Relembrando o passado

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Mais uma semana se passou até o próximo sábado chegar e o clube ser aberto. Marquesa chegou antes das oito horas da manhã, preferiu aproveitar sozinha o sol, que ainda estava no início naquela manhã; ela deitou na espreguiçadeira e relaxou. Um eclipse solar bloqueou sua vista, então tirou os óculos para se deparar novamente com Ian.

- Já está aqui tão cedo? - ela averiguou se havia somente os dois ali.

- Posso me sentar ao seu lado?

- Fique à vontade.

Ian sentou-se em outra espreguiçadeira, no lado esquerdo de Marquesa. Ele colocou os braços atrás da cabeça e não disse mais nada, deixando à Marquesa, a missão de interromper o silêncio.

Os dois ficaram ali, parados e tranquilos sem nenhuma palavra proferida.

- Os senhores desejam beber alguma coisa? - perguntou uma garçonete do quiosque de bebidas naturais.

- Não, obrigada - disse Marquesa.

Ian aceitou e pediu uma limonada.

- Não vai conversar comigo? - insistiu Ian.

- O que você quer? Fale logo, Ian. Eu estou aqui, aproveitando o sol.

- Deseja conversar sobre o passado?

- Eu já falei que o passado é irrelevante para meu presente e futuro, por favor, vamos ser amigos e felizes.

Ian sorriu e concordou, logo, chegaram mais pessoas, nesse caso, o pai de Marquesa, um homem ainda muito jovem e bonito, acompanhado por uma moça.

- Seu pai está namorando? - perguntou Ian, olhando para os dois, que estavam alterados por causa do álcool.

- O quê? - Marquesa tirou os óculos e focou no casal que adentrava, agarrados e rindo.

- Filha? Está aqui tão cedo - surpreendeu Graciliano, tentando disfarçar.

- Ah, pai! Fala sério! Está saindo com essa menina?

- Acha que estou velho? - retrucou Graciliano, inconformado.

- Não! Mas o senhor só sabe sair com as minhas amigas, mas vejo que decidiu sair com as inimigas.

- Inimiga? Você me vê como inimiga? Poxa vida, não dá para esquecer, colega? Veja bem, eu estava brava contigo, porque eu a vi olhando demais para o Ricardo, que era meu noivo da época.

- Quem estava interessada no Ricardo era a Orlanda, sua jumenta!

- Jumenta? O quê? Olha aqui!

- Cala a boca! Você jogou aquela água sanitária no meu vestido propositalmente! Além de ter me empurrado na piscina, acha que eu me esqueci?

- Eu estava bêbada.

- Percebe-se! Ainda bem que na época você tinha dezoito anos, senão, meu pai teria problemas com a justiça. E agora anda com ele, porque não passa de uma interesseira! E não estou chamando o senhor de velho, mas essa garota não é flor que se cheire.

- Vamos se falando aos poucos, querido - disse a mulher, beijando a boca do pai de Marquesa e se distanciando aos tropeços.

Incomodado ao ver sua filha ao lado de Ian, Graciliano apressou o jovem a se retirar.

- Quero falar com minha filha, garanhão!

- Só estávamos conversando, não pense besteira - Ian compreendeu o que Graciliano pensava, portanto adiantou-se a se explicar.

- Eu não estou pensando nada, garoto. Por favor, deixe-me a sós com minha filha.

Ian consentiu e pegou suas coisas para se retirar em direção ao vestiário.

- Não mude de assunto, pai - cortou Marquesa, não querendo mudar do assunto principal.

- Não quero você com esse garoto, entendido? Desde que ele chegou, só fica trocando de mulher igual troca de roupa.

- Eu sei, pai. E o senhor? vai continuar saindo com aquela menina?

- Não interessa - disse Graciliano, agachando-se na beira da piscina e lavando o rosto da ressaca.

- Se o senhor não permite que eu o aconselhe, então não tente intervir na minha vida.

- Sua teimosa! Eu sou seu pai! - esbravejou, levantando-se com dificuldade.

- Eu sou maior de idade há muito tempo, aliás! E sabe muito bem que minha avó foi minha mãe e pai.

- De novo esse assunto? Porque não para de apertar na mesma tecla?

- Onde está minha mãe?

- Eu não sei.

A mãe de Marquesa não era casada com Graciliano, pelo contrário, os dois muito jovens na época, ficaram juntos por um tempo, e a mulher era casada com um homem de descendência asiática. Entretanto, Graciliano e a mulher ficaram nos Estados Unidos durante um ano, e ao descobrir a gravidez, a mulher decidiu entregar a menina para o pai, pois tinha medo do marido se separar dela ao voltar para a Coreia do Sul. Marquesa sabia dessa história, mas ainda guardava uma certa curiosidade pela sua mãe.

- Vocês estão discutindo novamente? - apareceu a mãe de Graciliano, uma senhora com seus mais de oitenta anos, mas um rosto jovial e uma personalidade impactante, ou seja, doa a quem doer, ela diria a verdade em quem fosse.

- É o pai que vem querer decidir sobre minha vida.

- Ele está certo, ele é seu pai - reafirmou Selénia, avó de Marquesa -, ele quer o melhor para você.

- A senhora é a única que pode falar por ele, eu só vou obedecer o que a senhora decidir, acho que exagerei - riu Marquesa, pedindo para sua avó não se precipitar.

- Eu só estou querendo proteger nossa filha, mãe - disse Graciliano, abraçando sua mãe e beijando sua cabeça -, Ian, o filho de Lauro está de volta e vai trabalhar no clube e ele não consegue parar com uma menina.

- Pai, você não tem moral para dizer nada - contestou Marquesa.

- Vai defender aquele cara? - Graciliano alteava a voz.

- Não estou defendendo ninguém, mas se eu quiser ficar com Ian, o senhor terá de aceitar minha decisão.

Irritada, Marquesa se afastou, indo para o casarão.

- Está vendo? Você deixou ela crescer para fazer seu papel de pai, agora não reclame - desabafou Selénia.

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