"Não, eu não tenho segredos não
Mas tenho meu império interior
Meu mundo solitário..."
- Você não presta, Mallu Magalhães
Sempre sentia um frio na espinha quando Bea passava. Bea era fria.
Ela chegou ali com dezenove anos, era estudante de Biologia e aparentava ser muito inteligente. Passou a residir no apartamento 102 da Ala B. Nunca tivemos nenhum diálogo além de meros cumprimentos, sempre acompanhei o dia a dia dela de longe.
Ela saía todas as manhãs de cara fechada, era difícil ela dizer bom dia, segundo Charlotte ela só dava bom dia nos dias em que aplicava provas, tipo naqueles filmes que passa repetidas vezes na TV. No final da tarde quando retornava nem percebia que eu estava ali, mas eu acho que era por que estava exausta, embora á controversas.
Ela era tão cinza em dias coloridos e sempre queria ser o sol nos dias cinzas, mas esse não era seu posto. Ela queria aparentar ser algo que não era e isso dava para perceber de longe. Não tinha medo de falar e se isso magoasse alguém ela não se sentia culpada, afinal queria fazer as pessoas fortes.
Bea teve um único namorado ao longo dos seis anos em que morou ali, John, ele era um garoto sorridente e muito sociável, mas simplesmente não deu certo.
John terminou com ela, ele não aguentou mais, o amor aguenta tudo, mas John deixou claro o porque o amor por ela não aguentou:
- Gelo, ela tem uma pedra dentro de si, não suporta ser contrariada, tentei a descongelar, mas simplesmente não dá, ela não dá abertura.- disse triste, ele realmente amava ela.
Depois que os dois terminaram achei que ela fosse entrar numa "Bad" como Char fala, algo como estar na fossa, mas não ela estava como sempre, passei a me perguntar o motivo dela ser assim.
Ela foi criada em uma fazenda, seus pais tem uma união estável até os dias de hoje, teve uma boa educação, assim como suas duas outras irmãs que em breve visitas se demonstravam totalmente ao contrário da caçula.
Por dois anos seguintes tentei conhecer mais dela, mas foi impossível, ela não demonstrava reações, acabei montando um quebra cabeça sem sentido algum.
Ela era um mistério.
No final do seu sexto ano ali ela foi embora, não disse adeus a ninguém, apenas foi.
Não tive notícias de Bea por anos, muitos sempre me questionaram o porque de eu me importar com as garotas que moraram e moram aqui, é simples, todas são como minhas filhas, é como se eu tivesse que aconselhar e ajudar cada uma delas.
Claro esse prédio é repletos de rapazes, mas todos são fortes e independentes.
Bea é como se fosse a minha filha mais independente.
Hoje pela manhã recebi notícias dela, Thomas o morador novo que me falou que uma antiga moradora havia sugerido o St. Louis, a antiga professora de Biologia dele, Bea.
Perguntei como ela ia e ele me falou, que foi ela quem aplicou as provas mais difíceis e que ela não aceitava trabalhos mal feitos, foi por isso que ele decidiu fazer Biologia.
Também me contou que Bea não havia se casado e passava seu tempo na escola e cuidando da fazenda de seus pais, eu já sabia que ela e John não haviam reatado, encontrei ele numa peça em que fui assistir ele estava acompanhado da esposa e de seus dois filhos, mas segundo Thomas ela não era fechada, mas sim muito feliz.
Não sei o como Bea se sentiu nos mais diferentes momentos da sua vida, mas espero que ela tenha sido e seja muito feliz, Bea sempre será a minha moradora mais fria.
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As garotas do Saint Louis
Cerita PendekA vida das garotas que vivem e já viveram no prédio Saint Louis, localizado na movimentada Nova York, relatadas pelo adorável porteiro Sr. Rodriguez.