Acordei no Hospital de São Vicente, aqui em Minas mesmo, a última coisa que lembro foi ter visto o carro todo destruído, no que parecia ter sido a noite anterior. Meu pai estava sentado numa poltrona carmim ao meu lado e cochilando, com uma das mãos segurava a minha mão e com a outra tinha um copo do Starbucks (meu pai ama café) quase caindo.
Ele foi tudo o que me restou... Antes de acordá-lo, fiquei imaginando como seriam as nossas vidas dali para frente. Era difícil... Trinta minutos depois e algumas lágrimas a menos no meu estoque:
- Pai? - disse sussurrando enquanto passava a mão no cabelo dele.
Apesar de não ser tão presente, eu o amava muito. Admirava as suas decisões em escolhas difíceis... Não tínhamos tanta condição: minha mãe vendia alguns produtos de nossa pequena fazenda (ovos, leite, verduras, frutas...), meu pai trabalhava para empreiteiras e eu cresci com o objetivo de mudar nossas vidas, não que eu não gostasse de como ela era. Meus pais sempre se importaram comigo, não me faltou amor, cuidado ou zelo... Justo por isso, como demonstração de gratidão (apesar de não ser o que eu gostaria), me esforcei e passei em direito em uma das faculdades de nossa pequena cidade. Vínhamos levando a vida como dava e acreditando num "amanhã melhor que hoje".
- Filha! - respondeu levantando e com um abraço caloroso, nem percebeu que derrubou o copo de café, risos.
Descobri que fiquei apagada por duas noites. DUAS NOITES. Ele me falou que já tinha resolvido os papéis e lamentava não poder ter esperado que eu acordasse... Ele cremou o que restou de minha mãe, depois de uma cerimônia singela, com o pouco de dinheiro que tinha recebido na jornada. As cinzas estavam num pote, na mesinha atrás dele. Fiquei triste por não ter estado presente, mas chego a achar que foi o melhor.
- Bom dia! - a porta se abriu com um rapaz alto e com um sorriso encantador - Como está a moça desse quarto, pai?- além de uma prancheta no bolso do jaleco, ele trazia uma bandeja com uma xícara de chá e algumas flores deitadas na lateral direita.
Eu REALMENTE não estava entendendo nada, mas gostei.
- Ela acordou umas 09:15hrs, doutor Marcos. Conversamos um pouco e ela parece estar bem. Obrigado. - meu pai respondeu enquanto eu atentava ao relógio que estava ao lado da televisão. Já eram 11:33hrs. OH CÉUS
Meu pai e o médico conversaram durante um tempo. Eu apenas observava o Marcos. Ele passava uma paz e foi muito fofo ao trazer as flores. Havia algo entre as flores, mas antes que eu pudesse ver...
- Cuide-se, srta. Camila. Espero que fique bem! - ele beijou minha mão, despediu-se de meu pai. Antes de sair, ele voltou a dirigir-se a mim - Espero que possa te ver em breve... - piscou e sorriu.
Sorri e assenti com a cabeça. O que tinha dentro das flores? Um cartão com o seu telefone.
Recebi alta.
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P.S. Trechos em itálico indicarão pensamentos, tá? Fonte da imagem: Pinterest
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E se...
RomanceCamila, acaba de perder a mãe e ainda não sabe como tocará a vida com seu pai, que sofre com a perda da esposa. Um encontro inusitado pode ser sua chance de recomeço. Seu único problema: insegurança. Se gostar, compartilha com sua galera e não esque...