 palavras

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