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Cheguei naquele lugar sem saber a quem recorrer... Eu não sabia nem o que estava acontecendo ao certo!

Estava no meio da aula de Ciência Política, a última do dia, lá na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Ubá, quando recebi a ligação de uma mulher:

- Alô? Camila?

OH CÉUS! Era o celular da minha mãe!

- Mãe?!

Durante a chamada, lembro que a paramédica me pediu que ficasse calma. E que estivesse na Praça Aureo Carneiro, perto da saída da Rua Diomar Monteiro com a MG - 353 o quanto antes.

QUÊ? É óbvio que entrei em choque! Era o caminho que passávamos para sair de nossa casa! Minhas colegas perceberam que algo não ia bem e chamaram atenção da professora para que pudéssemos sair da sala.

- O que houve amiga? - Aline, minha amiga de infância, perguntou, já ao lado de fora.

Expliquei-lhes tudo. Elas chegaram à conclusão que eu não poderia ir só e Aline me acompanhou. As meninas estavam certas, eu não teria condições de chegar naquele lugar sozinha, era mais provável que acontecesse um acidente comigo também, considerando o meu estado.

Tinha muita fumaça, já era escuro, provavelmente, umas 22:00hrs... Um bombeiro, que estava conversando com algumas pessoas, me reconheceu:

- Camila? - Interrompendo a minha busca incessante por informações naquele lugar, ele me parou. - Como ele sabia o meu nome?

- Sim, sou eu... Por favor, pode me dizer o que está acontecendo?

Seu nome era Bruno e com um semblante muito preocupado tentou usar as palavras certas para lamentar o ocorrido:

- Sinto muito, mas sua mãe teve um AVC enquanto dirigia e a perícia indica que, por falta de controle da situação, ela invadiu o sinal e sofreu um choque com um caminhão que vinha sentido MG - 353... Ela morreu na hora. Lamento...

Aquilo tudo não podia ser verdade... Era um sonho, CERTEZA! Desestruturei-me aos poucos... Incessantemente, chorei. Na nossa fragilidade humana, temos a necessidade de sermos protegidos de alguma forma e quando há uma reciprocidade com quem está com você, espontaneamente, acaba em abraço. E foi o que Bruno fez. Ele me abraçou. Um completo desconhecido me abraçou e apesar de tudo, eu recebi o que precisava: a reciprocidade de um sentimento verdadeiro, talvez compaixão...

OH CÉUS! Minha mãe... Minha amiga.

Lembrei-me que nos últimos anos ela passou a tomar medicamento controlado, ela brincava dizendo que era só um coração emotivo e sempre demonstrou estar bem. Depois devir morar em Ubá, meu pai sempre viaja a trabalho. Estava em Blumenau, em Santa Catarina, naquela noite, em um serviço da empreiteira que está empregado e nesses vai e volta, nunca pode acompanhar os exames dela... Quando ela foi diagnosticada com hipertensão, eu ainda era jovem e filha única, nem saberia como ajudá-la... Senti-me imponente.

- Gostaria de ver a cena, moça? - Bruno me perguntou, após alguns minutos abraçados.

Tentando me recompor e ainda bastante envergonhada com a situação. - Nos abraçamos, mas não significa que seja algo que uma pessoa fica plenamente confortável... Ainda mais quando nos recompomos e percebemos o que a emoção nos levou a fazer.

- Sinceramente, não sei se tenho mais forças. Meu coração parece estar se partindo. Dói muito. - confessei cabisbaixa e enxugando o rosto com a manga da camisa longa que estava usando.

Aline sabia que não podia fazer nada, mas estava lá... Eu a vi ao lado daquela ambulância... Sei que se preocupava comigo como uma irmã mais velha com a sua mais nova. Ela também estava sofrendo, fui abraçá-la.

- Por favor, nos leve até lá. - suspirei - Eu devo isso à minha mãe...

Vi a placa do carro e ao perceber que realmente era o carro da minha mãe, Dona Marília, desabei por completo. Não sei se minha decisão foi melhor ou pior... O que restou de seu corpo estava entre as ferragens. O carro estava todo destruído... Que dor! Nunca imaginei que a perderia assim. Certamente, ninguém imagina...

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P.S. Trechos em itálico indicarão pensamentos, tá? Fonte da imagem: Pinterest

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